O dia 11 de julho foi marcado pela violenta repressão do governo de Cuba a uma onda de protestos. Na cidade de Camagüey, o padre Castor Álvarez foi atingido e detido enquanto defendia manifestantes. O sacerdote está preso na delegacia de Monte-Carlo, em Camagüey, acusado de desordem pública.

Pe. Castor Alvarez / Crédito: Arquivo.

Em entrevista à ACI Prensa, o padre Rolando Montes de Oca, sacerdote da arquidiocese de Camagüey, disse que é difícil explicar a origem das manifestações que ocorrem em quase todo o país, “mas que há elementos que nos ajudam a entender”.

“A situação econômica neste momento é crítica e ficou ainda mais grave depois das medidas econômicas ditadas pelo governo no início do ano, que foram chamadas de ´reordenamento econômico´ ou algo assim, e que definitivamente tornou a vida muito mais difícil”, afirmou. “Temos uma inflação fora do comum. Cada vez é mais difícil conseguir produtos de primeira necessidade, como os alimentos. Há uma situação de pobreza material muito séria”, acrescentou.

Além da crise econômica, os cubanos também estão sofrendo pela pandemia da covid-19. “Estamos em plena crise da covid-19. Há muitas notícias circulando sobre pessoas que morrem, que não recebem a assistência médica que requerem, os hospitais entraram em colapso, circulam imagens de doentes nos corredores, inclusive em macas no chão”, disse o padre Montes de Oca. Segundo o sacerdote “há uma falta de remédios tremenda. Muitas pessoas não têm nem um calmante para uma dor. Uma aspirina, por exemplo, você não acha. E não estamos falando de remédios sofisticados. Ninguém tem nada. São praticamente inexistentes, não existem às vezes nem nos hospitais”. Enquanto o país sofre, lamentou, “o governo nega que esteja havendo um colapso na saúde e diz que tudo está controlado. Entretanto, a realidade diz o contrário”.

“É uma situação que, para nós cubanos, nos faz lembrar de um período de crise, que deixou uma espécie de trauma nacional. Foi uma época especial, entre os anos de 92 e 94, que ficou conhecida como ´os apagões de muitas horas´”. “São quase diários. E com calor que faz em Cuba, com os mosquitos, fica ainda mais insuportável, muito mais difícil”, continuou.

O padre Montes de Oca disse que essa é uma “parte da explicação” das manifestações, que aconteceram “praticamente em todo o país”. Para ele, “houve muita pressão na panela e agora ela explodiu”.

O sacerdote cubano afirmou que “o que está acontecendo em Cuba é algo único, pelo menos há seis décadas. Eu tenho 40 anos e nunca tinha visto nada parecido”. Ele afirma nunca ter visto “tanto consenso contra o governo” e nem “uma resposta tão violenta do governo contra o povo”.

“Hoje o presidente falou em cadeia nacional pela televisão e disse: a ordem de combate está dada e estamos dispostos a tudo”, disse. “Obviamente, ele culpou os Estados Unidos por toda a situação que Cuba atravessa. Ele disse que atacará os manifestantes e convocou todas as forças comunistas para ir com a força toda contra eles”, continuou. “E tem havido muita violência contra os manifestantes, que eram pacíficos”, denunciou o padre.

No dia 11 de julho, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, convocou “todos os revolucionários a saírem às ruas para defender a revolução em todos os lugares”. “Não vamos entregar a soberania de nossa pátria”, disse o presidente, afirmando que “a ordem de combate está dada: revolucionários, às ruas!”.

O padre Rolando Montes de Oca afirmou que “o que vai acontecer, para onde nos vai conduzir isto, eu não sei. Gostaria que fosse para algo bom, mas não sei”. “Espero que Deus intervenha e que, no final, triunfe a paz e a justiça”, finalizou.

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A atual ditadura cubana começou em 1959, com o triunfo da revolução liderada por Fidel Castro contra o regime também ditatorial de Fulgencio Batista.

Fidel Castro pôs em prática ideologia comunista e governou Cuba através de um regime profundamente repressivo. Em 2008, cedeu o seu poder ao seu irmão, Raul Castro.

Oito anos depois, Fidel Castro morreu.

Raúl Castro manteve o regime comunista ditatorial de seu irmão até 2018, quando entregou o poder a Miguel Díaz-Canel. Para muitos, Raúl Castro ainda continua à frente do governo cubano e a transferência de poder para Díaz-Canel foi algo apenas aparente.

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