ROMA, 27 de jun de 2016 às 12:00
No voo que o levou de volta da Armênia para Roma, o Papa Francisco foi perguntado sobre recentes afirmações do Cardeal alemão Reinhard Marx, o qual disse que a Igreja Católica deve pedir desculpas à comunidade gay por ter marginalizado essas pessoas. O Pontífice afirmou que a Igreja não só deve lhes pedir desculpas, mas sim “perdão”, não só a eles como também a qualquer que possa ter se sentido dessa forma.
O Santo Padre respondeu de maneira semelhante à coletiva de imprensa que deu quando voltou do Rio de Janeiro a Roma depois de ter participado da Jornada Mundial da Juventude, em 2013.
Naquela ocasião, o Pontífice afirmou o seguinte: “Se uma pessoa for gay e busca o Senhor e está disposta a isso, quem sou eu para julgá-la? O Catecismo da Igreja Católica o explica de uma bela maneira. Diz que estas pessoas não devem ser marginalizadas por isso. Deverá integrá-las na sociedade. O problema não é ter esta tendência”.
Na coletiva de imprensa de ontem, o Papa repetiu o argumento e disse o seguinte: “Vou repetir o mesmo que eu disse na primeira viagem e repito também o que diz o Catecismo da Igreja Católica: que não devem ser discriminados, que devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente”.
A seguir, a pergunta e a resposta completa do Papa Francisco na coletiva de imprensa de ontem, durante o voo da Armênia a Roma.
Pergunta: Santidade, nos últimos dias, o Cardeal alemão Marx, falando durante uma grande conferência muito importante em Dublin sobre a Igreja no mundo moderno, disse que a Igreja Católica deve pedir desculpas à comunidade gay por ter marginalizado essas pessoas. Nos dias seguintes ao massacre de Orlando, muitos disseram que a comunidade cristã tem algo a ver com este ódio contra essas pessoas. O que o senhor acha disso?
Resposta: Vou repetir o mesmo que eu disse na primeira viagem e repito também o que diz o Catecismo da Igreja Católica: que não devem ser discriminados, que devem ser respeitados, acompanhados pastoralmente.
Se podem condenar, não por razões ideológicas, mas por motivos – digamos – de comportamento político, certas manifestações um pouco muito ofensivas para os outros. Mas essas coisas não têm nada a ver com o problema.
Se o problema for uma pessoa que tem essa condição, que tem boa vontade e que busca Deus, quem somos nós para julgá-la? Devemos acompanhar bem, de acordo com o que diz o Catecismo, o Catecismo é claro.
Depois, há tradições em alguns países, em algumas culturas que têm uma mentalidade diferente sobre este problema.
Eu creio que a Igreja não só deve pedir desculpas – como disse aquele cardeal “marxista”... [risos] – a essa pessoa que é gay, que ofendeu, mas também deve pedir desculpas aos pobres, às mulheres e às crianças exploradas no trabalho; deve pedir desculpas por ter abençoado tantas armas.
A Igreja deve pedir desculpas por não ter se comportado tantas e tantas vezes – e quando digo “Igreja” entendo os cristãos; a Igreja é santa, os pecadores somos nós! – os cristãos devem pedir desculpas por ter acompanhado tantas escolhas...
Lembro-me quando era criança da cultura de Buenos Aires, a cultura católica fechada: Eu venho de lá... em uma família divorciada não se podia entrar na casa: eu estou falando cerca de 80 anos atrás. A cultura mudou e graças a Deus, como cristãos, devemos pedir tantas desculpas, não só sobre isso: o perdão e não apenas desculpas! “Perdão Senhor”! É uma palavra que nos esquecemos.
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Isso é verdade! Muitas vezes o “padre patrão” e não o “padre pai”: o padre que bate e não o padre que abraça, perdoa, consola. Mas há muitos, muitos capelães de hospitais, capelães de prisioneiros: tantos santos, hein! Mas esses não são vistos, porque a santidade é “pudorosa” [tem pudor], está escondida.
Muitas organizações com pessoas boas e não tão boas: ou pessoas às quais você dá uma “bolsa” um pouco grande e olha para o outro lado, como as potências internacionais com os três genocídios.
Também nós, cristãos – sacerdotes, bispos – fizemos isso: mas nós cristãos temos também uma Teresa de Calcutá e muitas Teresas de Calcutá; temos muitas irmãs na África, muitos leigos, muitos matrimônios santos. O trigo e o joio; o trigo e o joio... não devemos nos escandalizar de sermos assim. Devemos rezar para que o Senhor possa fazer que esse joio acabe e que haja mais trigo.
Recordemos que todos nós somos pecadores. Eu por primeiro. De acordo? Obrigado. Eu não sei se respondi... não só desculpa, mas perdão!
O que o Catecismo diz sobre a homossexualidade
O ensinamento católico em relação à homossexualidade está resumido em três artigos do Catecismo da Igreja Católica; 2357, 2358 e 2359. Nestes artigos a Igreja ensina que:
Os homossexuais “devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Deve evitar, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta”.
A homossexualidade, como tendência é “objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles (os homossexuais) uma provação”.
Baseado na Sagrada Escritura “a Tradição sempre declarou que ‘os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados’, ‘não procedem de uma verdadeira complementariedade afetiva sexual’ e, portanto, ‘não podem, em caso algum, ser aprovados’”.
“As pessoas homossexuais são chamadas à castidade” e “mediante o apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã”.
Confira também:
Isto é o que diz o Papa Francisco sobre os homossexuais em novo livro https://t.co/odJ3ykaN99 pic.twitter.com/DMgDUYVbdu
— ACI Digital (@acidigital) 13 de janeiro de 2016