O Bispo de San Cristóbal (Venezuela), Dom Mario Moronta, se dirigiu ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, pedindo-lhe que "abra os olhos" e não ignore o sofrimento e o clamor do povo.

"Abra os olhos para ver o sofrimento do povo. Escute o grito das pessoas que não querem apenas liberdade e democracia, mas também que sejam consideradas em sua dignidade", disse Dom Moronta em entrevista ao Grupo ACI nesta semana.

O também primeiro vice-presidente da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV) assegurou que, "há vários anos, o povo da Venezuela pede uma mudança de orientação sócio-política e também econômica".

"A Igreja insistiu que é o povo quem deve ser ouvido. A liderança política, social e econômica deve estar do lado do povo", expressou o Prelado.

Sobre Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional da Venezuela e reconhecido como presidente interino da Venezuela pelos Estados Unidos, União Europeia e mais de 50 países, o Bispo qualificou de forma positiva o seu “protagonismo” assumido em favor do povo.

No entanto, recordou que é o próprio povo venezuelano "quem pode e deve realizar as mudanças" no país, porque representa o "sujeito social, como ensinam os documentos da Igreja", e como se vê "em muitas manifestações" como as realizadas em 23 de janeiro, em todo o país.

Sobre o papel da Igreja em meio ao conflito, o Bispo venezuelano assegurou que "é para construir pontes" e está disposta a "fazer tudo o que for necessário para assegurar uma transição justa e pacífica".

Do mesmo modo, destacou que a Igreja promove "não apenas ações, mas também uma conscientização da necessidade de melhorar a situação e a promoção de líderes sociais que apontem o desenvolvimento integral do país".

Dom Moronta também disse que a Igreja tem feito "ações concretas em cada diocese, com o interesse de que as pessoas possam ter uma melhor qualidade de vida"; e destacou "a comunhão que existe entre as várias Igrejas da América Latina, especialmente Cúcuta, na Colômbia, com a Igreja na Venezuela".

"Isso dá garantia, porque quando as pessoas procuram uma instituição de tipo social e optam pela Igreja, vão com esperança e com a garantia de que, ainda que não recebam nada, serão atendidas e tratadas com consideração", declarou Dom Moronta.

Finalmente, relatou que, com a ajuda recebida da Igreja na Colômbia e em outros países, foram criados centros de atendimento em toda a Diocese de San Cristóbal.

"Há refeitórios, centros de atendimento, de acompanhamento, para que não sofram abuso das máfias. Aqui, sustentamo-nos com a solidariedade do próprio povo de Cúcuta, de muitas instâncias eclesiais que nos permitem receber alimentos das ‘panelas comunitárias’”, acrescentou.

A crise na Venezuela

A Venezuela vive nos últimos anos uma crise sociopolítica sem precedentes. Um dos últimos episódios foi em 23 de janeiro, quando Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional, com maioria de oposição e não reconhecida pelo governo, autoproclamou-se "presidente interino" do país.

Guaidó afirma que Nicolás Maduro usurpou o poder no país.

Em 10 de janeiro, Nicolás Maduro tomou posse em seu segundo mandato, que deverá terminar em 2025. No entanto, grande parte dos países da região, da Europa e os Estados Unidos não o reconhecem como presidente, pois afirmam que houve fraude nas eleições de 20 de maio de 2018.

Em vez disso, esses países reconheceram Guaidó como presidente interino da Venezuela e os Estados Unidos lhe ofereceram ajuda humanitária para suprir a falta de alimentos e remédios.

Até o momento, a ajuda está sendo concentrada nos centros de coleta de Cúcuta (Colômbia) e em breve também em Roraima (Brasil). Na quarta-feira, o chanceler holandês, Stef Blok, anunciou que em Curaçao, território autônomo do Reino dos Países Baixos, foi instalado o terceiro centro de coleta para receber ajuda humanitária.

No entanto, Maduro se recusou a abandonar a presidência e não reconhece Guaidó ou a legitimidade da Assembleia Nacional, a qual substituiu pela Assembleia Nacional Constituinte formada inteiramente por pessoas ligadas ao regime chavista.

Além disso, Maduro se recusa a deixar entrar a ajuda humanitária, alegando que o país não está em crise e que será o início de uma intervenção dos Estados Unidos.

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