“A Igreja deve ser pró-vida sem reservas. Não podemos abandonar nossa defesa da vida humana inocente ou da pessoa vulnerável”, disse dom Christophe Pierre, núncio apostólico nos EUA, durante a assembleia geral da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês) na terça-feira.

Dom Pierre fez este comentário ao falar aos bispos sobre a sinodalidade e a necessidade de discernimento apostólico, durante a reunião anual de outono em Baltimore, Maryland.

O sínodo sobre a sinodalidade começou em outubro como um processo global de escuta e diálogo de dois anos que convida leigos católicos a participar. O processo começou com uma fase diocesana, continuará com uma fase continental e vai terminar com uma fase universal em que os bispos e outros se encontrarão em Roma.

O esforço dos bispos católicos dos EUA de equipar paróquias e comunidades para apoiar mães grávidas carentes exemplifica uma "abordagem sinodal", segundo o representante da Santa Sé nos EUA.

Para dom Pierre, “a verdadeira reforma, embora necessariamente fiel à Tradição viva da Igreja, deve envolver também gestos concretos”.

“Creio que a sinodalidade é uma resposta aos desafios do nosso tempo e ao confronto, que ameaça dividir este país e que também repercute na Igreja”, explicou.

“Parece que muitos desconhecem que estão imersos neste confronto, marcando posições, enraizadas em certas verdades, mas que estão isoladas no mundo das ideias e não aplicadas à realidade da experiência de fé vivida do Povo de Deus em situações concretas”, acrescentou.

Dom Pierre definiu a sinodalidade como uma "forma de vida" e uma "forma de viver a fé permanentemente em todos os níveis: nas dioceses, nas paróquias, na família e nas periferias".

A sinodalidade, enfatizou, implica "ouvir uns aos outros e ao Espírito, é movida por Deus e movida pela missão, e exige um discernimento apostólico comum ao unir-se para buscar a vontade de Deus".

O núncio falou sobre a "questão pró-vida".

Uma “abordagem sinodal da pergunta seria entender melhor por que as pessoas procuram interromper a gravidez; quais são as causas profundas das escolhas contra a vida e quais são os fatores que tornam essas escolhas tão complicadas para alguns; e, começar a formar um consenso com estratégias concretas para construir a cultura da vida e a civilização do amor”, explicou.

O núncio colocou como exemplo o programa Walking with Moms in Need (Caminhando com Mamães em Necessidade). O projeto liderado pela USCCB incentiva os católicos a apoiar e entender as mulheres grávidas e mães em situações difíceis. Para dom Pierre, o programa “busca caminhar com as mulheres, entender melhor sua situação, trabalhar com órgãos pró-vida e de assistência social para atender às necessidades específicas das gestantes e de seus filhos”.

O programa "ajuda as paróquias a identificar e atender a todas as necessidades das mães e de seus filhos nascituros, não apenas durante a gravidez, mas nos anos que virão", segundo um comunicado do arcebispo de Kansas City, dom Joseph F. Naumann, que é presidente da Comissão de Atividades Pró-Vida da USCCB.

As igrejas católicas, acrescentou ele, "podem fazer a diferença".

“Muitas mulheres grávidas costumam sofrer de solidão e eventos comuns, como chás de bebê, não fazem parte de sua realidade. As paróquias, ouvindo algumas das necessidades espirituais, sociais e emocionais das pessoas, podem acompanhar as mulheres, mesmo com pequenos atos de gentileza”, continuou.

“Os gestos concretos, não as simples ideias, mostram o rosto maternal e terno da Igreja que é verdadeiramente pró-vida”, recordou dom Naumann.

O núncio apostólico citou a eucaristia como um segundo exemplo, mostrando que “as realidades são mais importantes do que as ideias”.

“Podemos ter todas as ideias teológicas sobre a eucaristia - e, claro, precisamos delas - mas nenhuma dessas ideias se compara à realidade do mistério eucarístico, que precisa ser descoberto e redescoberto por meio da experiência prática da Igreja, viver em comunhão, principalmente nesta época de pandemia”, disse ele.

O discurso de dom Pierre ocorreu no momento em que os bispos dos EUA se preparavam para votar um novo documento que enfatiza o ensino da Igreja sobre a eucaristia. O núncio apostólico destacou a importância de um “verdadeiro encontro com sua presença real”.

“Existe a tentação de tratar a eucaristia como algo a ser oferecido a uns poucos privilegiados, em vez de procurar caminhar com aqueles cuja teologia ou discipulado está deixando a desejar, ajudando-os a compreender e valorizar o dom da eucaristia e ajudando-os a superar suas dificuldades. Em vez de cair na armadilha de uma 'ideologia do sagrado', a sinodalidade é um método que nos ajuda a descobrir juntos um caminho a seguir”, disse ele.

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Em seguida, ele repetiu uma pergunta que fez na reunião dos bispos de junho: "Que tipo de Igreja somos nós?"

Além do mundo, a “Igreja também está ferida pela crise dos abusos, pelos persistentes efeitos da pandemia e pela polarização que aflige a sociedade. Essa é a realidade que deve ser enfrentada”, disse.

“A Igreja precisa de uma ação concreta que envolve todos, uma ação que seja mediada pela presença de Cristo na realidade humana do nosso mundo ferido. A meu ver, a forma como se realiza esta ação concreta é por meio da sinodalidade”, concluiu.

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