Após o Sínodo Geral da Igreja Anglicana, separada da Igreja Católica desde o século XVI, ter considerado a possibilidade de usar um gênero neutro para se referir a Deus, o frei Nelson Medina, um padre dominicano conhecido pelo seu apostolado nas redes sociais, falou sobre como se referir a Deus.

O padre colombiano disse no seu site que este tema "apareceu com particular força no contexto da chamada 'teologia feminista'", mas recordou que "a Igreja Católica nunca disse que Deus, em si mesmo, é masculino ou feminino".

Para o frei Nelson Medina, "a questão é mais sobre a linguagem", na Bíblia "os pronomes usados para se referir a Deus, e inclusive grande parte da sua maneira de intervir na história humana, foram descritos na linguagem própria do ser e do agir dos varões". Como exemplo, citou as passagens bíblicas em que Deus é apresentado como o esposo da assembleia de Israel e como um guerreiro que defende o seu povo.

Ele também lembrou que Cristo se descreveu a si próprio como o "Esposo" da Igreja.

"Estas passagens mostram que para alcançar o que foi proposto entre os anglicanos, ou seja, uma Bíblia com um Deus neutro, o texto sagrado teria de ser destruído em muitas partes", disse.

Para o padre dominicano, "tudo isto, e muito mais, teria que ser destruído simplesmente pela vontade de falar como alguns pretendem que todos falemos".

"Toda esta mensagem tem de ser cancelada para se poder falar de um Cristo cuja realidade humana concreta não importa ou não significa nada?”

O padre Nelson Medina também fez dois esclarecimentos com base na Sagrada Escritura.

Em primeiro lugar, recordou o ensinamento de Bento XVI de que "os traços masculinos na nossa aproximação a quem é Deus não são os únicos que a Bíblia usa".

É verdade que a Escritura destaca alguns aspectos masculinos de Deus para realçar certas verdades teológicas, tais como "a iniciativa no amor, a coragem daquele que luta até à morte, ou a descontinuidade ontológica entre o Criador e a sua criação".

Mas, ao mesmo tempo, "a própria Bíblia toma alguns traços do feminino para nos falar de Deus, especialmente aqueles que têm a ver com ser a fonte primária da vida, criar com ternura e acolher com misericórdia".

"Portanto, uma pregação saudável não deve esquecer estas duas dimensões, que tomam e iluminam realidades antropológicas muito belas", disse

Em segundo lugar, o frei Nelson disse que "quando a Bíblia fala da mulher, destaca elementos de enorme transcendência que uma teologia feminista precipitada facilmente ignora".

Segundo ele, na Bíblia, as mulheres têm uma forma de poder "que em muitas ocasiões vai acima do modo de poder que é associado aos varões".

Por isso, o padre disse que "é um atentado à Palavra Divina querer usar uma linguagem 'neutra' para falar de Deus".

"Conservar de forma equilibrada e saudável a linguagem bíblica aproxima-nos do Senhor e ajuda-nos a descobrir algumas das inesgotáveis riquezas da diferença e complementaridade entre os sexos da nossa espécie humana", concluiu.

Confira também:

Mais em