O Papa Francisco inaugurou na última segunda-feira, 16, a 69° Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana (CEI), dedicada à “renovação do clero”, com um discurso no qual explicou as características que deve ter um bom sacerdote, que “não se escandaliza pelas fragilidades que agitam a alma humana”, mas aceita tornar-se partícipe e responsável pelo destino dos fiéis que o Senhor lhe encomendou.

O Santo Padre iniciou seu discurso refletindo sobre a recente celebração de Pentecostes para recordar que o Espírito Santo é quem “provoca a disponibilidade generosa e a alegria evangelizadora de tantos sacerdotes. Sem o Espírito, sabemos, não existe possibilidade de vida boa, nem de reforma”, acrescentou.

Nesse sentido, Francisco, que disse que não queria oferecer uma reflexão sistemática sobre a figura do sacerdote, convidou os bispos italianos a aproximar-se de maneira silenciosa, “quase na ponta dos pés”, a um dos tantos párocos que passam pelas nossas comunidades e perguntemo-nos com simplicidade: “Por quem e para que entrega o seu serviço? Qual é a finalidade do seu doar-se?”.

 “No nosso ministério, quantas pessoas encontramos que estão em ânsia pela falta de referências para seguir! Quantas relações feridas! Num mundo em que cada um se considera a medida de tudo, não tem mais lugar para o irmão”, expressou o Papa.

Nesse sentido, assinalou, “a vida do nosso presbítero se torna eloquente, porque diversa, alternativa”. O sacerdote, indicou o Papa, é como Moisés, que se aproximou do fogo e deixou que as chamas queimassem as suas ambições de carreira e poder e “fez um fogo também das tentações de se interpretar como um ‘devoto’, que se refugia num intimismo religioso que de espiritual tem bem pouco”.

O sacerdote, assinalou o Papa, “não se escandaliza pelas fragilidades que agitam a essência humana: ciente de ser ele mesmo um paralítico curado, é distante da frieza de um grande marcador de penalidades, como também da superficialidade de quem quer se mostrar tolerante ao bom mercado. O outro, aceita, ao contrário, de assumir responsabilidades, sentindo-se atuante e encarregado do seu destino”.

Assim, com o óleo da esperança e da consolação, o presbítero “se faz próximo de todos, atento a compartilhar o abandono e o sofrimento. Tendo aceito de não dispor de si mesmo, não tem uma agenda para defender, mas entrega todas as manhãs ao Senhor o seu tempo para se deixar encontrar com as pessoas e conhecê-las. Assim, o nosso sacerdote não é um burocrata ou um anônimo funcionário da instituição; não é consagrado a um papel empregatício, nem é movido por critérios de eficiência”.

Francisco também afirmou que o sacerdote “sabe que o Amor é tudo. Não procura garantias terrenas ou títulos honoríficos que levam a confiar no homem. O seu estilo de vida simples e essencial, sempre disponível, apresenta-o plausível aos olhos das pessoas e o aproxima aos humildes, em uma caridade pastoral que torna livres e solidários”.

“Servo da vida, caminha com o coração e o passo dos pobres”, acrescentou. “É um homem de paz e de reconciliação, um sinal e um instrumento da ternura de Deus, atento a difundir o bem com a mesma paixão com a qual os outros curam os seus interesses”.

Nesse sentido, o Pontífice disse: “O segredo do sacerdote está naquele arbusto ardente que marca a chamas a existência, a conquista, e está em conformidade com aquela de Jesus Cristo, verdade definitiva da sua vida”. A relação com Jesus o protege, fazendo-o “alheio à mundanidade espiritual que corrompe” e o leva “a abraçar a realidade cotidiana com a confiança de quem crê que a impossibilidade do homem” não permanece assim para Deus.

Em seguida, o Santo Padre convidou a refletir sobre a segunda pergunta: “Para quem entrega o serviço o nosso presbítero? ”.

“Antes mesmo de nos questionarmos sobre os destinatários do seu serviço, devemos reconhecer que o presbítero é tal, na medida em que se sente atuante da Igreja, de uma comunidade concreta da qual compartilha o caminho”, assinalou.

“Esta pertença é o sal da vida do presbítero; faz com que o seu princípio distintivo seja a comunhão, vivida com os leigos em relações que sabem valorizar a participação de cada um. Nesse tempo pobre de amizade social, a nossa primeira tarefa é aquela de construir comunidade”, assinalou.

“Do mesmo modo, para um sacerdote é vital se encontrar no cenáculo do presbitério. Essa experiência (...) liberta dos narcisismos e dos ciúmes clericais; faz crescer a estima, o apoio e a benevolência recíproca; favorece uma comunhão não somente sacramental ou jurídica, mas fraterna e concreta. No caminhar junto dos presbíteros, diferentes por idade e sensibilidade, expande-se um perfume de profecia que surpreende e fascina. A comunhão é, sem dúvida, um dos nomes da Misericórdia”, afirmou.

Francisco, dirigindo-se especificamente ao tema da assembleia da CEI, assinalou que nas reflexões sobre a renovação do clero “entra novamente o capítulo que se refere à gestão das estruturas e dos bens econômicos: em uma visão evangélica, evitem de se sobrecarregar numa pastoral de conservação, que cria obstáculo à abertura à perene novidade do Espírito. Mantenham somente aquilo que pode servir para a experiência de fé e de caridade do povo de Deus”.

Finalmente, o Papa refletiu acerca de “qual é a finalidade do doar-se do nosso presbítero. Advertiu que é triste saber que existem sacerdotes que, na vida, estão sempre um pouco pela metade. Calculam e não arriscam nada por medo de se perder... São os mais infelizes!”.

O sacerdote, assinalou o Santo Padre, “se aventura até o final”, apesar das suas fragilidades. “Nas condições concretas da vida e do ministério que lhe foram colocadas, ele se oferece com gratuidade, com humildade e alegria”. Inclusive quando ninguém parece perceber. Inclusive quando, por intuição, humanamente percebe que talvez “ninguém vai agradecê-lo” pelo seu doar-se sem medidas.

Ao concluir, o Papa Francisco indicou que o sacerdote não poderia fazer diferente, “porque ama a terra, que reconhece visitada todas as manhãs pela presença de Deus”. Além disso, é um “homem da Páscoa, do olhar direcionado ao Reino e para onde se sente que a história humana caminha, apesar dos atrasos, das obscuridades e contradições”.

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