O papa Francisco convidou a aplicar o “bálsamo da ternura nas relações gangrenadas tanto entre as pessoas como entre os povos”. "Nunca nos cansemos de gritar ‘não à guerra’, em nome de Deus ou em nome de todo o homem e mulher que aspiram à paz", escreveu o papa no discurso lido em um ato sobre a fraternidade humana transmitido ao vivo, patrocinada pela Fundação Fratelli Tutti e celebrado na Praça São Pedro, ontem (10)

 

A presença do papa Francisco no evento estava prevista, antes da internação dele no Hospital Gemelli, em Roma, na quarta-feira (7), para uma cirurgia abdominal. 

 

"Embora não possa acolher-vos pessoalmente, quero dar-vos as boas-vindas e agradecer cordialmente por terdes vindo. É com alegria que me uno a vós para professar este desejo de fraternidade e paz em prol da vida do mundo”, escreveu o papa Francisco na mensagem, lida pelo arcipreste da basílica de São Pedro e presidente da Fundação Fratelli Tutti, cardeal Mauro Gambetti.

 

"Na Encíclica Fratelli tutti, escrevi que a fraternidade ‘tem algo de positivo a oferecer à liberdade e à igualdade’, porque quem vê um irmão, vê no outro um rosto, não um número: é sempre «alguém» que tem dignidade e merece respeito, não «algo» a ser usado, explorado ou descartado”, disse o papa.

 

O ato que aconteceu ontem, chamado de “#NotAlone” (Não sozinho), concentrou-se na assinatura de uma declaração sobre a fraternidade humana redigida por uma dúzia de laureados com o Prêmio Nobel da Paz, juntamente com representantes de organizações de ex-laureados com o Nobel.

 

A reconciliação é alcançada no conflito

 

“Unidos ao papa Francisco, queremos reafirmar que 'a verdadeira reconciliação não escapa do conflito, mas alcança-se dentro do conflito, superando-o através do diálogo e de negociações transparentes, sinceras e pacientes' (Fratelli Tutti, n. 244). Isso no contexto da da arquitetura dos direitos humanos", diz a declaração.

 

O secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, assinou o documento no lugar do papa Francisco.

 

"Queremos gritar ao mundo em nome da fraternidade: Não mais a guerra! É a paz, a justiça, a igualdade a guiar o destino de toda a humanidade. Não ao medo, não à violência sexual e doméstica! Cessem os conflitos armados. Digamos basta às armas nucleares e às minas terrestres", diz a declaração.

 

"Basta de migrações forçadas, limpeza étnica, ditaduras, corrupção e escravidão. Paremos com a manipulação da tecnologia e da Inteligência Artifical, vamos antepor e permear de fraternidade o desenvolvimento tecnológico", acrescentam os líderes reunidos no Vaticano.

 

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Jovens da Ucrânia e da Rússia se abraçam na Praça de São Pedro

 

Após a assinatura do documento, jovens representantes de todo o mundo deram as mãos na Praça de São Pedro para fazer do abraço da colunata de Bernini um símbolo concreto de fraternidade. Dois jovens, um ucraniano e um russo, apertaram as mãos para expressar o desejo de paz para toda a humanidade.

 

O ato de seis horas incluiu discursos, depoimentos e apresentações de artistas e cantores italianos, incluindo o vencedor do Grammy, Andrea Bocelli, e artistas de circo.

 

Os laureados com o Nobel presentes incluíram a defensora dos direitos humanos iraquiana Nadia Murad, o ginecologista congolês Denis Mukwege e o líder da Primavera Árabe do Iêmen, Tawakkol Karman.

 

Também participaram os ex-presidentes da Colômbia e Costa Rica, Juan Manuel Santos e Óscar Arias Sánchez, e o ex-presidente da República Democrática de Timor-Leste, todos premiados com o Prêmio da Paz, além de representantes de vários organismos da ONU que o receberam no passado.

 

Inviolabilidade da dignidade humana

 

“No nosso mundo dilacerado pela violência e a guerra, não bastam meros retoques e ajustamentos; só uma grande aliança espiritual e social, que nasça dos corações e se mova ao redor da fraternidade, pode fazer voltar ao centro das relações a sacralidade e a inviolabilidade da dignidade humana”, disse o papa Francisco em sua mensagem.

 

“Por isso, a fraternidade não tem necessidade de teorias, mas de gestos concretos e opções compartilhadas que a tornem cultura de paz", continuou. "Não devemos perguntar-nos que me podem dar a mim a sociedade e o mundo, mas que posso eu dar aos meus irmãos e irmãs.".

 

“Ao regressar a casa, pensemos no gesto concreto de fraternidade que havemos de fazer: reconciliar-nos em família, com os amigos ou vizinhos, rezar por quem nos fez mal, identificar e socorrer quem passa necessidade, oferecer uma palavra de paz na escola, na universidade ou na vida social, ungir de proximidade alguém que se sinta só", escreveu o papa Francisco.

 

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