Em 14 de julho, os bispos do Canadá emitiram uma carta pastoral para expressar preocupação pelos idosos que recebem cuidados institucionais inadequados, situação que foi exacerbada pela pandemia de coronavírus.

A carta intitulada "Ainda dão frutos na velhice: uma lição sobre o cuidado em meio à pandemia da COVID-19", foi publicada em 14 de julho pelo Comitê Executivo da Conferência Canadense dos Bispos Católicos.

No texto, os bispos disseram que muitos idosos enfrentaram dificuldades durante a pandemia, principalmente a negligência e o isolamento. Apesar disso, destacaram que essa crise mundial também forneceu uma lição valiosa sobre a dignidade humana.

"A pandemia pode, de muitas maneiras e para muitas pessoas, servir como um lembrete importante da dignidade inerente da vida humana, seu significado e o que deveria ser mais importante na vida", assinalaram.

"Não importa o grau de isolamento e privação que cada um de nós tenha experimentado até agora nesta crise, há lições a serem aprendidas sobre a necessidade de coragem, determinação, esperança e constância", acrescentaram.

Para os bispos, uma das lições importantes vai especialmente para a geração mais jovem, porque “muito antes da COVID-19, idosos e deficientes eram frequentemente excluídos ou esquecidos, não apenas pela sociedade em geral, mas em muitos casos por suas comunidades religiosas e, inclusive, por seus entes queridos".

De maneira alarmante, antes da pandemia de coronavírus, os idosos enfrentavam uma deficiência nos cuidados de saúde mental e física, assim como um desprezo por suas necessidades emocionais, espirituais e relacionais, lamentaram os bispos.

"No início da pandemia, surgiram condições particularmente alarmantes nas instituições de longa permanência e instituições similares, que o governo e as autoridades de saúde começaram a notar", assinalaram.

“Muitos idosos [desses centros] passaram semanas praticamente sozinhos para evitar contrair o vírus inclusive dos cuidadores, e muitos deles morreram sem a presença de membros da família ou o apoio e força dos sacramentos da Igreja e do cuidado pastoral. Isso é de partir o coração".

Os bispos disseram que, segundo os relatos de cuidadores e de militares que prestam assistência militar, o cuidado, a alimentação e as necessidades higiênicas estavam desatendidas e os espaços de vida eram insuficientes.

O problema é agravado pela falta de pessoal, que inclui pouquíssimos funcionários, capacitação deficiente, remuneração insatisfatória e "muitos deles trabalhavam em várias instituições", afirmaram.

A Comissão recordou as palavras do Papa Francisco a respeito da existência de uma “cultura de usar e descartar”, na qual a maioria dos idosos são descartados, e enfatizou o papel crucial da Igreja em cuidar dos vulneráveis, doentes e idosos.

Além disso, destacaram que, neste período conturbado, as pessoas encontraram maneiras criativas de compartilhar o fardo da pandemia, que tem sido uma fonte de esperança e uma nova oportunidade para gerar uma conscientização atual das limitações e perspectivas da sociedade em torno às necessidades da humanidade.

"Esperamos que os canadenses se tornem mais conscientes de como nossa cultura prioriza a liberdade, os desejos e as escolhas das pessoas e, infelizmente, também tende a negligenciar os direitos e responsabilidades que promovem o bem comum da sociedade e a dignidade de cada pessoa, especialmente os idosos", disseram.

Para os bispos, "isso começa com o respeito e a proteção, em paz e justiça, dos direitos fundamentais e inalienáveis ​​de cada pessoa humana, assim como de seu autêntico desenvolvimento e bem-estar social em toda a comunidade".

A Comissão também se referiu à ação que os cidadãos devem adotar, à medida que as disposições para conter o vírus forem flexibilizadas.

Certos da presença de Deus, os católicos "podem avançar com confiança, generosidade, gratidão e prudência, à medida que nossos governos e autoridades de saúde trabalham pelo ‘bloqueio’ do coronavírus. Isso envolverá a reavaliação de nossas prioridades, uma análise honesta de nossos valores e estilo de vida", destacaram

Nesse sentido, exortaram “a nos permitir ser desafiados pelo chamado do Senhor e pelas necessidades atuais de nossos irmãos e irmãs”, especialmente dos idosos.

"À medida que lentamente voltamos a um estilo de vida mais normal, não vamos esquecer os idosos entre nós que ainda têm tanta sabedoria para transmitir, fé para compartilhar, histórias para contar e alegrias para oferecer".

"Permita-nos criar espaço em nossos corações, lares, famílias e comunidades para honrá-los e realmente cuidar deles em suas fraquezas e muitas necessidades. Acolhamos seu talento único de construir um mundo mais humano, amoroso, generoso, perdoador e radiante com a graça de Deus”, concluíram.

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Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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