O papa Francisco recebeu hoje (23) cerca de 200 pintores, escultores, arquitetos, escritores, poetas, músicos, diretores e atores na Capela Sistina por ocasião dos 50 anos da inauguração da Coleção de Arte Moderna e Contemporânea dos Museus Vaticanos.

Em seu discurso, o papa disse: “você são aliados do sonho de Deus”, porque com seus “talentos trazem à luz algo excepcional” e “enriquecem o mundo com algo novo”.

“Pode-se dizer que a criatividade do artista compartilha a paixão de Deus pela criação, a paixão com que ele criou”, destacou.

Segundo o papa, é no encontro com a arte que “as fronteiras se tornam mais fluidas e os limites da nossa experiência e compreensão se ampliam”. “Tudo parece mais aberto e acessível. Experimentamos a espontaneidade da criança cheia de imaginação e a intuição do visionário que capta a realidade”.

Ao "dar rédea solta originalidade, novidade e criatividade", o artista "traz algo de novo ao mundo" e "expõe a mentira de que o homem é um 'ser para a morte'", recordou o papa.

"Certamente devemos enfrentar nossa mortalidade, mas não somos seres para a morte, mas para a vida", disse ele.

O papa também disse que artistas têm a capacidade de “inventar novas versões do mundo”. “Vocês são um pouco como os profetas. Sabem olhar as coisas seja em profundidade, seja em amplitude”.

“Ao fazê-lo, são chamados a rejeitar o encanto dessa beleza artificial e superficial, tão popular hoje e muitas vezes cúmplice dos mecanismos econômicos que geram desigualdade. Não é uma beleza que atrai, mas aquela que nasce morta, sem vida”, refletiu.

Francisco reconheceu nos artistas sua intenção de convidar as pessoas a pensar e "estar alerta".

“Eles querem revelar a realidade também em suas contradições e naquelas coisas que é mais confortável e conveniente manter escondidas. Como os profetas bíblicos, somos confrontados com coisas às vezes desconfortáveis; criticam os falsos mitos e os novos ídolos de hoje, os discursos banais, as armadilhas do consumo, as artimanhas do poder”, disse.

Ele também disse que os artistas, "como videntes, homens e mulheres de discernimento, com consciência crítica", são seus aliados em tantas coisas "como a defesa da vida humana, a justiça social, a preocupação pelos pobres, o cuidado da casa comum, a fraternidade humana universal”.

“A arte jamais pode ser um anestésico; dá paz, mas não adormece as consciências, as mantêm vigilantes. Muitas vezes, como artistas, eles tentam sondar as profundezas da condição humana, seus abismos sombrios", lembrou. “Ao mesmo tempo é necessário deixar brilhar a luz da esperança naquela escuridão, em meio ao nosso egoísmo e indiferença”.

Em outro momento, o papa Francisco reconheceu que estava feliz por ter a oportunidade de compartilhar este tempo, “porque a Igreja sempre teve uma relação com os artistas que pode ser descrita como natural e especial”.

Ele também aproveitou o momento para pedir que nunca se esqueçam dos pobres, “que estão mais próximos do coração de Cristo, os afetados por todas as formas de pobreza hoje”.

“Também os pobres necessitam de arte e de beleza. Alguns experimentam formas duras de privação da vida e, por isso, necessitam ainda mais de arte. Normalmente não têm voz e vocês podem ser intérpretes de seu grito silencioso", disse ele.

Por último, agradeceu a visita e reiterou a sua estima por eles e pelo seu trabalho.

“Espero e rezo para que suas obras sejam dignas das mulheres e dos homens desta terra e deem glória a Deus, que é o Pai de todos e que todos buscam, inclusive por meio da arte. E, finalmente, peço a vocês, por favor, em harmonia, que rezem por mim", concluiu.

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