A Pastoral da Família da arquidiocese de Quito (Equador), junto com o Serviço Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses do Equador sepultou 25 bebês que foram abortados ou morreram após serem abandonados, no dia 21 de maio. A cerimônia do projeto “Bebês para o Céu” começou com a celebração eucarística presidida pelo bispo auxiliar de Quito, dom Danilo Echeverría. Em sua homilia, ele disse que os bebês “morreram de forma violenta” e foram deixados nas mãos misericordiosas de Deus.

A coordenadora técnica do projeto “Bebês para o Céu”, Amparo Medina, disse à ACI Prensa que a iniciativa nasceu há 3 anos quando bebês recém-nascidos afogados foram encontrados em um parque em Quito. “Junto com essa notícia, veio a notícia de um cachorro que foi abandonado no mesmo parque. A notícia dos bebês abandonados e praticamente mortos no parque, por afogamento ou abandono, durou exatamente 30 segundos. Mas a notícia do cachorro durou 8 dias”, lamentou.

Medina contou que aquela notícia abalou a Pastoral da Família, Pastoral da Vida e os grupos pró-vida em geral, por evidenciar “até que ponto a desumanização dos bebês em gestação está chegando, pois são praticamente uma notícia qualquer em um noticiário”, menos importante que o abandono de um cachorro.

A coordenadora técnica informou que, quando foi ao necrotério pedir os restos mortais dos bebês, lhe contaram que havia “mais de 90 restos” congelados e pediram ajuda para o sepultamento daqueles bebês. Em coordenação com o até então arcebispo de Quito, dom Fausto Trávez, e com o coordenador responsável dos projetos da Pastoral da Família, dom Echeverría, foi feito um acordo entre criminalistas, o Ministério Público, a arquidiocese de Quito e o cemitério Santa Rosa. O cemitério doou “um espaço muito bonito no parque”, disse Medina, para dar sepultamento cristão aos bebês. Em 2018 foi possível realizar o enterro do primeiro grupo de 80 bebês.

Segundo Medina, embora não se saiba se todas as crianças sepultadas pelo projeto são vítimas de aborto, sabe-se que todos os recém-nascidos encontrados são “bebês abandonados vivos e que morreram no abandono”.

Medina relatou em 2019 e 2020 não foi possivel sepultar bebês porque a então ministra María Paula Romo se opôs à celebração de missa pelas crianças por ser o Equador um estado laico. A ministra do governo esquerdista de Lenin Moreno também alegou que dar sepultura aos bebês seria “dar uma mensagem de que o aborto é algo ruim”. “Ela considerou que a mensagem que estava sendo passada com o sepultamento desses bebês humanizou os fetos e os tornou um motor para a questão pró-vida”, disse Medina. Medina disse que o projeto busca destacar a importância de dar sepultamento cristão a esses bebês “que estão sendo congelados, que estão na morgue, que estão em um necrotério e que foram abandonados”. Além disso, afirmou, é preciso mostrar que os bebês “não são coisas, não são objetos”, são crianças que merecem “amor e respeito como qualquer outra pessoa”.

As pessoas têm que perceber que “quando um bebê perde a vida no ventre da mãe, ele ainda é uma criança, ainda é um bebê, ainda é uma pessoa e merece o mesmo tratamento digno que qualquer outro ser humano”, acrescentou.

Medina afirmou que, como mães e pais de família, procuram fazer pelo filho do outro o que gostariam que fizessem pelo seu, e destacou que esses bebês, apesar de terem sido abandonados, foram “enterrados com todo o seu amor e com todo o cuidado que todo ser humano merece”.

Na cerimônia de sepultamento de 21 de maio, o bispo Echeverría afirmou que uma das realidades dolorosas do mundo atual é que “só se valorizam as coisas caras, que têm um grande valor econômico” e o que for gratuito “fica em segundo plano”. Deus dá a vida, o “dom mais valioso”, que é cada vez menos valorizado, disse.

Dom Echeverría observou que hoje se fala do “direito de matar alguém”, não apenas os bebês no ventre da mãe, mas todas as pessoas que “supostamente são um estorvo para a sociedade”. “A vida, especialmente a vida de um ser inocente, de um ser indefeso, tornou-se algo negociável, não é mais considerada sagrada”, lamentou.

Em oração, o bispo pediu ao Senhor que, neste confronto com a realidade atual, “recuperemos aquele sentido inviolável da vida humana, ainda mais se for uma vida humana inocente e indefesa”. “Aquela vida humana que não tem voz para reclamar, que não tem presença a ser notada e que necessita de pessoas com grande coração, com profundo sentido de dignidade, para fazer valer os seus direitos, para fazer valer o dom extraordinário que receberam ao ser chamadas à existência”, afirmou.

O bispo lamentou que o ser humano seja capaz de causar a morte “de forma violenta, agressiva, de uma maneira que impede quem recebe este dom extraordinário de desenvolver os dons que o próprio Deus lhe deu”.

Dom Echeverría pediu a Deus para que mova o coração dos cidadãos para compreender que “a vida humana é sagrada, que nenhuma pessoa pode ser violada”, especialmente se for inocente.

Também pediu à Virgem Maria e a São José que ajudem a cuidar da vida inocente, pois “souberam cuidar da vida de seu filho quando viram que ele estava sendo perseguido por Herodes”, e que movam os fiéis a enfrentar as dificuldades, como o fizeram, “para defender a vida, para que a vida seja reconhecida pelo que é, um bem inviolável, um bem sagrado, um bem intangível”.

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