Eduardo Cardet, coordenador nacional do Movimento Cristão Libertação (MCL), afirmou que o que Cuba precisa é de liberdade plena com direitos plenos e o fim da tirania que o povo cubano sofre há 62 anos. O MCL é uma organização não confessional baseada na doutrina social da Igreja.

“O que o povo de Cuba precisa são mudanças, transformações profundas, é liberdade, é desfrutar de todos os direitos de forma plena, poder escolher nosso presente e nosso futuro, ser donos de nosso destino”, disse o líder da oposição em entrevista ao jornal National Catholic Register.

“É hora de que cesse a repressão, a violência. Já é a hora de que a impunidade do regime termine, de que essa longa tirania acabe de uma vez por todas e que todo o povo de Cuba se abra para uma transição”, afirmou Cardet.

Cardet está sob “vigilância estrita e monitoramento” que o impedem de sair de Velasco, cidade onde vive.

Cardet expressou seu desejo de que “todos, unidos, possamos decidir o futuro de uma Cuba melhor para todos, onde se acaba o ódio ou o enfrentamento, onde a liberdade e os direitos plenos nos permitam construir esses espaços de que tanto necessitamos, desde nossa individualidade, para nosso desenvolvimento, nossa prosperidade, e que Cuba seja realmente para o bem-estar de todos os cubanos”.

O líder do MCL denunciou que “a ditadura mantém o bloqueio à internet e às redes sociais para evitar que os cubanos possam se comunicar entre si e que possam continuar difundindo imagens e notícias sobre o que está acontecendo” na ilha.

Para Cardet, os protestos pacíficos de domingo 11 de julho, os maiores em 62 anos de comunismo, “foram uma manifestação autêntica de civismo do nosso povo exigindo e reclamando em liberdade, exigindo e reclamando direitos, mudanças radicais que permitam viver com qualidade”. No entanto “a resposta do regime foi uma repressão desmedida, um uso letal da força que causou numerosas vítimas, entre mortos e feridos”.

“Infelizmente quem ocupa a presidência, o ditador de turno em nosso país, Díaz Canel, deu uma ordem direta para o começo de um enfrentamento entre cubanos, para que o sangue fosse derramado, para que aquele que supostamente se identificam com a revolução e com as forças repressivas do regime atacassem com total impunidade os civis desarmados que se manifestavam pacificamente”, disse Cardet.

Na entrevista, o dissidente denunciou que muitos, dentro e fora de Cuba, na tentativa de defender o regime, “querem vender a falsa ideia de que os protestos do povo de Cuba se devem à penosa situação que vivemos, supostamente causada, segundo eles, por fatores externos, como aquilo que eles chamam erroneamente de ´embargo norte-americano´, a situação da covid e outras coisas”.

“Não há causas externas”, disse Cardet. “As causas da profunda crise sistêmica e estrutural que nós cubanos sofremos é um regime falido, é a ditadura que nos oprime, que viola os nossos direitos, que arrebata as nossas liberdades e nos impossibilita para construir um presente e futuro de esplendor”.

Segundo o coordenador nacional do MCL, “durante esses 62 anos, o regime de Havana teve oportunidades mais do que suficientes de recursos materiais para poder satisfazer as mínimas necessidades do povo. No entanto, não o fez. Porque esses regimes totalitários carregam, intrinsecamente, as correntes que impedem os povos de se desenvolverem plenamente”.

“Infelizmente, as pessoas que detêm o poder são indivíduos cheios de ódio, de maldade. A única coisa que eles fazem é instigar o ódio entre irmãos e pedir o derramamento de sangue”, afirmou.

Com pessoas assim, “com um regime assim, não é possível avançar. É impossível construir uma nação que seja útil para todos”, disse Cardet.

Para o líder oposicionista, não é verdade que a “estrutura fossilizada e opressiva de antigamente” tenha sido suavizada. “Nada mudou, tudo continua igual ou pior. Há mais miséria material, mais opressão”, afirmou. “O Partido Comunista é a ferramenta usada pela tirania para estender seu braço opressor na sociedade. É a única força política, se é que se pode chamar força política a uma organização que se comporta como uma máfia, que controla todos os recursos da nação, todas as instituições, para impor a sua vontade. Ela se autodenomina a força diretora das sociedades do estado”.

