Manifestações multitudinárias ocorreram no sábado, 28 de novembro, em toda a Argentina para dizer ao governo do presidente Alberto Fernández que a maioria do país é celeste, defende a vida e rejeita o aborto.

As manifestações foram realizadas em todo o território, segundo os organizadores em mais de 500 cidades, com o lema #LaMayoríaCeleste (#AMaioriaCeleste), para expressar oposição ao projeto de lei, promovido por Fernández, que visa legalizar o aborto no país, e que poderia ser votado no próximo dia 10 de dezembro.  

Com marchas, protestos, manifestações e caravanas, os argentinos saíram às ruas de Buenos Aires, Neuquén, Rosário, Tierra del Fuego, Paraná, Jujuy, Resistencia, Posadas, La Rioja, Santa Fé, Córdoba, Corrientes, Bariloche, Chubut, Salta , entre outras.

Além da Argentina, em diversos países como Peru, Costa Rica, El Salvador, entre outros, grupos pró-vida realizaram protestos em frente às embaixadas argentinas.

Com slogans como “Legal ou ilegal o aborto mata igual”, “Não temos medo de defender a verdade”, “Os que defendemos a vida somos mais, somos a maioria celeste”, entre outro, os argentinos dizem não à legalização do aborto.

Uma das participantes da marcha em Buenos Aires foi a deputada Victoria Morales Gorleri, que há poucos dias recebeu uma carta do Papa Francisco, em resposta a uma carta enviada por duas mulheres de um dos bairros populares da capital, Villa 31, preocupadas com o projeto de lei do aborto promovido pelo presidente Fernández.

“Francisco me escreveu uma carta, dirigida às mulheres, onde diz que não é justo contratar um matador de aluguel para resolver um problema”, recordou a deputada.

“Temos que resolver o problema lutando contra a pobreza e criando empregos. Os caminhos são diferentes e não a eliminação de uma vida”. “É um fracasso para uma nação legalizar a morte de um ser humano”, acrescentou.

“Para além dos credos e da própria Constituição, é uma questão de ética, de uma visão de humanidade. Se legalizarmos a decisão sobre a vida humana para resolver um problema, teremos um fim de ano muito triste porque nos tornaremos um povo que se distancia cada vez mais da ética ligada ao ser humano”, destacou Morales.

Por sua vez, o conhecido cientista político e especialista em ideologia de gênero, Agustín Laje, afirmou que “a vida não é apenas um direito, mas um direito fundamental, sem o qual nenhum outro direito faz sentido”.

O que toda pessoa “precisa, em primeiro lugar, é o direito de viver para exercer qualquer outro direito. É até uma questão de lógica”, frisou. Do mesmo modo, alertou que “a ruptura dos direitos humanos começa pela ruptura do direito à vida”, como se pretende fazer com a lei do aborto.

Camila Duro, da Unidade Pró-Vida Argentina, explicou à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, que as grandes manifestações de sábado aconteceram porque o governo Fernández “quer legalizar o aborto de modo expresso, virando as costas à maioria do povo argentino, por isso procuramos manifestar nossa insatisfação com essa medida”.

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A presidente de Médicos pela Vida Argentina, Dra. María José Mancino, por sua vez, disse à ACI Prensa que, ao contrário do que dizem os que apoiam a regra antivida do governo, “o aborto não é um problema de saúde ou um problema prioritário. Na Argentina existem muitos outros problemas que não estão sendo considerados”.

“Na Argentina, em 2018, o Senado já rejeitou e o povo já saiu às ruas para dizer que não queremos o aborto. O país não precisa estar dividido em um clima político e econômico tão tenso".

Na madrugada de 9 de agosto de 2018, o Senado argentino rejeitou a lei do aborto por 38 votos a 31, uma histórica vitória pró-vida que demonstrou a vontade do povo argentino.

Dra. Mancino destacou a necessidade de “defender os valores, tradição e família do país. O aborto é uma questão que nos divide a todos. Com esta lei, querem matar os futuros argentinos, compatriotas, cidadãos do nosso país”.

Raúl Magnasco, da Más Vida Argentina, explicou à ACI Prensa que "vivemos tempos muito difíceis em nosso país e é importante que nos comprometamos com a defesa da vida".

“Está claro, mais claro depois de 2018, quando foi debatido o projeto anterior, que o aborto é algo que quase toda a população argentina rejeita. Talvez antes de 2018 não fosse tão claro, agora é”.

Magnasco especificou que “a reivindicação civil é para respeitar a vontade do povo perante um governo que promove a agenda do aborto de acordo com os interesses ou exigências do Fundo Monetário Internacional, chamando-os de direitos ou saúde sexual e reprodutiva”.

Essas manifestações multitudinárias são respostas aos “requisitos de algumas minorias que não representam a vontade do povo. O fato de que os deputados não representem a vontade popular da mesma forma é algo que gera irritação e muito desconforto na população, por isso se fortalece o compromisso de defender a vida em todos os âmbitos”.

A ex-deputada Cynthia Hotton disse a esse respeito que, com a lei do aborto, “o governo nacional pretende colocar [o tema] na agenda para dividir a sociedade e distrair. O presidente esconde o fracasso da saúde pública, da pobreza e da economia por trás dessa iniciativa”.

“As pessoas estão fartas das mentiras e da manipulação política de tudo: desde a pandemia e posse de terras até a despedida de Diego Maradona. O resultado é sempre o mesmo: depois da imperícia, quem mais sofre é o povo. Com o aborto acontece a mesma coisa. As pessoas estão cansadas do lenço verde como a panaceia para todos os problemas das mulheres e da sociedade”.

Na Argentina, as feministas e sua agenda têm como símbolo o lenço verde, já o lenço celeste simboliza a causa pró-vida.

“Enquanto o orçamento é desperdiçado entre feministas radicais e abortistas em todos os ministérios, a pobreza, a insegurança e a violência continuam crescendo; o Sistema de Saúde continua colapsando; os médicos, mal pagos, continuam sobrecarregados; as mulheres grávidas e os bebês em gestação continuam morrendo nas províncias mais pobres, mas também na cidade de Buenos Aires”, lamentou Hotton.

"O lenço verde parece ser para Alberto Fernández a única bandeira que permanece de pé", sublinhou.

O projeto de lei do aborto

O projeto de lei do aborto intitula-se "Regulamentação do acesso à interrupção voluntária da gravidez e atenção pós-aborto" e foi elaborado pelos ministérios da Saúde e das Mulheres, Gêneros e Diversidades em coordenação com a Secretaria Técnica e Jurídica da Presidência da República.

Junto com este texto, Fernández também apresentou o projeto de “Atenção e cuidado integral da saúde durante a gravidez e a primeira infância”, elaborado pelo departamento de Desenvolvimento Social. Isso foi considerado como uma espécie de “estratégia enganosa” que permitiria a aprovação do primeiro.

Ambos os projetos começarão a ser tratados em paralelo e em sessões online a partir da próxima semana.

Até o momento, estão previstos dois dias para que se apresentem entre 30 e 60 conferencistas da área científica, de saúde, ética-religiosa e judicial, tendo cada um com 7 minutos.

O objetivo seria discutir os projetos em dezembro para que uma vez votado no plenário da Câmara dos Deputados e se for aprovado - o que se chama de “meia sanção” -, deveria ingressar no Senado para debate.

O projeto de 2018 foi aprovado na Câmara dos Deputados e acabou rejeitado pela maioria no Senado.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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