O padre Roger J. Landry, da diocese de Fall River e capelão nacional de Catholic Voices USA, escreveu um artigo para o jornal National Catholic Register sobre a importância dos padrinhos como guias para a santidade.

Landry lembrou que além dos santos canonizados pela Igreja Católica, que são comemorados no Dia de Todos os Santos, existem os "santos da porta ao lado", que como disse o papa Francisco, são todas as pessoas “que com simplicidade, respondem ao mal com o bem, têm a coragem de amar os inimigos e rezar por eles”.

O padre disse que embora os padrinhos devessem ser os “santos da porta ao lado”, em algumas partes do mundo, como na Sicília, Itália, as dioceses retiraram ou pediram para retirar a figura dos padrinhos, pois já não cumprem com a sua função. Um exemplo é a arquidiocese de Catânia, cujo arcebispo proibiu os padrinhos de batismo e de crisma por três anos.

Além disso, a diocese de Mazara del Vallo, na Sicília, implementará uma proibição semelhante em janeiro; e a diocese de Acireale dispôs que os padrinhos sejam opcionais e exigiu que os candidatos jurem que são crentes e não membros da máfia. Além disso, desde 2014, a arquidiocese de Reggio Calabria pressiona o papa para proibir os padrinhos por 10 anos.

Ele disse que o jornal The New York Times explica em um artigo que a figura do padrinho na Sicília havia se tornado uma "espécie de cumprimento formal ou costume social", onde os escolhidos não só não estavam qualificados por não praticarem a fé católica, como também seu papel estava sendo muito “manipulado por mafiosos, para solidificar laços de lealdade”.

Landry diz que parte do problema é a cultura das “máfias do sul da Itália e Sicília, onde o papel do padrinho pode ter menos semelhança com o direito canônico e mais com a representação de Francis Coppola”, diretor do filme “O Padrinho”.

Além disso, disse que o vigário-geral da arquidiocese de Catânia explicou que a proibição visa "uma conversão da cultura geral no que diz respeito aos padrinhos". “Acreditamos que as coisas vão mudar e que aqueles que vão ser padrinhos ou madrinhas o façam porque sabem que vão ser testemunhas de um caminho de fé”, disse o vigário.

O padre advertiu que em todo o mundo a maioria dos padrinhos não cumpre mais o papel definido no catecismo, nem no Direito Canônico. Nesse sentido, incentivou as pessoas a lembrarem que a função dos padrinhos “é ajudar seus afilhados a se converterem nos santos que o batismo lhes chama a ser e guia-los fielmente na peregrinação à Jerusalém celestial”.

A Igreja ensina que os padrinhos devem ser “crentes firmes, capazes e dispostos a ajudar os novos batizados, crianças ou adultos, no caminho da vida cristã”; ter “uma vida de fé de acordo com o papel a assumir” e assim ajudar o afilhado “a levar uma vida cristã de acordo com o batismo e cumprir fielmente as obrigações que lhe são inerentes”, disse.

Na Igreja primitiva, especialmente na época das perseguições, os padrinhos “eram cristãos devotos que atestavam a fé dos adultos que se apresentavam perante o bispo para o batismo e assumiam a responsabilidade de os acompanhar na sua preparação e vida depois do batismo”. No batismo das crianças, os padrinhos rejeitavam a satanás, faziam a profissão de fé em nome de seus afilhados e assumiam a responsabilidade de ser colaborar com os pais, de fazer as crianças crescerem na fé. 

Hoje o padrinho ou madrinha deve ser católico, ter pelo menos 16 anos, não ser mãe ou pai da criança, ter recebido batismo, confissão, crisma e Eucaristia, e além disso, viver pela fé e não ser excomungado, nem sob outras penas canônicas.

Exige-se padrinho ou madrinha "na medida do possível", daí a possibilidade de os suspender, e podem ser dois para o batismo, mas devem ser de sexos diferentes. A responsabilidade de criar os filhos caso alguma tragédia afete ambos os pais “nunca foi legalmente” o papel dos padrinhos, mas os pais podem estipular isso em seu testamento.

