O cardeal Christoph Schönborn, Emérito de Viena, disse neste domingo,28, que a rejeição do Vaticano às bênçãos para casais do mesmo sexo foi marcada por um “claro erro de comunicação”. Renovando sua crítica anterior à intervenção da Congregação para a Doutrina da Fé (CDF), o arcebispo de Viena disse à Austrian Broadcasting Corporation (O.R.F) que ele estava preocupado com o momento e a forma que a decisão transmitida.

“Não fiquei feliz - nem com o momento nem com a forma como a comunicação estava sendo feita”, disse ele no programa de debates “Pressestunde”.

A CNA Deutsch, agência de notícias em língua alemã do grupo ACI, relatou que Schönborn também lamentou que casais do mesmo sexo tenham se sentido magoados pela decisão.

O cardeal de 76 anos, que ajudou a redigir o Catecismo da Igreja Católica promulgado por São João Paulo II, disse que apreciava a intenção do responsum de ressaltar o significado do casamento sacramental entre um homem e uma mulher mas argumentou que a declaração do Vaticano foi prejudicada por um “claro erro de comunicação”, ocorrido após a bem-sucedida viagem do Papa ao Iraque.

A Igreja deve ser sempre “mater et magistra” (mãe e professora), disse ele, mas “primeiro vem a mãe”. Ele disse que, por esta razão, compreendia as pessoas que se perguntavam: "Esta mãe não tem uma bênção para mim?"

Ao mesmo tempo, o purpurado declarou: “Devemos falar menos de sexualidade e mais de amor; mais sobre relacionamentos de sucesso e menos sobre o que é permitido e o que não é”.

Schönborn, observou que serviu como membro da CDF por 25 anos e disse lamentar que o comitê ao qual ele pertence não tenha sido consultado sobre esta "questão delicada".

A CDF publicou um “Responsum ad dubium” em 15 de março, respondendo à pergunta: “a Igreja tem o poder de dar a bênção às uniões de pessoas do mesmo sexo?” A congregação respondeu: “Negativo”, explicando seu raciocínio em uma “nota explicativa” e um comentário que o acompanha. A nota da CDF também afirmava que o texto havia sido publicado com o consentimento do Papa Francisco.

A entrevista da ORF marcou a segunda vez que Schönborn criticou publicamente as declarações da CDF contrárias às bênçãos para casais homossexuais.

Anteriormente, falando ao jornal diocesano Der Sonntag em entrevista publicada no dia 24 de março, ele também comparou a Igreja a uma mãe, dizendo: “uma mãe não se recusa a abençoar” seus filhos, “mesmo quando seu filho ou sua filha estão passando por um problema na vida”.

O arcebispo Franz Lackner, sucessor de Schönborn como presidente da conferência episcopal austríaca, também expressou reservas sobre o documento do CDF.

“É difícil de acreditar que nenhum acompanhamento ritual seja possível pela Igreja nestes casos”, afirmou Dom Lackner.

O Responsum da Congregação para a Doutrina da Fé não diz de onde provém a pergunta, porém sabe-se que no Caminho Sinodal, a série de reuniões de bispos e padres, religiosos e leigos alemães com o fim de implementar novas formas de pastoral no país, o tema das bênçãos a casais do mesmo sexo tem sido tratado. Vale recordar que tanto na Áustria como na Alemanha alguns sacerdotes católicos já realizam bênçãos para casais homossexuais e pretendem seguir realizando-as apesar da resposta definitiva de Roma.

Por parte dos bispos alemães, o grupo dos que são favoráveis à bênção de casais do mesmo sexo inclue o bispo Georg Bätzing, presidente da conferência episcopal alemã, o cardeal Reinhard Marx de Munique, o bispo Franz-Josef Bode de Osnabrück, o bispo Helmut Dieser de Aachen, o bispo Peter Kohlgraf de Mainz e Heinrich Timmerevers, Arcebispo de Dresden-Meissen.

O bispo Franz-Josef Overbeck, de Essen, disse em 29 de março que não tomaria medidas disciplinares contra padres que abençoam casais do mesmo sexo.

Entretanto, outros bispos alemães saudaram o esclarecimento do Vaticano, incluindo o cardeal Rainer Maria Woelki de Colônia (a maior diocese do país), o bispo Stephan Burger de Freiburg, o bispo Ulrich Neymeyer de Erfurt, o bispo Gregor Maria Hanke de Eichstätt, o bispo Wolfgang Ipolt de Görlitz, o bispo Stefan Oster de Passau e Bispo Rudolf Voderholzer, de Regensburg.

Em 27 de março, representantes do “Caminho Sinodal” da Igreja alemã apresentaram uma petição com 2.600 assinaturas de agentes pastorais masculinos e femininos, incluindo padres católicos e não-católicos, a favor da bênção de uniões entre pessoas do mesmo sexo.

CNA Deutsch informou que a petição foi entregue ao bispo Dieser, co-presidente do fórum do Caminho Sinodal sobre sexualidade, em um evento realizado sob a bandeira do arco-íris e a bandeira do Comitê Central dos Católicos Alemães (ZdK), um órgão laical de supervisão do processo sinodal junto aos bispos alemães.

Também esteve presente no evento Birgit Mock, que junto com o bispo Dieser dirigem o fórum sobre sexualidade do Caminho Sinodal. Ela também atua como porta-voz para temas de política familiar do ZdK e é vice-presidente da Associação de Mulheres Católicas Alemãs (KDFB).

Segundo um comunicado da Via Sinodal, Mock disse: “É nossa preocupação ancorar a sexualidade como uma força positiva nos ensinamentos da Igreja. Forçar casais que vivem em fidelidade e apreciação mútua a negar sua sexualidade em relacionamentos amorosos como casal não corresponde à nossa imagem de homem e de Deus”.

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“Esta reavaliação oficial da Igreja sobre a sexualidade também é importante para nós do ZdK, para que no futuro os ministros não tenham que decidir apenas de acordo com sua consciência ao abençoar casais do mesmo sexo. O ZdK defende que tal ritual de bênção seja elaborado para todas as dioceses alemãs”, diz Mock.

“É precisamente em nosso fórum que estamos debatendo este assunto de grande atualidade, cujo conteúdo levaremos a Roma”, comentou também Dom Helmut Dieser que afirmou também que a resposta da CDF causou “irritação e aborrecimento”.

“Posso muito bem imaginar que os agentes pastorais no terreno estão atualmente passando por uma severa prova. Gostaríamos de incentivá-los a participar do debate teológico”.

“O reconhecimento da sexualidade com suas múltiplas dimensões e mudanças no curso da vida, em última análise, também beneficia a apreciação de um casamento entre homem e mulher celebrado sacramentalmente”, resume o bispo de Aachen, Dom Helmut Dieser.

Em sua nota explicativa, a CDF afirma: “A comunidade cristã e seus pastores são chamados a acolher com respeito e sensibilidade as pessoas com inclinações homossexuais, e saberão encontrar os meios mais adequados e coerentes com o ensinamento da Igreja para lhes anunciar o Evangelho em sua plenitude”.

“Ao mesmo tempo, devem reconhecer a genuína proximidade da Igreja - que reza por eles, os acompanha e compartilha seu caminho de fé cristã - e receber os ensinamentos com sincera abertura”.

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