“É verdade que o caminho traçado pela Igreja – aceitar o dom do sexo biológico e trabalhar para curar mental, emocional, somaticamente e espiritualmente a incongruência sentida – é árduo e atualmente contracultural. Mas é também um caminho glorioso, cheio de graça, no qual Jesus oferece uma plenitude e uma santidade cada vez mais profundas”, disse o arcebispo de Oklahoma City, EUA, dom Paul Coakley, em uma carta pastoral sobre disforia de gênero que publicou ontem (1º).

No início de sua carta "Sobre a unidade de corpo e alma: acompanhando aqueles que experimentam disforia de gênero", dom Coakley diz que o objetivo do documento "é fornecer orientação pastoral sobre como a Igreja, seus ministros e fiéis leigos podem acompanhar, caminhar com aqueles que lutam com sua identidade de gênero, especialmente aqueles que se identificam como transgêneros”.

“Seguindo o papa Francisco, eu distingo 'entre o que é o cuidado pastoral para as pessoas que [se identificam como transgênero] e o que é a ideologia [trans] de gênero'”, disse ele.

Ideologia de gênero é a militância política baseada na teoria de que a sexualidade humana independe do sexo e se manifesta em gêneros muito mais variados do que homem e mulher.

A ideia contraria a Escritura que diz, no livro do Gênesis 1, 27: “Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou. Homem e mulher Ele os criou”, na tradução oficial da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 369: “O homem e a mulher foram criados, quer dizer, foram queridos por Deus: em perfeita igualdade enquanto pessoas humanas, por um lado; mas, por outro, no seu respectivo ser de homem e de mulher. «Ser homem», «ser mulher» é uma realidade boa e querida por Deus: o homem e a mulher têm uma dignidade inamissível e que lhes vem imediatamente de Deus, seu Criador. O homem e a mulher são, com uma mesma dignidade, «à imagem de Deus». No seu «ser homem» e no seu «ser mulher», refletem a sabedoria e a bondade do Criador.

Em sua carta pastoral, o arcebispo Coakley diz que “o movimento transgênero culturalmente dominante tem uma compreensão da natureza e propósito radicalmente em desacordo com a compreensão católica da pessoa humana”.

Para ele, esse movimento de pessoas que se identificam com o sexo oposto "é, em suma, um mal que infecta nosso mundo neste tempo e lugar e deve ser rejeitado completamente, mesmo quando amamos incondicionalmente aqueles que são pegos em suas armadilhas".

Em sua carta, o arcebispo de Oklahoma City distingue o “movimento cultural e político transgênero” “das pessoas que, sofrendo de disforia de gênero, se identificam como transgênero”.

Para ele, “as pessoas que se identificam como transgênero são criadas por Deus, são amadas por Deus e nós, como cristãos fiéis, somos chamados a amar cada um deles como nosso próximo. Amar os outros significa basicamente querer e desejar o bem deles”, continua.

O arcebispo de Oklahoma City diz que “Jesus nos reafirma que existem dois sexos designados por Deus um para o outro. São João Paulo II chamou os sexos de "duas encarnações diferentes". Ou seja, duas formas diferentes, mas relacionadas, de ser humano”

“Embora só o corpo está sexuado, cada alma se adapta a um corpo em particular, por isso há um sentido no qual o corpo feminiza ou masculiniza a alma. E porque o corpo sexuado causa esse efeito em uma alma assexuada, os dois sempre se alinham."

Dom Coakley escreveu que “desde a Queda, o pecado de Adão e Eva no Jardim do Éden, nossa liberdade como seres humanos foi complicada e distorcida pelo pecado. Buscamos bens, incluindo identidades, que estão muito abaixo do nosso Bem supremo em Deus".

“Estes bens menores inevitavelmente nos deixam insatisfeitos”, diz. “Santo Agostinho capta com eloquência esta realidade: 'Tu nos fizeste para ti [Deus], ​​e nosso coração está inquieto até que descanse em ti'”.

“Não é difícil ver essa realidade ao nosso redor. Enchemos a nós mesmos e a nossa vida de trabalho, ânsias de poder, sexo, álcool, internet e barulho constante numa vã tentativa de amenizar a dor da nossa alma, ou como forma de atenuar a dor de não encontrar satisfação”, disse Coakley.

