Padre Antônio da Luz Miranda, da diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES), vai nos próximos dias em missão para Moçambique. O país africano enfrenta uma onda de violência e ataques a cristãos e de lá veio o atual bispo da diocese capixaba, dom Luiz Fernando Lisboa. “Sei que as dificuldades que vou encontrar são muitas. Não sei o que fazer, mas acredito que Deus vai me mostrar o que fazer, como fazer e com quem fazer este trabalho”, disse o sacerdote à ACI Digital.

Moçambique é uma ex-colônia portuguesa que se tornou independente em 1975. Entre as décadas de 1970 e 1990, o país viveu uma guerra civil que matou mais de 1 milhão de pessoas. Agora, vive sob ataques de radicais muçulmanos.

A insurgência islâmica no norte do país começou em outubro de 2017, com ataques na província de Cabo Delgado por parte de uma milícia extremista muçulmana ligada ao Estado Islâmico.  Nestes anos, o exército nacional não conseguiu parar a violência, e a insurgência se alastrou até à província de Nampula, onde uma freira italiana foi morta em setembro do ano passado.

Segundo a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a violência já causou mais de 4 mil mortos e cerca de um milhão de deslocados em Moçambique.

O atual bispo de Cachoeiro de Itapemirim, dom Luiz Fernando Lisboa, foi bispo de Pemba, na província de Cabo Delgado, de 2013 a 2021. Nos últimos anos em que esteve à frente da diocese moçambicana, dom Lisboa enfrentou a violência e se colocou como uma voz do povo, buscando alertar o mundo sobre a situação de guerra no país.

Após ser transferido para Cachoeiro de Itapemirim, em fevereiro de 2021, dom Lisboa disse ao jornal italiano ‘La Repubblica’ que membros do governo de Moçambique o ameaçavam de morte por denunciar a violência em Cabo Delgado.

Com a chegada de dom Luiz Fernando Lisboa a Cachoeiro de Itapemirim, padre Antônio da Luz Miranda disse ter reacendido em seu coração um antigo sonho de ser missionário na África. “Esse desejo de ir para a África é de muitos anos, desde que fui crismado, em 11 de agosto de 1977”, recordou o sacerdote em entrevista à ACI Digital.

Padre Miranda pertence ao clero diocesano de Cachoeiro de Itapemirim. Então, quando foi ordenado sacerdote, há 20 anos, pediu para ser missionário na África. “Mas, a Igreja sempre teve outras necessidades para eu trabalhar e, durante 20 anos, tive obediência à Igreja da melhor forma possível. Nunca reclamei, mas seguia com o sonho de trabalhar na África”, contou.

“Quando dom Luiz colocou a situação de Moçambique, das dificuldades, dos desafios, das lutas, dos terroristas, a minha vontade aflorou ainda mais. Pensei: ‘Eu preciso ir até lá, porque alguém precisa estar lá em nome de Jesus Cristo. O Evangelho precisa ser anunciado neste lugar. Se é o lugar mais difícil, é o lugar que eu quero ir’”.

O sacerdote, então, conversou com dom Lisboa sobre este seu desejo e o bispo lhe disse que pensaria e que “possivelmente iria” para a África.

A princípio, disse padre Miranda, a ideia era que fosse enviado para a diocese de Pemba. “Ficamos esperando. Numa época não podia por causa do terrorismo, na outra não podia por causa da covid-19”, contou. No ano passado, viram “que os terroristas, além de tomarem o norte de Cabo Delgado, estavam tomando também o sul”. Então, o bispo “achou por bem” enviá-lo para a arquidiocese de Beira.

“Dizer que estou preparado, eu não posso dizer, porque Pedro dizia a Jesus: estou pronto para ir com o Senhor até a morte. Mas, na hora que a coisa ficou mais apertada, ele pulou”, disse o padre. “Mas, eu tenho o desejo de ir. Se eu chegar à África e viver um ou 20 anos, completei minha missão. Se chegar e morrer na missão, vou carregar no coração a certeza de que cumpri a missão para a qual fui chamado”.

O padre Miranda disse que, quando se trata de “anunciar o Evangelho”, a morte não o assusta. “Acho que o Evangelho precisa ser anunciado, tenho bem claro isso na minha cabeça e no meu coração. Alguém precisa testemunhar Jesus Cristo nos momentos mais fáceis ou nos momentos extremos, como a religiosa que foi assassinada em Moçambique no ano passado”, declarou.

Para ele, esse deve ser o papel da Igreja em meio a uma situação de violência e perseguição como a que se vive no país africano. “É testemunhar o Evangelho, escutar a Palavra, viver a Palavra e, através da vivência da Palavra, anunciar o Evangelho, porque não tem outro jeito, você não pode negociar o que é a verdade, a justiça, o amor, não pode renunciar ao anúncio do Reino de Deus”, disse.

O padre Antônio da Luz Miranda será o primeiro sacerdote da diocese capixaba enviado em missão para fora do Brasil. “A princípio, vou para aprender, porque é uma nova cultura. Então, sei que vou precisar aprender. O segundo ponto é também abrir um espaço para que a diocese, futuramente, possa mandar outros padres, diáconos, leigos e leigas para que possam ser missionários na África”, disse.

No dia 22 de fevereiro, data em que padre Miranda completou 20 anos de ordenação, dom Lisboa celebrou uma missa de envio do sacerdote na catedral de São Pedro, em Cachoeiro de Itapemirim. O padre disse à ACI Digital que, desde então, está liberado para viajar, mas ainda não tem uma data, pois aguarda duas religiosas de São Paulo (SP) que também irão para a arquidiocese de Beira.

“Depois, só volto quando dom Luiz chamar, esse é meu desejo”, concluiu. “A vontade é ir e estar com aquele povo, realizar missão ali e passar meus dias com eles”.

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