Em uma medida sem precedentes, dois dias antes da tradicional celebração da independência, o Exército mexicano bloqueou, em 13 de setembro, o acesso à Catedral Metropolitana do México.

Através do Facebook, a Catedral do México informou na noite de 13 de setembro que “o Exército tomou a Praça da Constituição e por isso foi difícil para quem desejava participar da Eucaristia entrar na Catedral Metropolitana”.

“Acredito que nos próximos dias teremos os mesmos problemas”, disse a Catedral em sua publicação, lamentando que “não tenhamos notícias claras da autoridade federal e da CDMX (Cidade do México) para tomar as providências necessárias e convenientemente informar aos paroquianos”.

Devido à pandemia de coronavírus COVID-19, este ano a celebração da independência do México, que começa na noite de 15 de setembro com o tradicional “Grito de Dores” e se estende até o dia seguinte, será realizada sem a presença do público na Praça da Constituição, conhecida como Zócalo.

Em coletiva de imprensa no dia 11 de setembro, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que no dia 15 “vamos realizar toda a cerimônia, só que não haverá participação dos cidadãos devido à pandemia; porém, haverá uma representação com imagens da nossa República, todo o território nacional vai estar representado, iluminado na praça do Zócalo e vai ser acendida a chama da esperança, uma tocha”.

“No dia seguinte haverá comemoração e entrega, no dia 16, de reconhecimentos aos profissionais de saúde que ajudaram a salvar vidas devido à pandemia. Vamos hastear a bandeira e começa a cerimônia. Sim, haverá apresentações das Forças Armadas, da Marinha e da Defesa, da Guarda Nacional, no Zócalo, com uma distância saudável, com os veículos de cada grupamento”, disse López Obrador.

"Inaptidão e falta de sensibilidade"

Em diálogo com a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, Pe. Hugo Valdemar, cônego penitenciário da Arquidiocese Primaz do México e membro do Conselho da Catedral, destacou que o bloqueio de acesso ao templo responde “a uma total desorganização do Governo Federal, o caos é generalizado na atual administração. Não se vê a aplicação dos regulamentos, protocolos e procedimentos institucionais existentes em governos anteriores, o que fala de inaptidão e falta de sensibilidade”.

O sacerdote mexicano, que durante 15 anos foi Diretor de Comunicação da Arquidiocese do México durante o governo pastoral do Cardeal Norberto Rivera, lembrou que situação semelhante nunca ocorreu com as administrações anteriores, porque “sempre houve diálogo e acordos entre o Governo Federal , da Cidade e da Catedral, o que não está acontecendo agora”.

“O que temos hoje é uma imposição inadmissível para nós”, disse.

Para o Pe. Valdemar, a atual pandemia não justifica uma medida como a tomada em 13 de setembro pelas autoridades mexicanas, pois “há protocolos e procedimentos que devem ser respeitados, mesmo sendo uma emergência. Mas, o atual governo aparentemente não respeita nada nem ninguém, age arbitrariamente, como se fosse uma ditadura”.

Ao ver a disposição do Exército, ressaltou, “nossa reação foi de total surpresa e espanto, pois o acordo é que, como todos os anos, a Catedral fecharia no dia 15 a partir do meio-dia e no dia 16 permaneceria fechada devido ao desfile. No entanto, eles não respeitaram este acordo”.

Pe. Valdemar também expressou seu desejo de que “o Governo Federal se comporte à altura e respeite a liberdade religiosa que foi violada com esta medida arbitrária e carece de sensibilidade para com os fiéis que vêm à Catedral”.

“Da mesma forma, seria de se esperar que as autoridades que violaram este direito sejam punidas para que tal incidente vergonhoso e lamentável não volte a acontecer”, acrescentou.

O sacerdote mexicano pediu aos fiéis que neste momento “sejam compreensivos com as autoridades da Catedral que nada tem a ver com esta medida abusiva por parte do Exército e do Governo Federal, e exijam o respeito pela liberdade religiosa estipulada em nossa Constituição”.

O exército não “tomou” a Catedral

Por sua vez, Pe. José de Jesús Aguilar, arcipreste da Catedral Metropolitana do México, especificou em um vídeo enviado à ACI Prensa que, ao contrário de algumas publicações veiculadas nas redes sociais, o Exército não "tomou" o templo.

Embora tenha lamentado a falta de comunicação das autoridades com os responsáveis pela Catedral nesta ocasião, Pe. Aguilar frisou que “o Exército sempre entrou na Catedral. Não é, portanto, propriamente uma ‘tomada’ da Catedral”.

 

“Durante muitíssimos anos, o Exército sempre teve uma aproximação à Catedral e aos seus arredores nos dias anteriores ao Grito, para buscar e garantir a segurança de todos os presentes, assim como a do senhor Presidente. Sempre houve uma colaboração magnífica, uma magnífica informação, porque, inclusive, membros do Exército são os que normalmente sobem para tocar os sinos depois que o senhor Presidente dá o Grito, e também para controlar o acesso e o uso da pólvora queimada durante o evento”, explicou.

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O Arcipreste da Catedral Metropolitana expressou posteriormente o seu desejo de que “esta falta de comunicação que hoje ocorreu, para poder lhes informar, seja resolvida em breve. Assim espero, para que vocês tenham informação do que acontece na Catedral e em seu entorno”.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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