Segundo ele, “os pecados e as injustiças contra nós podem criar feridas que dificultam o reconhecimento do corpo como dom. Nossas próprias naturezas caídas exacerbam a falta de harmonia interna e externa que experimentamos de várias maneiras.”

“Esses fatores aumentam o desafio de reconhecer a bondade de nossos corpos e promovem a discórdia na unidade de corpo e alma”.

Dom Coakley falou sobre "aqueles que lutam contra a disforia de gênero, que é definida como 'sentimentos fortes e persistentes de identificação com outro gênero e desconforto com o próprio gênero e sexo [biológico]'".

“Que tremendo sofrimento deve ser sentir uma falta de congruência entre o sexo e o gênero! Devemos agir com leveza e muita compaixão enquanto buscamos a verdade relacionada a situações cheias de dor”, disse ele.

Segundo Coakley, “além de evitar toda injustiça, Jesus nos manda amar como fomos amados. Toda pessoa que se identifica como transgênero é amada por Deus e é uma pessoa que Jesus Cristo morreu para redimir”.

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“Amar como Cristo significa desejar o bem das pessoas em nossa vida e caminhar com elas, independentemente do seu grau de abertura ao bem”, disse.

“Devemos evitar os extremos: ignorar a dor da pessoa e afirmar dogmaticamente que o sexo biológico é o fim da conversa ou descartar a verdade do corpo com a falsa esperança de aliviar a dor”, disse ele.

“Uma resposta católica deve afirmar o sexo dado por Deus e reconhecer a luta da pessoa diante de nós”, disse.

“Requer ouvir com empatia, bem como estender o convite para receber o dom de Deus do corpo sexuado. Significa reconhecer que todos os desejos têm suas raízes em algo bom, incluindo o desejo de se identificar com o sexo oposto, que pode ser alimentado por uma ampla gama de coisas boas, como o desejo de beleza, o desejo de ser visto como pessoa e não ser objetificado, o desejo de buscar relacionamentos e atividades que não são culturalmente aceitáveis, mas parecem mais autênticos, o desejo de ser visto e conhecido, etc., mesmo que esses desejos possam estar mal direcionados”.

“Em última análise, significa convidar a pessoa que sofre a se entregar à verdade. Através de sua confiança em Jesus Cristo, podem receber a garantia de que, apesar dos desafios e da dor de alinhar o gênero com o sexo dado por Deus, isso será para sua felicidade, santidade e paz”.

“Como Igreja, queremos caminhar ao lado de vocês na luta contra a disforia de gênero, pois, como assinala são Paulo, 'se um membro sofre, todos sofrem juntos; se um membro é honrado, todos se regozijam juntos’. Queremos ajudá-los a conhecer o amor incondicional de Jesus e levá-los a vocês nos Sacramentos. Vocês fazem parte da Igreja, pertencem a este lugar e são verdadeiramente bem-vindos aqui. Oro para que o Senhor envie pessoas sábias e cheias de fé para suas vidas para acompanhá-los em suas lutas", disse ele.

Falando aos pais de menores que enfrentam esta situação, dom Coakley os encorajou a “considerar o aconselhamento católico”, pois “a disforia de gênero muitas vezes deriva da rejeição, trauma ou abandono, que devem ser enfrentados para uma cura genuína”.

“Embora os pronomes devam ser mantidos de acordo com o sexo biológico dado por Deus à criança, alguns pais descobriram que o uso de apelidos ou termos carinhosos (...) alivia um pouco a tensão relacional quando seus filhos querem nomes ou pronomes do sexo oposto”, disse ele.

“O amor incondicional requer limites e flexibilidade, e a compaixão enraizada na verdade do sexo biológico de seu filho é um bom guia enquanto você navega em um terreno difícil”, acrescentou ele.

“Também é importante que os pais busquem apoio e evitem o isolamento. Conversar com um amigo de confiança ou com o pároco pode ser útil para compartilhar seu fardo, assim como se voltar para Jesus por meio da oração e dos sacramentos”, disse ele.

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