No final de abril, um grande escândalo de abuso sexual abalou a Igreja na Bolívia, depois que uma reportagem do jornal El País acusou o jesuíta Alfonso Pedrajas Moreno, morto em 2009, de ter cometido abusos contra menores durante seu ministério. Como resultado da investigação, vários casos de abusos na Companhia de Jesus e em outras congregações vieram à tona.

Na sexta-feira (19), Wilfredo Chávez, procurador-geral do Estado, informou em entrevista coletiva que até quinta-feira (18) havia 23 padres implicados em casos de abusos no país. Ele também disse que o órgão vai acompanhar cada processo instaurado no Ministério Público.

Desde que saiu à luz o caso Pedrajas, ao menos oito denúncias formais contra o clero foram apresentadas ao Ministério Público nos departamentos de La Paz, Cochabamba, Tarija e Santa Cruz.

A seguir, o que se sabe sobre cada caso:

Padre Alfonso Pedrajas Moreno

Em 2 de maio de 2023, a Companhia de Jesus admitiu e pediu desculpas pelos abusos cometidos pelo padre espanhol Alfonso Pedrajas contra mais de 80 menores nas décadas de 1970 e 1980. Cinco dos padres que eram provinciais na época dos abusos foram suspensos pela Congregação, além de outros três que ocuparam altos cargos após a morte de Pedrajas.

Os fatos foram divulgados a partir de uma investigação publicada pelo jornal El País, que diz que Pedrajas registrava os abusos em um diário pessoal. A investigação jornalística também reúne depoimentos de supostas vítimas e familiares.

Padre Luis Maria Roma Padrosa

Em 9 de maio, o ex-provincial jesuíta Osvaldo Chirveches apresentou uma denúncia ao Ministério Público contra o jesuíta espanhol Luis María Roma Padrosa por cometer crimes sexuais contra menores. Seis dias depois, o Ministério Público anunciou a formação de uma comissão para investigar o caso.

Embora o caso do padre Roma Padrosa tenha surgido em 2019 após uma investigação da Agência EFE, o padre morreu em agosto daquele ano, aos 84 anos, antes do fim da investigação interna iniciada pela Companhia de Jesus.

Dom Alejandro Mestre Decals

No mesmo dia da denúncia contra Roma, o padre Chirveches apresentou uma denúncia ao Ministério Público contra dom Alejandro Mestre, morto em 1988, que atuou como arcebispo coadjutor de La Paz e ex-secretário da Conferência Episcopal Boliviana.

Segundo o jornal El País, este bispo foi acusado “de abuso sexual de menores em 1961, quando era professor na escola São Calixto de La Paz”.

Padre Francesc Peris e padre Carlos Villamil

Na quarta-feira (17), os jesuítas bolivianos pediram às vítimas que formalizassem suas denúncias por suposto abuso sexual infantil contra os jesuítas Francesc Peris e Carlos Villamil Olea, que até o momento não foram processados ​​por falta de uma acusação formal.

Segundo a Companhia de Jesus, ambos “aparecem citados no âmbito das denúncias e investigações feitas no caso Pedrajas, conforme consta da documentação apresentada pela própria Companhia de Jesus perante o Ministério Público”.

Em 13 de maio, El País publicou outra matéria com oito depoimentos de vítimas que acusam Peris e Villamil, que teriam cometido os atos na década de 1980, quando trabalhavam no colégio João XXIII, em Cochabamba.

Padre Antonio Gausset Capdevila, padre Ramón Alaix e padre Marcos Recolons

Pedro Lima, que foi jesuíta entre 1992 e 2001, anunciou ontem (22) que comparecerá perante o Ministério Público de La Paz, como vítima, para denunciar os jesuítas Antonio Gausset Capdevila, Ramón Alaix e Marcos Recolons.

Lima alegou não só ter presenciado abusos, mas também ter sofrido abusos sexuais e de poder por parte destes padres. Em 7 de maio, o ex-jesuíta denunciou ao jornal El País que em 2001 foi expulso da Ordem pelo padre Alaix, após denunciar os abusos cometidos por Pedrajas e outros padres.

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O jesuíta Antonio Gausset Capdevila, morto em 24 de agosto de 2010, trabalhou em Sucre por quase 30 anos. Segundo as denúncias, ele abusou sexualmente de menores de uma zona rural e noviços da ordem. Os padres Marcos Recolons e Ramón Alaix continuam vivos e estão entre os oito jesuítas suspensos pela ordem após a eclosão do caso.

Padre Milton Murillo

Na sexta-feira (19), um tribunal do departamento boliviano de Tarija ordenou a prisão preventiva de três meses do padre carmelita Milton Murillo, acusado de cometer abusos sexuais contra um seminarista em 2014, quando era administrador da casa de formação em La Paz.

Segundo o denunciante, o padre Murillo os obrigava a deixar que ele fizesse supostos exames médicos. Quem se recusasse, disse o denunciante, estaria sujeito a represálias ou expulsão da comunidade. Estima-se que o padre Murillo abusou sexualmente de cerca de 30 pessoas.

Padre Eusébio Konkolewski

Por meio da página do Facebook da Companhia de Jesus na Bolívia, a cidadã Marina Córdova Alvéstegui denunciou publicamente ter sido tocada há 26 anos pelo franciscano polonês Eusebio Konkolewski, durante uma viagem escolar de trabalho social.

“Há quase 26 anos, o franciscano polonês Eusebio Konkolewski tocou nos seios de pelo menos duas alunas inacianas da turma Halcones 1997, no acampamento central de Bopi, onde ficamos como prêmio por nossa atuação no trabalho social do projeto Oscar”, denunciou.

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