O FBI diz que está retirando do sistema um documento vazado publicado na internet na quarta-feira (8) que parece revelar que a divisão da agência em Richmond, na Virgínia, EUA, lançou uma investigação a “tradicionalistas católicos” e suas possíveis ligações ao “movimento nacionalista branco de extrema-direita”.

Em resposta a um questionamento da CNA, agência em inglês do Grupo ACI, o FBI disse que o documento será removido por “não atender a nossos padrões exigentes”.

O documento foi publicado no site UndercoverDC e é intitulado “Interesse de extremistas violentos com motivação racial ou étnica na ideologia católica radical-tradicionalista quase certamente apresenta novas oportunidades de mitigação”. O documento destaca católicos interessados na missa tradicional em latim como potencialmente ligados a grupos extremistas violentos.

Kylie Seraphin, listado como o autor do documento pela UndercoverDC, disse à CNA que recebeu o documento vazado de um agente do FBI. O próprio Seraphin é um ex-agente especial do FBI que teria sido suspenso no ano passado. Segundo uma reportagem da NBC News, ele se uniu à Truth Social, plataforma de mídia social iniciada pelo ex-presidente Donald Trump.

O escritório de imprensa do FBI confirmou à CNA que o documento veio do escritório de Richmond, mas declarou que irá “remover o documento dos sistemas do FBI por não atender aos padrões exigentes do FBI”.

“Embora nossa prática padrão seja não comentar sobre produtos de inteligência específicos, esse produto específico do escritório de campo – divulgado apenas dentro do FBI – sobre extremismo violento com motivação racial ou étnica não atende aos padrões exigentes do FBI”, diz o comunicado.

“Ao saber do documento, a sede do FBI rapidamente começou a tomar medidas para remover o documento dos sistemas do FBI e conduzir uma revisão da base do documento. O FBI está comprometido com o bom trabalho analítico e com a investigação e prevenção de atos de violência e outros crimes, ao mesmo tempo em que defende os direitos constitucionais de todos os americanos e nunca conduzirá atividades investigativas ou abrirá uma investigação baseada apenas em atividades protegidas pela Primeira Emenda”, concluiu o comunicado da assessoria de imprensa nacional do FBI.

Marcado como “não classificado/apenas para uso oficial”, o documento inclui uma lista de organizações com ligações católicas que constam na lista de grupos de ódio do Southern Poverty Law Center (SPLC).

O SPLC teve sua credibilidade questionada por organizações conservadoras e cristãs que acusaram o grupo de ter um viés de esquerda.  Entre os grupos que fizeram parte da lista de supostos “grupos de ódio” do SPLC de 2021 estão os grupos conservadores e pró-família Alliance Defending Freedom, Family Research Council, ACT for America, Center for Security Policy e American Freedom Law Center.

As organizações identificadas no documento como adeptas da “ideologia católica radical-tradicionalista” incluem Tradition in Action, The Remnant, Culture Wars Magazine e Fatima Crusader. Uma “advertência” adicionada ao documento observou que “a criminalidade potencial exibida por certos membros de um grupo aqui mencionado não nega os direitos [do grupo ou dos membros] sob a Primeira Emenda da Constituição”.

O documento, datado de 23 de janeiro, afirma que extremistas violentos com motivações étnicas ou raciais provavelmente ficarão mais interessados pela “ideologia católica radical-tradicionalista” nos próximos 12 a 24 meses “no período que antecede o próximo ciclo eleitoral geral”.

Ele fala em possíveis “questões políticas de interesse mútuo” entre católicos “radicais-tradicionais” e extremistas violentos, como “direito ao aborto, imigração, ação afirmativa e proteções aos LGBTQ”.

O documento afirma ainda que extremistas violentos “procuraram e frequentaram casas de culto católicas tradicionalistas”, o que “apresenta novas oportunidades para mitigação de ameaças” através de “desenvolvimento de fontes” dentro de igrejas que oferecem a missa em latim e comunidades católicas “radicais-tradicionalistas” online.

“A tendência atual de interesse [extremista violento com motivação racial ou étnica] na [ideologia católica radical-tradicionalista] oferece novas oportunidades para mitigar a ameaça [extremista violenta com motivação racial ou étnica] por meio do alcance de paróquias católicas tradicionalistas e do desenvolvimento de fontes com a colocação e acesso a reportagens sobre [extremistas violentos com motivação racial ou étnica] que procuram usar sites de mídia social ou locais de culto [ideologia católica radical-tradicionalista] como plataformas de facilitação para promover a violência”, diz o documento.

Tanto a Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP) quanto a Sociedade de São Pio X (SSPX) estão listadas como possíveis pontos de contato para divulgação, segundo as notas do documento. Ambos oferecem missas em latim tradicionais aos fiéis e ambos têm congregações dentro da área de jurisdição do FBI em Richmond. A SSPX é uma organização canonicamente irregular desde que seu fundador, o arcebispo Marcel Lefebvre, consagrou bispos sem a aprovação papal. A FSSP rompeu com a SSPX por causa dessa decisão e está em plena comunhão com Roma.

No entanto, o documento afirma que “grande parte da interação… ocorre online” e eles compartilham certa linguagem e simbolismo, como “referências aos cruzados e um discurso antissemita”.

No documento, a divisão do FBI afirma que “faz essa avaliação com alta confiança” e baseia suas descobertas em investigações do FBI, relatórios locais de aplicação da lei, relatórios de conexões e “graus variados de corroboração e acesso”.

O documento afirma que o FBI iria revisar seu julgamento com base no aumento ou na diminuição de indivíduos extremistas violentos “frequentando locais de culto católicos tradicionalistas”, atividade de mídias sociais ou personalidades ou instituições católicas “radical-tradicionalistas” que se distanciam de extremistas violentos.

Notas do documento afirmam que a ideologia católica radical-tradicionalista pode ser definida como uma “rejeição ao Concílio Vaticano II”, um “desdém pelos papas eleitos desde o Vaticano II” e “aderência frequente a ideologias antissemitas, anti-imigração, anti-LGBTQ e supremacistas brancas”.

O documento também afirma que o catolicismo radical-tradicionalista é distinto dos “católicos tradicionalistas”, a quem define como aqueles que “preferem a missa em latim tradicional e os ensinamentos e tradições pré-Vaticano II” sem “crenças ideológicas mais extremistas ou uma retórica violenta”. No entanto, a divisão do FBI de Richmond parece confiar na análise do SPLC para determinar quais organizações devem ser classificadas como católicas radical-tradicionalistas.

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Esta não é a primeira vez que o FBI justificou uma inserção em comunidades religiosas ao alegar que estava procurando por extremistas violentos. Após a Al-Qaeda orquestrar os ataques de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, em Nova York, o FBI vigiou várias mesquitas em busca de extremistas muçulmanos.

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