O lema da viagem do papa Francisco à Hungria é “Cristo é o nosso futuro”, e a visita do papa ao país significa que a presença de Cristo é a esperança pela qual vivem os cristãos, especialmente na Europa Central e do Leste.

O arcebispo de Esztergom-Budapeste, cardeal Peter Erdő, deu uma entrevista ao grupo ACI, na véspera da viagem do papa à Hungria.

O papa Francisco chegou hoje (28) a Budapeste para a sua 41ª visita apostólica. Ele ficará até o domingo (30).

Na entrevista ao grupo ACI, o cardeal Peter Erdő falou sobre o significado e os temas da visita do papa, falou sobre a importância da experiência da Igreja na Europa Central e do Leste para compreender a situação atual da comunidade eclesial e a marginalização da religião no mundo, e destacou os novos desafios que surgiram com as ondas de secularização.

O cardeal também destacou a peculiaridade de a Hungria ser um “país-ponte” devido à sua história, que se entende como um país ocidental graças ao vínculo que o santo Rei Estêvão estabeleceu com a Santa Sé.

O significado da visita do papa Francisco

“Em nossa opinião – disse o cardeal Erdő – a visita do papa fortalecerá a nossa fé e nos dará muita esperança. Quando o papa faz uma visita apostólica, os fiéis sentem o próprio Jesus Cristo em sua pessoa, porque encontramos Cristo nos sacramentos, nos pobres, mas de modo especial no Vigário de Cristo, e o mundo precisa de esperança, de futuro”.

Sobre o lema da viagem papal, o arcebispo de Budapeste disse que esta é a realidade dos cristãos, porque “Cristo sempre foi revolucionário, também em sua época. A fé é sempre uma atitude revolucionária”.

A afirmação de que "Cristo é o nosso futuro" é ainda mais significativa para os cristãos da Europa Central e do Leste, que passaram por uma era comunista, continua o cardeal, acrescentando que eles sempre souberam que "é claro que ser crente sempre foi uma decisão não conformista”.

“Somos, por natureza, não conformistas, somos filhos não conformistas. Já vivemos momentos em que os meios de comunicação de massa nos diziam que a religião era obsoleta e que a ciência afirmava que estava provado que a religião não podia ser verdade”.

O legado do Congresso Eucarístico Internacional

O papa Francisco esteve em Budapeste em setembro de 2021 para celebrar a missa de encerramento do Congresso Eucarístico Internacional. Esta experiência, que exigiu uma preparação muito longa por causa do surgimento da pandemia, teve um impacto muito positivo na Hungria, disse o cardeal Erdő.

Em particular, diz, “os programas que tiveram mais sucesso durante o congresso ainda continuam, como as adorações musicais com jovens, que reúnem milhares e milhares de jovens todos os anos”.

“Foram estabelecidas redes católicas de aconselhamento e ajuda para situações familiares, para casais, para a educação dos filhos, para os idosos, para os doentes e para os desempregados”, continuou o cardeal.

A experiência do Congresso Eucarístico Internacional deixou “claro que os católicos podem se encontrar e se ajudar. É um passo para uma Igreja que não é apenas uma comunidade litúrgica, mas que se estende à vida”.

A Hungria como um “país-ponte”

Na apresentação da viagem, Matteo Bruni, diretor da sala de imprensa da Santa Sé, disse que a Hungria é um "país-ponte". O cardeal Erdő diz que “sempre foi nossa vocação ser um 'país-ponte'. O Danúbio que atravessa a cidade de Budapeste era a fronteira do Império Romano, a fronteira do Império de Carlos Magno, era a província mais setentrional do Império Otomano”.

“A Hungria entendeu a si mesma como parte do mundo ocidental por mil anos e entrou na Santa Sé com nosso rei, santo Estêvão. Por isso, nossa relação com o pontificado e com o papa tem um valor simbólico também para a nação, não apenas para os católicos”.

A composição religiosa da Hungria é variada, embora, na Igreja Católica, o rito latino é maioria. No entanto, 5% dos católicos do país são de rito bizantino, há entre 15% e 17% calvinistas, 3% luteranos e há uma importante comunidade judaica. Em Budapeste também existem várias igrejas ortodoxas antigas e igrejas pré-calcedônias.

A cidade é sede de um bispo da Igreja Ortodoxa Copta, e também há armênios apostólicos. Budapeste também é território de pelo menos cinco patriarcados ortodoxos: Constantinopla, Moscou, Bucareste, Belgrado e Sofia.

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O cardeal Erdő diz que “a nossa tarefa a nível ecumênico não é regatear sobre princípios dogmáticos, mas sim procurar posições comuns e ações cotidianas a nível social e moral. Há temas que encontram um notável consenso. Esses temas são a dignidade da vida humana, a valorização da família, a justiça social, a defesa dos mais fracos, e diria também a relação entre religião e vida pública, a autonomia ou independência da soberania da Igreja; aqui também há concordância ou pontos de consenso”.

