Tim Kaine, senador pelo estado da Virgínia (Estados Unidos), voltou a votar contra um projeto de lei para proibir o aborto depois de 20 semanas de gestação, algo parecido com o que ele já havia feito em 2015.

Em sua carreira política, o senador que se declara católico e que também foi candidato a vice-presidente junto com Hillary Clinton, apoiou a legalização do aborto e do casamento gay nos Estados Unidos, a adoção de casais homossexuais e a ordenação de mulheres sacerdotes.

Em 29 de janeiro, quando votou no Senado sobre um projeto de lei que proíbe o aborto depois de 20 semanas de gestação, decidiu fazê-lo contra. As razões pelas quais ele tomou esta decisão foram colocadas no seu Twitter algumas horas antes da sessão parlamentar.

“O Senado vota hoje à noite na proposta de uma proibição do aborto de 20 semanas. Acho que este projeto de lei viola os direitos constitucionais protegidos de uma mulher e vou votar ‘não’”, disse.

Depois da votação, a plataforma norte-americana pró-vida Susan B. Anthony List citou uma carta do dia 23 de janeiro de 2018, na qual Kaine reconhece não só estar contra chamada “Lei de Proteção do Nascituro com Capacidade para a Dor”, mas, ao mesmo tempo, afirma que o que está no útero da mãe às 20 semanas ou mais é um “nascituro”.

“Esta legislação proibiria que os médicos praticassem abortos quando a idade provável depois da fecundação de um nascituro seja de 20 semanas ou mais, exceto quando seja necessário salvar a vida da mãe ou a gravidez seja consequência de uma violação”, disse na carta que ele assinou.

As reações ao voto do senador nas redes sociais não demoraram e Kaine recebeu muitas críticas.

A ativista pró-vida e o presidente de Culture of Life Africa, Obianuju Ekeocha, disse no Twitter que “os pais católicos” de Kaine devem “estar aflitos”, pois o “seu filho vendeu uma parte de sua alma à política”.

O usuário Ryan Wade disse: “Querido Tim, você afirma que se preocupa muito pelos direitos constitucionais das mulheres. Desde Roe v. Wade, os abortistas mataram mais de 60 milhões de não nascidos. Segundo as estatísticas, pelo menos a metade eram meninas. Onde está a sua preocupação pelo seu direito à vida?”.

“A sua decisão é má. Eu pensei que era um católico praticante. Você deverá responder muitas coisas diante do Senhor”, disse o sacerdote católico Eduardo Montemayor.

Uma mãe católica chamada Bridget Edwards afirma: “Como católica e mãe de um Prior (estudante do primeiro ano na universidade) estou horroizada pela sua posição. Por favor, renuncie ao seu catolicismo. Obviamente, você está fazendo isso por razões políticas ou acha que dizendo-se católico, de alguma maneira, trará algum benefício”.

O passado escuro de Tim Kaine

Em 4 de outubro de 2016, durante o debate vice-presidencial, o então candidato democrata insistiu que ele era contra o aborto, mas que, como funcionário público, não violaria a decisão de uma mulher de praticar um aborto.

“Apoiamos Roe v. Wade. Apoiamos o direito constitucional das mulheres norte-americanas de consultar a sua própria consciência e tomar a sua própria decisão sobre a gravidez”, disse.

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Refletindo sobre os comentários de Kaine no debate, em 14 de outubro de 2016, o Arcebispo do Kansas, Dom Joseph Naumann, disse que “foi doloroso ouvir o senador Kaine repetir a mesma argumentação cansativa e retorcida com o qual professa a sua oposição em relação ao aborto, enquanto justifica o seu compromisso de mantê-lo legal”.

Em 18 de setembro de 2016, quando apareceu em ‘Meet the Press’, Kaine disse: “Acha que as mulheres deveriam poder tomar suas próprias decisões sobre cuidados de saúde? Os Millennials fazem isso como Hillary Clinton e eu; Donald Trump não”.

Em meados de setembro, Kaine declarou ao ‘National Public Radio’ (NPR) que a sua fé católica se refere ao “modo em que eu vivo e às regras que sigo”. Entretanto, indicou, “não acredito que o meu trabalho como funcionário público seja fazer com que todos sigam os ensinamentos da Igreja Católica, independente da sua origem religiosa ou falta de formação religiosa”.

Em 10 de setembro de 2016, Kaine disse à ‘The Associated Press’ que acreditava que a Igreja eventualmente mudaria a sua posição sobre o casamento gay. Poucos dias depois desta declaração, o Bispo de Richmond, Dom Francis X. DiLorenzo, assegurou que esta doutrina “permanece inalterada e firme”.

Há algum tempo, quando Tim Kaine foi nomeado candidato à vice-presidência com Hillary Clinton em julho de 2016, vários bispos dos Estados Unidos falaram sobre a santidade da vida, criticando implicitamente a posição pró-aborto do candidato.

Além disso, Kaine apoiava Hillary Clinton em sua posição para revogar a Emenda Hyde, uma medida que evita que a maioria dos fundos federais financiem abortos, com exceção de casos de incesto e violação.

Entretanto, antes de estar trabalhando junto com a ex-candidata presidencial, Kaine apoiava a emenda.

Tim Kaine é um católico que considera que o seu tempo de serviço com as missões jesuítas em Honduras são a origem do seu interesse pelo serviço público.

“(Tim) Kaine é um católico devoto”, assinalou a rede norte-americana CNN em 23 de julho de 2016, enquanto ‘The Washington Post’ sublinhou que o político pratica um catolicismo “fortemente inspirado pelos jesuítas”.

Kaine, que fala espanhol fluente, serviu nos anos 1980 e 1981 em uma escola rural jesuíta em Honduras, onde ensinou carpintaria e soldagem.

Esses anos não foram marcados apenas pelo serviço missionário, mas pelo polêmico ativismo político dos jesuítas daquela época no país centro-americano.

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