No dia 28 de dezembro, começaram a circular nas redes sociais duas gravações feitas secretamente na sede da ONG argentina “Casa FUSA”, filial da IPPF (International Planned Parenthood Federation), nas quais se observam duas colaboradoras oferecendo aborto clandestino para uma mulher com oito semanas de gestação.

O aborto na Argentina é um crime descrito no Código Penal, embora estabeleça casos especiais de aborto não punível sob o fundamento de estupro e perigo para a vida ou para a saúde da mãe. Após a votação de ontem, o aborto poderá ser completamente despenalizado.

A produtora Faro Films, que colocou os dois vídeos no YouTube com legendas, indicou que as gravações foram realizadas em 2018 por uma mulher que pediu para ser chamada de “María”, para proteger a sua identidade. Os vídeos também estão circulando através das redes sociais e WhatsApp.

Segundo explica, a mulher foi à sede da Casa FUSA para "pedir conselhos porque estava grávida de 8 semanas e não sabia o que fazer".

Na primeira consulta, como se pode verificar no vídeo, a conselheira da Casa FUSA, Virgínia Braga, em uma entrevista onde havia outras duas gestantes, diz que abortar é ou não “decisão delas”, porque continuar uma “gravidez indesejada” é como uma “tortura”. Além disso, afirma que abortar “é menos perigoso que um parto”.

Em seguida, Braga oferece a pílula Misoprostol, usada para provocar abortos. Também oferece aborto por aspiração manual a vácuo (AMIU) a preços supostamente subsidiados por “doações”. Além disso, exorta as mulheres a encobrir essa prática como um "risco de complicações médicas".

Segundo Braga, o que foi oferecido "não é um aborto clandestino".

O segundo vídeo secreto ocorre no contexto de uma segunda consulta. Na gravação, a recepcionista da Casa FUSA lhes dá a dose de Misoprostol e uma funcionária da entidade explica o passo a passo de como a mulher pode realizar o aborto em casa. Além disso, lhe diz que "quando começar o sangramento, não entre em pânico se for muito abundante", e que "você verá mais tecidos do que está acostumada”.

“Normalmente o absorvente higiênico absorve, desta vez é possível que não, [pode ser] que veja pedaços, que veja coisas, parece fígado, são tecidos. Sim? Não acho que você verá nada com formas nas oito semanas. São coisas amorfas”, disse a colaboradora da Casa FUSA.

Em declarações à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, o advogado argentino Santiago Daniel María Ruiz Rocha acredita que o mais grave de que estes vídeos saiam à luz é que se demonstre que “estão cometendo um assassinato na clandestinidade com fundos que provêm do exterior, o que revela uma manobra terrível”.

Ruiz assegura que “a Casa FUSA fica muito mal, porque vinha negando que realiza abortos clandestinos” e “este vídeo demonstra sua mentira e confirma tudo o que o setor pró-vida esteve dizendo permanentemente”.

Sobre o aspecto jurídico, o advogado assinala que “o aborto, da forma como estão oferecendo [nos vídeos] é totalmente ilegal”. Hoje a lei foi aprovada no Senado, agora “qualquer tipo de denúncia que for feita sobre fatos passados ​​vai acabar tendo uma lei penal mais benigna”, criticou.

“Esse projeto de lei que permite o assassinato de uma pessoa até o nono mês de gravidez é terrível, afirmou o advogado.

Na quarta-feira, 30 de dezembro, após 12 horas de debate, o Senado argentino aprovou o projeto de legalização do aborto promovido pelo governo Alberto Fernández.

O projeto de lei que entrou no Congresso Nacional em 2 de dezembro, como promessa de campanha de Fernández, obteve 38 votos a favor, 29 contra e 1 abstenção. Houve quatro senadores ausentes.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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