“É necessário reconhecer que os pais têm prioridade na educação dos próprios filhos”, disse dom Carlos Lema Garcia, bispo auxiliar de São Paulo e Vigário Episcopal para a Educação e Universidade na Arquidiocese à ACI Digital. “Trata-se de um direito natural: ao gerar e criar os filhos, os pais devem dar-lhes a oportuna educação”.

Na próxima quarta-feira, 2 de março, começa a Campanha da Fraternidade 2022, cujo tema é ‘Fraternidade e Educação’ e o lema ‘Fala com sabedoria, ensina com amor’. Parte da programação da Igreja para o tempo da Quaresma, a Campanha da Fraternidade existe desde 1964 e foi criada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Ela tem como objetivo refletir sobre algum problema concreto nacional. Essa é a terceira vez que a educação surge como tema.

Em 2021, o tema da Campanha da Fraternidade era “Fraternidade e Diálogo: compromisso de amor”. A campanha teve caráter ecumênico. Redigido por uma pastora protestante, o texto-base condenava a violência contra LGBTs, usando termos como ‘discurso de ódio’ e ‘fundamentalismo religioso’. Bispos, padres e leigos denunciaram o texto.

“A educação é crucial para o desenvolvimento do país, para a formação das crianças, dos jovens e dos adultos, bem como para alcançar um patamar de civilização mais elevado”, disse dom Carlos Lema Garcia.

Citando o provérbio africano segundo o qual “é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança”, Garcia ressalta que a sociedade inteira deveria formar uma grande rede em benefício dos estudantes. “Cada um deve assumir sua respectiva parcela de responsabilidade.”

“Os pais não devem delegar aos professores a educação dos próprios filhos. Ou seja, não basta matriculá-los numa boa escola e se desentender do assunto. Nem mesmo devem esperar que os professores possam suprir as lacunas devidas à falta de educação recebida da família. As famílias recorrem à escola para que esta ofereça a alfabetização e a instrução nas diversas ciências e disciplinas”, diz dom Carlos.

“Educação, em seu sentido mais pleno, implica muitas coisas, como ensinar os bons modos, o cultivo das virtudes humanas, o comportamento moral, transmitir valores como o respeito a todas as pessoas, a consciência social e a convivência com os demais, assim como a transmissão dos valores religiosos e da fé”, disse dom Carlos sobre o papel da família na educação.

“É também evidente que os pais, por seu turno, devem acompanhar o ritmo do aprendizado de seus filhos e estarem presentes na escola para trocar impressões com os professores sobre o crescimento pedagógico e humano e cada um deles.”

Mestre em Educação pela Universidade Federal do Paraná e coordenador pedagógico do Ensino Médio no Colégio Marista Arquidiocesano, Thiago Cachatori concorda com a visão do bispo. “A escola se tornou uma extensão da casa, não só do ponto de vista educacional e pedagógico, mas dos valores também. A criança passa muito tempo na escola, então temos um diálogo muito claro com as famílias, ressaltando que não fazemos nada sozinhos no colégio”, afirma Cachatori. “Existe essa parceria que envolve toda equipe pedagógica, a família e o estudante. Há essa coletividade e se a família não está junto fazendo seu papel, o papel do colégio acaba sendo prejudicado. Não somos um depósito de alunos. Recebemos e acolhemos todos com suas diferenças, dificuldades, facilidades e fortalezas, mas a família tem que estar junto nisso tudo.”

As medidas sanitárias impostas como meio de combater a pandemia de covid-19 pandemia comprometeram os processos educacionais, especialmente a alfabetização. Segundo pesquisa publicada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em julho de 2021, 99,3% das escolas brasileiras suspenderam as atividades presenciais durante a pandemia. 

“É como se a escola tivesse entrado dentro da casa do aluno”, diz Cachatori sobre o efeito das aulas online. “Então, o aluno age na escola como ele agia em casa. Ele está voltando para o presencial trazendo resquícios de atitudes que ele tinha somente em casa. Então entra um processo de reeducar e dizer ‘olha, aqui você não deve agir dessa forma’.”

Classificando o tema da Campanha da Fraternidade como “assertivo”, o coordenador do Colégio Marista Arquidiocesano considera o assunto “permeável no Evangelho”. “A imagem que a campanha traz é muito representativa porque Jesus foi o principal protagonista em relação a o que é ensinar por meio dos gestos, das palavras, sempre atravessado pelo amor.”

“A grande questão aqui é o olhar humano. Se a gente não acolhe o aluno como um indivíduo que tem sua história e entende-o como um ser único, a gente não consegue fazer um trabalho assertivo. O professor não pode estar focado somente no conteúdo, mas também tem esse olhar no aluno, quem é ele, por que ele está tendo dificuldade. Tudo passa pelo processo de aprendizagem”, diz.

Eliane Lima, Orientadora Pedagógica de Educação Infantil no Colégio Santa Maria, pauta seu trabalho com os pequenos à base do respeito, cuidado, zelo, amorosidade e, principalmente, “na compreensão de entender-se como uma escola inclusiva que ensina por meio do afeto e dos valores humanos e cristãos.”

Pedagoga com 30 anos de experiência, ela expõe outra perspectiva da temática, onde a escola pode servir de “colo” e “abraço” para as famílias dos alunos, citando a cultura do encontro. “A proximidade, por vezes, pode causar estranhamento e desconforto, mas também pode trazer o sentimento de confiança ao perceber o movimento do ‘estar junto’. O estar para identificar e investir nas fragilidades, mas também nas superações como: independência e autonomia - o que significa crescer? O que fazer quando meu filho não me ouve? Por que meu/minha filho/a fica nervoso/a e faz birras? Construir uma relação de confiança e de ‘corresponsabilidade’ para as aprendizagens cognitivas e humanas da criança.”

Confira também:

 

 

Mais em