O impacto da cultura católica

Nesta visita, o papa Francisco incluiu um encontro com o mundo da cultura na Universidade Católica Pázmány Péter, no dia 30 de abril. Será o último evento da viagem e é importante porque, como diz o arcebispo de Budapeste, "um dos maiores desafios para a Igreja católica na Hungria é a juventude. Nas últimas décadas, vimos a restituição de muitas escolas que antes eram católicas, e depois conseguimos assumir a direção de outras escolas a pedido da maioria dos pais. Por isso, entre 15% e 17% das escolas do país estão sob direção católica”.

O cardeal acrescenta que “a Universidade Católica nasceu da necessidade de derrubar o muro entre a fé e a ciência. É um muro artificial, mas está presente. Os religiosos não podiam entrar na ciência, o que aconteceu durante todo o período comunista. Mesmo na nossa Constituição estava escrito que a força motriz da sociedade era o Partido Marxista-Leninista da classe operária. Consequentemente, os não-Marxistas-Leninistas tinham menos acesso. Portanto, era necessário retomar o diálogo entre a fé e a cultura, e entre a fé e a ciência, e para isso era necessário criar uma instituição. Há apenas trinta anos, fundamos uma universidade católica que mais tarde também recebeu a acta de fundação da Santa Sé”.

Em particular, o papa Francisco será um convidado da Faculdade de Informação Tecnológica de Biônica. Trata-se, diz Erdő, de uma escolha importante, porque "a fé cristã é uma visão do mundo, e a visão do mundo pressupõe uma imagem do mundo, do universo, da totalidade da realidade em que vivemos, e as ciências naturais podem oferecer uma grande ajuda para que a cultura católica esteja em relação viva com o conhecimento geral da humanidade. Portanto, a tarefa é grande”.

O renascimento dos salões paroquiais

Sobre a cultura católica no país europeu, o cardeal disse que “na Hungria hoje se pode professar publicamente a fé; isso é claro. Outra questão é que pode haver ambientes mais caracterizados por outras visões do mundo, mas também há revistas, programas de rádio e televisão e centros culturais católicos ou cristãos".

"Na Hungria", acrescentou, "estamos experimentando o renascimento dos salões paroquiais. Sob o comunismo, tudo foi confiscado, exceto os edifícios da igreja, e como resultado os fiéis não tinham ocasião de se reunir fora da liturgia. Agora, há salões paroquiais e culturais nas paróquias. Há programas culturais e as vezes com participação muito alta”.

A religião como parte da identidade nacional

Falando em reavivamento, cerca de 3 mil igrejas foram reconstruídas ou restauradas nos últimos anos, não apenas as católicas. É um dado que faz pensar.

O arcebispo de Budapeste fala que esta reconstrução foi necessária. Isto deve-se ao fato de "66% das paróquias estarem sob patronato após a guerra. No entanto, os patronatos foram extintos porque as administrações municipais declararam que não reconheciam este dever. Desta forma, nem mesmo a Igreja tinha os meios para a manutenção, nem outros pagavam essas despesas. A manutenção era necessária e a ajuda do estado era importante."

A ajuda do Estado na reconstrução de igrejas também ocorreu em outros países do outro lado da Cortina de Ferro. Mais uma vez, o cardeal cita o exemplo da Romênia, onde “o Estado financiou muitos edifícios religiosos”.

“O renascimento pós-comunista – comenta – trouxe consigo também o compromisso de reavivar o patrimônio cultural e moral das várias nações. Após o colapso do sistema marxista, permaneceu um vácuo moral e cultural que era um perigo para a sociedade”.

O impacto da secularização

Estas são palavras que sugerem um impacto da secularização, que não é ainda tão forte nos países da Europa Central e do Leste. No entanto, para Erdő, "dois processos semelhantes ocorrem na direção oposta".

O primeiro é “a secularização geral, ligada ao consumismo, que não entrou na sociedade gradualmente como no Ocidente, mas houve uma ruptura no início da era comunista. Esse tipo de secularização se expressa hoje como desinteresse, distração e agnosticismo. Depois há um outro processo dado pelo renascimento de algumas estruturas, que nasce também desta necessidade de dar sentido à vida e à moral da comunidade. São dois processos que o ministério da Igreja deve ter em conta”.

Finalmente, o cardeal falou da percepção errada que os meios de comunicação têm da Hungria.

Afinal, o que é a Hungria?

"Você tem que vir e ver", responde ele. "Estamos vivendo aqui há quase 1.150 anos. Sempre temos a impressão de que não somos compreendidos. No entanto, os húngaros de 1.100 anos atrás já tinham uma ampla visão geográfica. Santo Estêvão fundou casas para peregrinos com igrejas e capelas em Roma, Ravena, Constantinopla e Jerusalém. Existem capelas húngaras em várias igrejas pelo mundo, começando pela basílica de São Pedro, mas também na Cracóvia, no Santuário Nacional de Washington. Esta presença mostra o desejo de ter essas relações de pertencimento e compreensão, sobretudo na fé. O húngaro é um cidadão do mundo, mas profundamente enraizado em sua história."

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