Como os padrinhos não recebem um título honorário, mas um cargo eclesiástico com responsabilidades importantes, os padres tem o dever de verificar que estejam qualificados. Para o padre Landry, algo muito frustrante para o ministério de um padre “é ter que lidar com pessoas claramente não aptas e impenitentes como candidatos ao cargo”.

Ele explicou que muitas vezes acontece que aqueles que são chamados para serem padrinhos "não praticam a fé há anos", alguns "nunca vão à missa" e "não fizeram os sacramentos de iniciação. Outros casaram fora da Igreja, convivem, participam em estilos de vida do mesmo sexo ou transgênero, trabalham para a indústria do aborto, clínicas de fertilização in vitro, ou trabalham como traficantes de drogas, proxenetas, prostitutas ou outro trabalho incompatível com a fé”.

Apesar disso, os candidatos procuram os sacerdotes buscando certificados para serem padrinhos. Diante disso, os padres aproveitam a ocasião para convidá-los à conversão, “regularizar suas situações e desenvolver os hábitos esperados de todo bom católico, para que, o mais rápido possível, seja digno de receber um certificado e cumprir com o papel de padrinho”.

O padre Landry lamentou que muitos rejeitem e "fiquem indignados porque um padre não mente e lhes dá o equivalente a uma carta de recomendação que certifica que a pessoa é um católico praticante, exemplar e totalmente iniciado [...] eles se sentem julgados e considerados deficientes". Outros buscam certificações falsas e isso "só causa mais confusão e priva a criança de um guardião valioso em seu caminho de fé".

No entanto, ele também disse que há muitas situações em que os pais buscam que os padrinhos de seus filhos sejam "católicos fervorosos e de boa reputação" que pedem "humildemente conselhos sobre como cumprir bem com seus deveres". Pensando neles, o padre Landry ofereceu estas dicas práticas para ser um bom padrinho:

1. Recordou que o óbvio é que os padrinhos vivam a fé com integridade, rezem por seus afilhados todos os dias e permaneçam envolvidos em suas vidas”.

2. Incentivou a tirar uma foto do batismo, colocar em um porta-retrato e dar de presente ao afilhado para que possa “colocar em seu quarto e assim a criança possa se lembrar mais facilmente do dia mais importante de sua vida”.

3. Disse que caso planeje dar um presente anual para o seu afilhado, “não o faça no Natal ou no aniversário da criança, mas no aniversário de batismo, para que à medida que a criança cresça, possa lembrar e esperar essa data”.

Mais em

4. Incentivou a "celebrar esse aniversário de maneira especial". Ele sugeriu levar a criança para tomar um sorvete ou comer, ver juntos o vídeo do batismo, acender a vela batismal e rezar junto com o afilhado e abençoar com água benta.

5. Incentivou a "acompanhar de perto a criança até a adolescência e a universidade". Ele explicou que, nessa fase, eles podem "ser tentados a se rebelar contra os pais" ou seguir o caminho da maioria, como não ir à missa ou não viver de acordo com a fé e os costumes católicos. "Em um momento tão crítico da vida, um jovem precisa dessa orientação, ainda mais os jovens de 16 anos", disse ele.

Finalmente, o padre Landry lembrou que “Jesus afirma que os maiores no seu reino são aqueles que vivem segundo os seus mandamentos e ensinam os outros a fazer a mesma coisa” e disse que “os padrinhos têm a oportunidade de chegar a ser verdadeiramente grandes desta forma”.

Rezemos “para que Deus recompense nossos padrinhos, vivos ou mortos; renove nosso compromisso com a santificação de nossos próprios afilhados, onde quer que estejam em seu caminho; e pedir ao Senhor que se apresse a renovar a compreensão e a prática fiel deste importante ofício da Igreja”, concluiu.

Confira também: