O cardeal venezuelano Baltazar Porras Cardoso, enviado do papa Francisco, celebrou no sábado (7), no Peru, a missa de beatificação de Maria Agustina Rivas López, freira da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor conhecida como “Aguchita”, morta por terroristas comunistas do Sendero Luminoso em 1990.

A missa foi celebrada no mesmo parque onde uma mulher de 17 anos matou a freira com cinco tiros em 27 de setembro de 1990. Participaram cerca de 20 bispos do Peru e cerca de três mil fiéis. A celebração foi em frente à igreja de Santa Rosa de Lima, em La Florida, distrito de Perené e província de Chanchamayo, na região amazônica do departamento de Junín.

Em sua homilia, o cardeal Porras disse que “o martírio da irmã Aguchita tem vários aspectos que devem ser levados em consideração: em primeiro lugar o sem sentido da violência, o crime, a injustiça, o nefasto das ideologias para aqueles que não se importam com a vida humana”.

O cardeal venezuelano também destacou que “o uso indiscriminado de armas só deixa morte e desolação, não resolve os problemas reais da convivência humana”.

Em seguida, o cardeal, que é arcebispo de Mérida e administrador apostólico de Caracas, rezou para que “a guerrilha desapareça para sempre de todo o mundo e que nesta terra abençoada da selva amazônica possamos curar a dor e o desprezo, garantindo, construindo lentamente a globalização da solidariedade sem deixar ninguém à margem”.

O cardeal Porras fez então “uma lembrança e uma oração pelas milhares de vítimas do terrorismo no Peru e especialmente por aqueles que foram vilmente mortos em La Florida. Seus parentes e amigos fazem parte da auréola de Aguchita nestes momentos".

O martírio da beata Aguchita selou o amor à sua vocação

"Nela, o martírio não foi um improviso, mas o holocausto final do amor a sua vocação”, disse o cardeal venezuelano. Ele destacou a vida mística de Aguchita, como ela uniu ação e contemplação, e disse que nela "o Evangelho do Bom Pastor proclamado neste dia se fez presente. Como uma boa pastora, ela deu a vida por suas ovelhas".

Aguchita em La Florida, onde foi assassinada por terroristas comunistas do Sendero Luminoso. Crédito: Vatican News

“Hoje celebramos a vitória da vida sobre a morte e assumimos o desafio pascal de ser discípulos e missionários apaixonados por aprender e ensinar a viver”, disse o cardeal.

Segundo ele, “Aguchita se torna com sua morte o melhor presente aos esforços do papa Francisco para ajudar a despertar o afeto pela terra amazônica, que também é nossa”. Por isso, disse que “a irmã Maria Agustina merece ser padroeira desta porção do mundo para o bem de toda a humanidade”.

No final da missa, o bispo do vicariato apostólico de San Ramón, dom Gerardo Zerdín, estabeleceu que a igreja diante da qual foi celebrada a missa de beatificação será o santuário do vicariato de santa Rosa de Lima e beata Agustina Mártir.

Biografia da beata Aguchita

A beata Aguchita, religiosa da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, nasceu em 13 de junho de 1920 em Coracora, na região de Ayacucho, no planalto sul do Peru.

A freira peruana, a mais velha de 11 irmãos, teve uma vida familiar marcada pela fé. Após uma aproximação à Congregação do Bom Pastor aos 18 anos, em Lima, capital do país, discerniu sua vocação e fez os votos aos 25 anos.

Seu irmão César havia discernido para a ordem sacerdotal anos antes.

Ela fez seu trabalho missionário por muitos anos na área de Barrios Altos, no centro de Lima. Nas memórias coletadas por suas irmãs na congregação, elas lembram que um padre lhe disse: "Aguchita, você vive com um pé no céu".

Em 1987, mudou-se para a cidade de La Florida, na região de Junín, na selva central do Peru. Eram tempos de grande violência gerada em todo o país, especialmente nas montanhas, pelo grupo terrorista Sendero Luminoso.

O Partido Comunista do Peru-Sendero Luminoso, uma das organizações terroristas mais sangrentas do século XX, iniciou sua onda de violência em 1980 e causou dezenas de milhares de mortes em todo o Peru.

Mais em

Membros do grupo terrorista muitas vezes entravam nas aldeias e faziam "julgamentos populares", nos quais os membros decidiam quais aldeões deveriam ser mortos sem possibilidade de defesa. Além disso, sequestravam crianças para treiná-las, ideologizá-las e incorporá-las ao seu grupo de morte.

O martírio

Em 27 de setembro de 1990, quando Aguchita tinha 70 anos, um grupo do Sendero Luminoso entrou em La Florida e matou muitas pessoas.

A lista dos terroristas do Sendero Luminoso tinha seis nomes. Um era o de irmã Luísa. Como não a encontraram, levaram Aguchita em seu lugar. Eles a acusaram de ajudar os pobres e falar com os asháninka, uma comunidade nativa contrária ao Sendero Luminoso.

Aguchita tentou se ajoelhar e rezar, mas suas pernas fraquejaram. Com cinco tiros, uma mulher de 17 anos a matou.

Confira também: