A Santa Sé publicou na sexta-feira a lista completa dos participantes da assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade, que ocorrerá de 4 a 29 de outubro no Vaticano.

Quase um terço dos 364 delegados votantes na 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos foram escolhidos diretamente pelo papa Francisco, incluindo o padre jesuíta americano James Martin, um defensor da pauta LGBTQ, o ex-prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Ludwig Müller, conservador que desde 2017 não tem cargo, e o cardeal Blase Cupich, de Chicago, um dos mais fieis aliados do papa Francisco nos EUA.

Pela primeira vez, os leigos serão membros plenos, com direito a voto em um documento final do processo em outubro de 2024.

Durante a assembleia de quase um mês no Vaticano, os delegados discutirão questões colocadas no recém-lançado Instrumentum laboris, que cobre tópicos polêmicos como ordenação de mulheres diáconas, fim do celibato sacerdotal, alcance LGBTQ e destaca o desejo de novos órgãos institucionais para permitir uma maior participação na tomada de decisões pelo “Povo de Deus”.

Um dos participantes brasileiros do sínodo, o arcebispo metropolitano de Manaus (AM), dom Leonardo Ulrich Steiner, disse em entrevista ao portal católico suíço Kath.ch no ano passado que “haverá uma maneira” de ordenar homens casados, os chamados «viri probati» (homens provados), mesmo depois de o papa não acolher o pedido do Sínodo da Amazônia de suspender o celibato sacerdotal.

Além de Steiner, participarão do sínodo o cardeal João Braz de Aviz, prefeito do dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica, por ser membro da Cúria Romana.

O arcebispo de Salvador (BA), Cardeal Sérgio da Rocha, e membro do Conselho de Cardeais, e o arcebispo de Porto Alegre (RS), dom Jaime Spengler, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino Americano (CELAM).

O arcebispo emérito de Mariana (MG) dom Geraldo Lyrio da Rocha, o bispo-auxiliar do rio de Janeiro (RJ) Joel Portella Amado, ex-secretário-geral da CNBB, o bispo de Santo André (SP), dom Pedro Carlos Cipollini, e o bispo de Camaçari (BA), dom Dirceu de Oliveira Medeiros, além de dom Steiner, entram na lista como representantes escolhidos pela CNBB.

As leigas Maria dos Anjos da Conceição, da Caritas Brasileira, e Sonia Gomes de Oliveira, presidente do Conselho Nacional do Laicato do Brasil (CNLB), órgão da CNBB, também integram a lista de participantes.

Entre os especialistas e facilitadores, que não votam, estarão o padre jesuíta Adelson Araújo dos Santos, que participou do Sínodo da Amazônia, o padre Agenor Brighenti e padre Miguel Martin, também jesuíta.

O texto de 50 páginas do Instrumentum laboris também delineia um “método sinodal” de espiritualidade focado na escuta do Espírito Santo e “discernir os sinais dos tempos” e pede novos programas de formação para treinar candidatos ao ministério ordenado “em estilo e mentalidade sinodal.”

Os bispos alemães que participaram da assembleia incluem o, o bispo de Limburg Georg Bätzing, presidente da Conferência dos Bispos Alemães (DBK) e presidente do Caminho Sinodal Alemão, o bispo de Essen Franz-Joseph Overbeck, e o bispo de Augsburg, Bertram Johannes Meier, escolhidos pela DBK. O papa escolheu o bispo Felix Genn de Münster e o bispo Stefan Oster de Passau, bem como o cardeal Mueller. Oster é um dos quatro bispos alemães que bloquearam o financiamento da próxima etapa do controverso Caminho Sinodal Alemão.

Mais de 50 mulheres participarão como membros votantes do sínodo. Entre eles está a irmã nicaraguense Xiskya Valladares, conhecida como a freira tuitadora, professora e jornalista radicada na Espanha e cofundadora da iMision, uma organização que busca apoiar a presença da Igreja no mundo digital.

Entre os delegados leigos selecionados pelo papa estão os americanos Cynthia Bailey Manns, diretora de educação de adultos da Comunidade Católica St. Joan of Arc em Minneapolis, Minnesota, e Wyatt Olivas, um jovem músico adulto de Cheyenne, Wyoming. Os delegados leigos da Europa incluem Enrique Alarcón Garcia, presidente da Fraternidade Cristã de Pessoas com Deficiência, com sede na Espanha.

O cardeal Marc Ouellet, o cardeal Luis Ladaria Ferrer, SJ, e o cardeal Óscar Rodríguez Maradiaga estão entre os cardeais indicados pelo papa para participar da assembleia sinodal. Também participarão o cardeal Charles Muang Bo de Yangon, o bispo Stephen Chow de Hong Kong e o arcebispo Anthony Fisher de Sydney.

O Superior Geral Jesuíta Arturo Sosa e a Irmã Elizabeth Mary Davis, R.S.M. estão entre os delegados que representam as ordens religiosas.

O venezuelano Sosa declarou, ao defender a comunhão para divorciados em nova união, em 2017 que é preciso pensar sobre “o que Jesus realmente disse”, porque o Evangelho “é relativo” por ter sido escrito e aceito por seres humanos.

O padre Timothy Radcliffe, OP, proeminente teólogo britânico que atraiu críticas por suas declarações sobre a homossexualidade, é listado como assistente espiritual, uma posição sem direito a voto no Sínodo sobre a Sinodalidade. Radcliffe, que serviu como mestre da Ordem dos Pregadores de 1992 a 2001, também conduzirá um retiro de três dias para todos os participantes do sínodo antes da assembleia.

Em uma mudança em relação aos sínodos recentes, o papa Francisco dividiu a assembleia geral em duas sessões, uma a ser realizada em outubro de 2023 e a segunda em outubro de 2024.

Segundo o cardeal Mario Grech, chefe do escritório sinodal da Santa Sé, as conclusões serão votadas somente após a segunda sessão em 2024. Ao final da primeira sessão deste ano, a liderança sinodal proporá aos participantes algumas ideias sobre o que fazer em entre as duas sessões.

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O Sínodo da Igreja Católica sobre a sinodalidade está em andamento desde outubro de 2021. Ao final do processo, em 2024, os participantes da assembleia sinodal votarão um documento final consultivo que será apresentado ao papa, que poderá decidir, se desejar, adotar o texto como um documento papal ou escrever o seu próprio na conclusão do sínodo.

O Papa Francisco disse que vê o Espírito Santo como “o coração da sinodalidade”.

“O Sínodo que agora se realiza é – e deve ser – um caminho segundo o Espírito, não um parlamento para reclamar direitos e reclamar necessidades segundo a agenda do mundo, nem uma ocasião para seguir onde quer que sopre o vento, mas a oportunidade de ser dócil ao sopro do Espírito Santo”, disse o Papa.

Jonathan Liedl do National Catholic Register, Andrea Gagliarducci da CNA, AC Wimmer da CNA Deutsch, o correspondente da EWTN em Roma Rudolf Gehrig, Rachel Thomas e Natália Zimbrão, da ACI Digital, contribuíram para a matéria.

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