O padre Guillermo Blandón, impedido de voltar à Nicarágua pelo governo de Daniel Ortega, disse que não é crime denunciar os abusos do governo. “Uma pena como esta é para um crime grave e não cometi nenhum crime, tenho a consciência tranquila”, disse padre Blandón à EWTN Notícias, do grupo EWTN a que pertence a ACI Digital, nesta sexta-feira (30).

“Sou um padre que prega o Evangelho e, como sempre, devemos aplicar o Evangelho à realidade concreta”, disse.

A paróquia Santa Lucía-Boaco, da diocese de Granada, informou na terça-feira (27) que o governo nicaraguense impediu o padre Blandón de voltar ao país, depois de uma visita à Terra Santa. É o mais novo ataque à Igreja por parte do governo de Daniel Ortega, ex-guerrilheiro de esquerda que soma 29 anos no poder na Nicarágua.

De Miami, escala de seu voo para a Nicarágua e de onde recebeu a notícia que não poderia voltar, o padre disse que a decisão do governo nicaraguense "foi uma surpresa porque retornar é um direito que tenho como nicaraguense e não acho que cometi qualquer crime que me impeça de voltar ao meu país”.

O padre de 60 anos contou que “sempre denunciou as injustiças, os abusos, como esses julgamentos em que não permitem aos presos terem advogado ou visitas. Isso é injusto e não se faz”.

Blandón se refere aos presos políticos na prisão de El Chipote, em Manágua, famosa como centro de tortura dos adversários do regime sandinista no poder na Nicarágua.

“Um preso tem direitos constitucionais e o Estado não pode os tirar, eles têm direito a um advogado, mas não lhes permitem ter. Eu preguei isso porque isso não é correto”, disse o padre à EWTN Notícias. “Por que certos prisioneiros têm todos os seus direitos retirados? Quais crimes cometeram? Pensar diferente do governo, mas isso não é crime. Em vez de se ofender, o governo deve refletir”.

"Eles fazem julgamentos que não têm base legal, são como o médico que estuda para curar e busca a morte", lamentou.

Blandón disse também que quando a Igreja anuncia o Evangelho, assume seu papel de ser luz no mundo.

“A Igreja é luz que ilumina. Quando a gente exorta não é para fazer reivindicação, mas para que o governo reflita”, disse. “O padre prega a palavra de Deus, aplica-a para que o povo vá percebendo o que estão fazendo certo e o que estão fazendo errado, principalmente se acreditamos no Senhor”.

“Essa foi minha vida, 29 anos de sacerdócio, pregando, anunciando, denunciando o pecado, o incorreto, o abuso, as manipulações que ocorrem contra o povo santo de Deus, como os profetas, que pregavam a verdade e a justiça de Deus", disse o padre. “Os que somos pastores, a Igreja, defendemos a dignidade dos filhos de Deus”.

 

Blandón também disse à EWTN Noticias que já entrou em contato com seu bispo, dom Jorge Solórzano, que dirige a diocese de Granada.

“Eu disse a ele para não esperar por mim, ele me deu palavras de encorajamento, ele me disse para rezar, e ‘vamos rezar por você. São provações difíceis que você deve passar’. Como um bom bispo, ele foi atencioso”, disse.

Agora em Miami, o padre vai se apresentar ao arcebispo e vai "começar os trâmites para a permissão para a eucaristia ou se podem me designar uma paróquia".

O padre também recebeu o apoio de dom Silvio Báez, bispo auxiliar de Manágua exilado desde 2019, e de vários fiéis da Nicarágua lhe enviaram algum dinheiro para se sustentar.

“Não estou amargurado, estou feliz porque o que Deus permite é para nos purificar, Ele não erra. A paz não é a ausência de problemas, mas a sua presença no meio dos problemas”, disse Blandón.

"Na minha idade estou recomeçando, com a graça e a bênção do meu Senhor", concluiu.

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