O Vaticano publicou nesta sexta-feira, 4 de dezembro, o Vade-mécum Ecumênico intitulado "O Bispo e a Unidade dos Cristãos" que o Papa Francisco assinou em 5 de junho.

O texto, assinado pelo Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos, Cardeal Kurt Koch, após um trabalho de quase três anos, está dividido em duas partes e 42 pontos.

Além disso, ao longo do texto incluem-se várias recomendações práticas para sua aplicação e conclui com um apêndice que especifica quem são os parceiros de diálogo da Igreja Católica em nível internacional

Como explica o Cardeal Koch no prefácio do Vade-mécum, seu objetivo é ajudar os bispos diocesanos e eparquiais a "melhor compreender e cumprir sua responsabilidade ecumênica".

“Colocamos esta obra à disposição dos bispos de todo o mundo, desejando que em suas páginas encontrem orientações claras e úteis que lhes ajudem a orientar as Igrejas locais, confiadas ao seu ministério pastoral, em direção àquela unidade pela qual orou o Senhor e pela qual a Igreja é irrevogavelmente chamada”, assinala o Cardeal.

Da mesma forma, na coletiva de imprensa de apresentação do documento, destacou que este Vade-mécum "foi pensado como um guia, uma bússola ou como um companheiro de viagem para o caminho ecumênico dos Bispos junto às suas dioceses".

Explicou também que “as diretrizes do Vade-mécum se baseiam no Decreto Unitatis redintegratio do Concílio Vaticano II, na Encíclica Ut unum synt e em dois documentos do Pontifício Conselho: o Diretório Ecumênico e A dimensão ecumênica na formação daqueles que se dedicam ao ministério pastoral”.

O documento apresentado hoje não é uma repetição desses documentos, mas "propõe um breve resumo, atualizado e enriquecido pelos temas realizados durante os últimos pontificados".

A introdução reforça que “a busca da unidade é intrínseca à natureza da Igreja” e, portanto, “a unidade dos cristãos” é uma “vocação de toda a Igreja”.

Assinala que entre os católicos e os demais cristãos existe "uma comunhão real, embora incompleta", e destaca que esta comunhão "deve ser aprofundada simultaneamente em vários níveis".

Também ressalta que “o bispo, como pastor do rebanho, tem a responsabilidade precisa de reunir todos na unidade. Ele é o princípio e o fundamento visível da unidade na sua Igreja particular”.

A promoção do ecumenismo dentro da Igreja Católica

A primeira parte do documento, destaca que a busca da unidade é "um desafio sobretudo para os católicos". Este desafio requer uma “renovação interior” que implica “um esforço que se refere tanto às estruturas eclesiais como à formação ecumênica de todo o povo de Deus”.

Recorda que é "responsabilidade do bispo guiar e dirigir as iniciativas ecumênicas". Também recorda a necessidade de que o povo esteja "devidamente disposto para o diálogo e o compromisso ecumênico".

Para isso, é necessária uma formação, que é responsabilidade do bispo, para “garantir que os fiéis da sua diocese estejam devidamente preparados para trabalhar com os outros cristãos”.

Indica que “a dimensão ecumênica deve estar presente em todos os aspectos e disciplinas da formação cristã”.

Destaca que “esta formação se realize mediante o estudo e a pregação da Palavra, a catequese, a liturgia e a vida espiritual, e em diversos contextos, como a família, a paróquia, a escola e as associações laicais".

Além disso, sugere uma "abordagem ecumênica do uso da mídia" e oferece uma série de "recomendações para sites e páginas da web diocesanas", para que "a preocupação da Igreja pela unidade dos Cristãos em obediência a Cristo, assim como o amor e a estima por outras comunidades cristãs, sejam imediatamente visíveis em nossas páginas web diocesanas”.

A Igreja Católica em suas relações com outros cristãos

A segunda parte do documento detalha "as várias maneiras de se relacionar com outros cristãos". Em primeiro lugar, menciona-se um ecumenismo espiritual.

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Nesse sentido, afirma que “o ecumenismo espiritual consiste não só em rezar pela unidade dos cristãos, mas também em uma conversão do coração e santidade de vida”. Os católicos são convidados a "buscar oportunidades para rezar com outros cristãos", e observa que "certas formas de oração são particularmente adequadas para a busca da unidade cristã". Especificamente, propõe “recitar juntos os salmos e os cânticos das Escrituras”.

Destaca a eficácia da oração pela unidade na Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos e incentiva a “rezar uns pelos outros e pelas necessidades do mundo”.

