“Eles arrancaram o rosto, quebraram os dedos da imagem” de Nossa Senhora das Dores, disse o pároco de São Sebastião, em Conselheiro Lafaiete (MG), padre Daniel Marcos Lima. “Foi um ato de vandalismo” e de “intolerância religiosa”, disse Lima.

A imagem era usada nas “devoções populares da Semana Santa, com a procissão do encontro, a procissão do enterro, do descendimento da cruz” e foi vandalizada no primeiro domingo (26) da quaresma.

“Isso para nós foi um grande choque porque é uma imagem antiga, uma imagem venerada na cidade, que foi adquirida há cem anos atrás para as celebrações da Semana Santa”, explicou o pároco.

Padre Daniel Marcos Lima relatou a ACI digital que o zelador, abriu “a porta do lugar onde fica a imagem de Nossa Senhora das Dores” e “viu que a imagem estava jogada ao chão, completamente vandalizada”

 “Nós não sabemos quem fez, nem porque fez”, disse o padre. “Mas sabemos que estamos vivendo hoje, num contexto de grande perseguição religiosa. E dessa perseguição não escapa nenhuma religião, também nós católicos estamos nesse ambiente. Embora, no caso do Brasil, a constituição garanta a liberdade de culto e a liberdade religiosa”.

O sacerdote ainda disse a paróquia irá “providenciar para a igreja um circuito interno de câmeras para melhorar a segurança”.

“Nós arcamos com todas as responsabilidades”, disse Lima. “A gente registra a ocorrência, abre-se o inquérito na polícia civil, mas a s coisas não dão em nada”.

Para o padre, “há pouco interesse em identificar os agressores, em punir. Estamos vivendo esse momento assim, muito difícil, muito triste”.

Quanto a imagem, padre Daniel Marcos disse que ela “foi levada para restauro na cidade São João Del-Rei”, aos cuidados “do restaurador Fernando Pedersini”. A “grande preocupação” no momento, segundo o padre, é que, com “o vandalismo sofrido pela imagem possa ter abalado a estrutura da imagem, porque ela é uma imagem de madeira oca, e, portanto, colada”, explicou.

“O cenário extremado contra a religião católica tem levado a constantes casos de ameaças, depredações e violência”, disse à ACI Digital o jurista Maurício Colonna, da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP). “usualmente, a depredação de objetos religiosos, especialmente de Nossa Senhora, é feita por protestantes que intendem tratar-se de idolatria ou adoração de imagens”. Tratando-se “de uma interpretação divergente do 1º e do 2º mandamentos”.

“Muitos pregadores protestantes utilizam arroubos retóricos para cativar seu público, porém parte deles leva a fala ao pé da letra e chega as vias de fato. Depredam os objetos de culto e hostilizam fiéis. Normalmente as depredações são antecedidas de ameaças e do crescimento de movimentos protestantes na região”, afirmou

O jurista relatou que “comunistas e o movimento progressista, em geral, não costumam avançar para a depredação”, mas “há exceções, como as pichações à capela da PUC/SP em 2012”.

“Eles costumam retirar a sacralidade do objeto - nas cidades históricas, em geral a questão de patrimônio histórico e a ressignificação como objeto de opressão, ou incorporar os prédios e objetos de culto as religiões de matriz africana por meio do sincretismo. Não é comum, no Brasil, a depredação de templos por eles, como ocorre no Chile, na Europa e em outros países”, explicou

Colonna ainda explicou que no artigo 5º, VI, da Constituição Federal e no artigo 208 do Código Penal estão “as principais normas que garantem a proteção ao culto religioso e inibem a violação e a depredação de objetos”.  E que “a Lei nº 7716/89 também deveria proteger a religiosidade, porém raramente é aplicada nesse sentido”. E ressaltou que esta lei “costuma ser utilizada apenas em casos de homofobia ou de racismo”.

“Assim, se alguém depreda um objeto (a imagem de Nossa Senhora, por exemplo) em razão de divergência quanto à interpretação religiosa, está cometendo um crime de intolerância religiosa ou violação de objeto de culto. É o que se chama de "dolo específico" no Direito Criminal”, disse.

Para o jurista Tadeu Nóbrega, da União dos Juristas Católicos de São Paulo (UJUCASP), “essas situações” tem ocorrido “cada vez mais frequentes”, e embora “ainda não há elementos suficientes para identificar”, nesse caso, se houve “uma intolerância religiosa”, visto que a “investigação não chegou a uma conclusão”, “um ato como esse que destrói uma imagem de Nossa Senhora, ele claramente, é um ato pra ofender não só Nossa Senhora, mas toda a igreja de Cristo e ofendendo os católicos acaba se caracterizando em um ato de intolerância religiosa”, comentou.

Ele lembrou a ACI digital que esses atos de intolerância religiosa aos católicos “existem e não são de hoje”. “Vale lembrar que mais de 20 a quase 30 anos atrás, houve em uma televisão, um ato de um pastor que chutava a imagem de Nossa Senhora Aparecida”; “esses atos sempre existiram e continuam existindo. É que, infelizmente, por não haver uma ampla presença católica na mídia e por alguns considerarem que o fato da religião católica ainda ser predominante em nosso país, eles acabam fechando os olhos para esses atos de intolerância religiosa, mas que eles existem, eles existem!”, enfatizou Nóbrega.

 

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