Cardet disse que os protestos em Cuba não aconteceram “de um dia para o outro. O povo de Cuba precisou de tempo para sedimentar este sentimento profundo de profunda rejeição do regime e identificar a raiz do problema, a causa comum, que é a falta de liberdade e de direitos”. “É um fenômeno que vai crescendo, é algo que vai se expandindo, que vai ganhando adeptos e vai trazer como consequência uma mudança profunda, radical e irreversível do nosso país”, afirmou.

O papel da Igreja

“A Igreja Católica teve, como instituição durante estes últimos anos, diríamos, uma resposta débil em muitas ocasiões diante das graves ameaças ao nosso povo”, disse Cardet.

Em sua opinião, “neste momento, a Igreja deve acompanhar o nosso povo nas justas e legítimas demandas de liberdade e direitos. Mas nem tudo é mau. Para o bem de nosso povo, há uma quantidade muito grande de padres, de párocos que estão ali, perto da sua comunidade, com seus paroquianos, com o povo de Cuba”.

Cardet destacou o trabalho do padre Castor Álvarez Devesa, que acompanhou os cidadãos que protestaram pacificamente em Camagüey. “Isso nos enche de orgulho e nos transmite uma mensagem de força e de esperança”, afirmou.

O padre Castor Álvarez Devesa, sacerdote da arquidiocese de Camagüey, foi agredido e detido no domingo, 11 de julho, durante as manifestações em Cuba. Ele foi liberado no dia 12 de julho, depois dos esforços do arcebispo local, dom Willy Pino.

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Cardet também deu sua opinião sobre o papel da Santa Sé diante da atual crise e dos protestos em Cuba. “A resposta do Vaticano à realidade do povo de Cuba foi muito fraca. Foi uma resposta evasiva, distante, fria”.

O coordenador nacional do MCL disse que “não houve um apoio claro às demandas legítimas que estamos fazendo há tanto tempo. Não é de agora acontecem estas manifestações importantíssimas, que foram reprimidas e afogadas com sangue por parte do regime, mas há muitos anos que estamos sofrendo penúrias de todo tipo e carência de direitos”.

“Nunca houve uma condenação, uma denúncia clara destas violações dos direitos humanos. Ao contrário, elas são vistas com certo beneplácito, até com alguma cumplicidade, o qual é muito lamentável”, disse Cardet.

Estados Unidos e Cuba

Eduardo Cardet acha que o papel dos Estados Unidos “deve ser coerente com os princípios democráticos que representa e que defende, mais além da resposta contundente que deve dar exigindo o fim da violência e do derramamento de sangue causado pelo regime cubano contra um povo indefeso, desarmado”. Os EUA “devem apoiar com energia, com ações concretas, essas ânsias de liberdade do povo cubano e não devem limitar-se a declarações tímidas e distantes sobre o que está acontecendo”, afirmou.

Nesta quinta-feira, 22 de julho, o governo do presidente Joe Biden condenou um importante funcionário cubano e uma unidade de forças especiais do governo, conhecida como os Boinas Negras, por abusos aos direitos humanos durante os protestos. Segundo a CNN em Espanhol, Biden indicou em um comunicado que estas ações são “apenas o começo. Os Estados Unidos continuarão punindo os responsáveis pela opressão do povo cubano”. “Condeno inequivocamente as detenções em massa e os julgamentos simulados que estão condenando injustamente à prisão aqueles que se atreveram a falar, em um esforço por intimidar e ameaçar o povo cubano para que se cale”, acrescentou.

Na entrevista com o Register, Cardet fez um apelo aos católicos americanos: Eles “devem amplificar a voz do povo cubano, devem exigir o fim da repressão contra nosso povo, devem exigir o fim da violência das forças repressivas do regime contra o povo cubano desarmado”.

“Estamos vivendo momentos cruciais e por isso necessitamos o acompanhamento de todos os homens e mulheres de boa vontade que queiram liberdade, direito, justiça e prosperidade para o nosso povo. Necessitamos estar preparados para que, quando haja as condições, possamos ajudar de maneira concreta o povo irmão cubano nos seus anseios legítimos de progresso e de justiça”, concluiu.

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