Do mesmo modo, recorda que "os católicos compartilham as Sagradas Escrituras com todos os cristãos e com muitos deles também compartilham o mesmo Lecionário Dominical".

Por isso, destaca que "este patrimônio bíblico comum oferece oportunidades de convivência para a oração e o diálogo baseados na Escritura, para a lectio divina, para publicações e traduções conjuntas, e mesmo para peregrinações ecumênicas aos lugares sagrados da Bíblia".

As festas e os ciclos litúrgicos, que “da mesma forma compartilhamos, com a maioria das outras tradições cristãs, os grandes momentos do calendário litúrgico”, “permitem-nos preparar juntos para celebrar as principais festas cristãs”.

A devoção aos santos e mártires comuns é destacada como uma oportunidade para “fortalecer os laços de unidade com outros cristãos, promovendo as devoções que já celebram em comum”.

Outra modalidade proposta no documento para se relacionar com os outros cristãos é o “diálogo da caridade”.

Indica que “o diálogo da caridade não se refere apenas à fraternidade humana, mas também aos laços de uma comunhão forjada no batismo”.

“O diálogo da caridade se constrói mediante a soma de iniciativas simples que fortalecem os laços da comunhão: a troca de mensagens ou delegações em ocasiões especiais; visitas recíprocas, encontros entre líderes pastorais locais; e os acordos entre comunidades ou instituições (dioceses, paróquias, seminários, escolas e coros). Assim, com palavras e gestos demonstramos o nosso amor não só para com os nossos irmãos e irmãs em Cristo, mas também para com as comunidades cristãs a que pertencem, porque reconhecemos e apreciamos com alegria os tesouros verdadeiramente cristãos que se encontram nelas”.

Uma terceira modalidade é "o diálogo da verdade". Um “diálogo como troca de dons”, um “diálogo que nos leve a toda a verdade”, “um diálogo teológico a nível internacional, nacional e diocesano”.

Este último se apresenta como essencial para o ecumenismo porque através do diálogo teológico “são abordadas as discrepâncias doutrinárias que historicamente causaram divisões, deixando de lado a linguagem polêmica e os preconceitos do passado, e partindo da tradição comum”.

“Esses diálogos elaboraram documentos nos quais tentaram determinar até que ponto se professa a mesma fé: estudaram suas diferenças e tentaram aumentar o que os interlocutores possuem em comum, identificando as áreas em que é necessária uma reflexão mais aprofundada”.

Em última análise, “os resultados desses diálogos fornecem a estrutura para discernir o que podemos e não podemos fazer juntos, com base na fé comum”.

A quarta modalidade proposta é a do “diálogo de vida”, que implica “uma expressão concreta na ação conjunta na pastoral, no serviço ao mundo e através da cultura”.

No âmbito pastoral, faz-se um apelo a aproveitar as necessidades de algumas partes do mundo, devido ao contexto das comunidades locais de “ministério compartilhado e recursos compartilhados”.

Por exemplo, “em muitas partes do mundo, e de várias maneiras, ministros cristãos de diferentes tradições trabalham juntos na pastoral em hospitais, prisões, forças armadas, universidades e outras capelanias”.

São convidados também a “colaborar com outros cristãos no campo da catequese”, para o qual o Catecismo da Igreja Católica “se revelou uma ferramenta muito útil”.

Assinala que “os casamentos mistos (entre católicos e outros cristãos) não devem ser considerados problemas, pois muitas vezes são um lugar privilegiado onde se constrói a unidade dos cristãos”.

Nestes casos, o Vade-mécum insiste na necessidade de dar a essas famílias um cuidado pastoral particular: “As reuniões entre os pastores cristãos, destinadas a apoiar e manter esses matrimônios, podem ser uma excelente ocasião de colaboração ecumênica”.

Sobre a possibilidade de “compartilhar a vida sacramental”, recorda-se que “a participação nos sacramentos da Eucaristia, da reconciliação e da unção se limita àqueles que estão em plena comunhão”.

No âmbito do ecumenismo prático, convida a cooperar entre os cristãos, “unindo seus esforços comuns” para “defender a dignidade humana e aliviar os sofrimentos da fome, das catástrofes naturais, do analfabetismo, da pobreza, da carência habitacional e da miséria. distribuição desigual de riqueza”.

Finalmente, sobre o ecumenismo cultural, lamenta que “muitas vezes, divergências teológicas surgiram de dificuldades de compreensão mútua derivadas de diferenças culturais”.

Por este motivo, destaca a importância do “esforço dos cristãos para melhor compreender as suas respectivas culturas, conscientes de que, para além das diferenças culturais, partilham a mesma fé expressa de maneiras diferentes e em graus diversos”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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