O Arcebispo Emérito de Caracas, Cardeal Jorge Urosa Savino, afirmou que o Natal é uma ocasião para fortalecer a esperança, diante da situação que está ficando cada vez pior na Venezuela.

“A situação na Venezuela está cada vez pior, desde muitos pontos de vista. A economia se deteriora cada vez mais devido à desvalorização incessante do bolívar. Um dólar, que valia 60 bolívares há 16 meses, agora custa 47 mil. Isso significa que o custo de vida, especialmente de alimentos, disparou ”, disse o Purpurado em declarações à ACI Prensa – agência em espanhol do Grupo ACI.

"Mesmo em meio a tantas penúrias", disse o Cardeal venezuelano, "devemos fortalecer nossa prática religiosa, ir aos templos, participar da Missa dominical e receber os sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia. E viver profundamente a caridade fraterna, principalmente com os mais necessitados”.

O Arcebispo Emérito explicou que, diante da grave situação do país, “a Igreja está aproveitando o Advento para fortalecer a esperança religiosa do povo: em meio às dificuldades, o Natal, a vinda de Cristo ao mundo, o Emanuel, Deus conosco, lembra-nos que Deus nos ama, que está próximo e nos ajuda a reagir positivamente a tantas calamidades”.

"Os fiéis aproveitam todas as atividades religiosas para fortalecer sua fé e vida cristã em meio a tanta dor", destacou.

Sobre a crise, o Cardeal disse que "é incrível" que a Venezuela, um “país petroleiro, sofra com a escassez de gasolina e de gás doméstico! Algo vergonhoso e inédito! Essas coisas demonstram a incompetência do governo”.

Essas e outras situações graves, explicou o Cardeal à ACI Prensa, “provocam a emigração, o êxodo de muitos venezuelanos. E que os professores, com salários muito baixos, já não queiram continuar dando aulas. Por isso, o governo usa jovens sem formação, nem vocação nem preparação, para colocá-los nas escolas, para substituir os professores preparados”.

“Enfim, é uma situação ruim de vários ângulos. E os que mais sofrem são os mais pobres!”, lamentou o Purpurado.

Sobre o futuro político, o Cardeal disse que não se atreve a “fazer previsões. O governo tem o controle total do poder e dos meios de comunicação. Será necessário que a oposição se consolide, se unifique e exerça mais pressão para conseguir uma mudança de governo por meios democráticos. E que ofereça alternativas válidas de ação para o futuro”.

No sábado, 14 de dezembro, o ministro de Informação, Jorge Rodríguez, disse que as agências de segurança desarticularam um "plano terrorista" liderado por Leopoldo López e Juan Guaidó para atacar dois quartéis militares e gerar ações violentas em seis estados.

Sobre isso, no domingo, 15 de dezembro, Guaidó disse que a acusação do governo de Maduro é uma "novela" que só visa distrair. "Saíram novamente para distrair com a enésima novela que vendem este ano (do palácio presidencial) de Miraflores", disse Guaidó à imprensa ao finalizar uma sessão da Assembleia Nacional realizada no estado de La Guaira.

Em sua opinião, a acusação do governo demonstra que a oposição está fazendo "algo muito bem" na elaboração de um programa de protestos para 2020, bem como na busca de ajuda e recursos para responder à crise.

Com relação à ação da Igreja para ajudar os venezuelanos, o Cardeal Urosa disse que esta “continua muito ativa em dois campos pastorais muito importantes: o primeiro e principal, a evangelização e a santificação do povo, para lhes dar a força religiosa e espiritual necessária para suportar estas calamidades”.

No campo social, continuou o Cardeal, a Igreja continua oferecendo “remédios, assistência médica, a fim de ajudar os mais pobres. Isto através das paróquias, escolas, instituições religiosas e da Cáritas da Venezuela e das Cáritas diocesanas e paroquiais. Uma igreja que está próxima daqueles que sofrem”.

O Cardeal também compartilhou com ACI Prensa algumas de suas reflexões sobre a situação dos venezuelanos que foram obrigados a emigrar para outros países da região, como Colômbia, Equador, Chile e Peru, entre outros.

"Pensando em tantos venezuelanos que se viram obrigados a emigrar, aproveito a oportunidade para agradecer a acolhida que, no Peru e em outros países da América Latina como a Colômbia, meus compatriotas receberam, principalmente das igrejas de cada nação", afirmou o Cardeal Urosa.

“Espero que a violência que ocorreu em algumas partes não continue. A Venezuela foi muito acolhedora com nossos irmãos peruanos, colombianos, equatorianos e chilenos, desde os anos 1970”, continuou.

O Cardeal finalmente fez votos de que “agora muitos dos venezuelanos que sofrem o exílio encontrem boa vontade em nossos irmãos latino-americanos. Obrigado por seu apoio! Precisamos da solidariedade de nossos irmãos!”.

Além da grave escassez de alimentos, medicamentos e itens essenciais, a Venezuela também sofre com a falta de água e eletricidade.

A taxa de câmbio na Venezuela foi cotada no domingo, 15 de dezembro, a 47.104,12 bolívares por dólar no mercado paralelo, segundo o portal DolarToday.

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Ao problema da desvalorização do bolívar, soma-se a inflação que, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), chegará a 200 mil por cento (200.000%) no final de 2019.

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