O Papa Francisco se encontrou, nesta terça-feira, com os Bispos dos Estados Unidos, na Catedral de São Mateus, em Washington D.C. Falando com muita proximidade e afeto aos prelados, o Santo Padre refletiu sobre a missão dos Bispos.

“Não me preme dizer-vos o que fazer, porque sabemos todos o que nos pede o Senhor. Prefiro antes voltar uma vez mais sobre aquela fadiga – antiga e sempre nova – de nos interrogarmos acerca dos caminhos a percorrer, dos sentimentos que se devem preservar enquanto se trabalha, do espírito com que agir”, esclareceu.

Logo no início, Francisco manifestou sua proximidade ao povo norte-americano. “Que nenhum membro do Corpo de Cristo e da nação americana se sinta excluído do abraço do Papa”, disse.

Ele também expressou sua gratidão “a Deus pelo dinamismo do Evangelho que consentiu o notável crescimento da Igreja de Cristo nestas terras e permitiu a generosa contribuição que ela ofereceu, e continua a oferecer, à sociedade norte-americana e ao mundo”. 

Aos Bispos norte-americanos, o Papa indicou sua identificação ao falar sobre sua experiência em uma terra que também “recebeu a fé da bagagem dos missionários”. “Conheço bem o desafio de semear o Evangelho no coração de homens, originários de mundos diferentes, muitas vezes endurecidos pela estrada dura percorrida antes de se estabelecerem”.

Falando sobre a missão dos Bispos, o Papa pontuou três elementos que devem ser a essência da identidade dos prelados: rezar com assiduidade, pregar e apascentar.

A oração, segundo Francisco, deve expressar “a união familiar com Cristo, durante a qual cruzemos diariamente o nosso olhar com o d’Ele para ouvir, dirigida a nós, a sua pergunta: ‘Quem é minha mãe? Quem são os meus irmãos?’. E poder-Lhe responder serenamente: ‘Senhor, aqui está a tua Mãe, aqui estão os teus irmãos! Entrego-os a Ti, são aqueles que me confiaste’”.

Quanto à pregação, o Santo Padre explicou que não deve ser “de doutrinas complicadas, mas o anúncio jubiloso de Cristo, morto e ressuscitado por nós”. Ele exortou os Bispos a levarem os fiéis a encontrem “sempre nos vossos lábios o apreço pela capacidade de fazer e construir, na liberdade e na justiça, a prosperidade de que é pródiga esta terra”. Mas, alertou que não se pode faltar “a coragem serena de confessar que ‘é preciso trabalhar, não pelo alimento que desaparece, mas pelo alimento que perdura e dá a vida eterna’”.

Sobre o terceiro elemento, o Papa advertiu que o Bispo não deve apascentar a si mesmo, “mas saber esconder-se, diminuir, descentralizar-se, para alimentar de Cristo a família de Deus”. Para isso, aconselhou a olhar sempre para os “horizontes de Deus” e velar para fugir “da tentação do narcisismo, que cega os olhos do pastor, torna irreconhecível a sua voz, e estéril o seu gesto”.

Francisco assinalou, também, que “ao bispo, é necessária a lúcida percepção da batalha entre a luz e as trevas, que se combate neste mundo”.

Ao reconhecer que os Prelados enfrentam vários desafios, o Pontífice ressaltou que estes são também “defensores da cultura do encontro”. “Somos sacramentos vivos do abraço entre a riqueza divina e a nossa pobreza. Somos testemunhas do abaixamento e condescendência de Deus que Se antecipa, no amor, à nossa primeira resposta”.

Nesta missão, o Papa indicou como método o diálogo. Ele encorajou os Bispos a dialogarem sem medo com os presbíteros, leigos, famílias e sociedade e a efetuarem o êxodo, compreender o irmão, para promoverem um diálogo autêntico.

“A linguagem dura e belicosa da divisão não fica bem nos lábios do pastor, não tem direito de cidadania no seu coração e, embora de momento pareça garantir uma aparente hegemonia, só o fascínio duradouro da bondade e do amor é que permanece verdadeiramente convincente”, afirmou.

O Papa orientou, ainda, que essa missão confiada por deus aos Bispos deve ser realizada “em comunhão, de forma colegial”. “O mundo já está tão dilacerado e dividido; a fragmentação está presente por todo o lado. Por isso a Igreja, ‘túnica inconsútil do Senhor’, não pode deixar-se desagregar, tornar-se facção ou objeto de disputa”, indicou, destacando que a “missão episcopal é, primariamente, a de cimentar a unidade”.

Francisco auspiciou que o ano Santo da Misericórdia, “ao introduzir-nos na profundidade inexaurível do Coração divino onde não habita qualquer divisão, seja para todos uma ocasião privilegiada para reforçar a comunhão, aperfeiçoar a unidade, reconciliar as diferenças, perdoar-se uns aos outros e superar qualquer facção”.

“Este serviço à unidade é particularmente importante para a vossa amada nação, cujos vastíssimos recursos materiais e espirituais, culturais e políticos, históricos e humanos, científicos e tecnológicos impõem responsabilidades morais consideráveis num mundo transtornado que fadigosamente procura novos equilíbrios de paz, prosperidade e integração”, analisou.

Por isso, declarou aos Bispos norte-americanos: “faz parte essencial da vossa missão oferecer aos Estados Unidos da América o fermento humilde e poderoso da comunhão”.

O Pontífice os encorajou a “enfrentar os problemas desafiadores do nosso tempo”. Segundo ele, “no fundo de cada um deles, está sempre a vida como dom e responsabilidade”, e “o futuro da liberdade e dignidade da nossa sociedade depende da forma como soubermos responder a tais desafios”.

“A vítima inocente do aborto, as crianças que morrem de fome ou debaixo das bombas, os imigrantes que acabam afogados em busca dum amanhã, as pessoas idosas ou os doentes que olhamos sem interesse, as vítimas do terrorismo, das guerras, da violência e do narcotráfico, o meio ambiente devastado por uma relação predatória do homem com a natureza… em tudo isto está sempre em jogo o dom de Deus, do qual somos administradores nobres mas não patrões”, disse, ressaltando que “não é lícito iludir ou silenciar”.

Francisco sublinhou ainda que “de importância não menor é o anúncio do Evangelho da família que, na iminente Jornada Mundial das Famílias, em Filadélfia, terei ocasião de proclamar com força juntamente convosco e a Igreja inteira”.

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Diante dessas realidades, o Sumo Pontífice reafirmou a necessidade do testemunho.

“É muito importante que a Igreja nos Estados Unidos seja também um lar humilde que atrai os homens pelo fascínio da luz e o calor do amor”, disse, lembrando que “como pastores, conhecemos bem a escuridão e o frio que ainda existe neste mundo, a solidão e o abandono de tantas pessoas – mesmo onde abundam os recursos de comunicação e as riquezas materiais – o medo face à vida, os desesperos e as suas múltiplas fugas”.