O deputado federal Diego Garcia (PHS-PR) denunciou, em sessão plenária na quinta-feira, 20, a manipulação de dados da enquete sobre família realizada pelo site da Câmara dos Deputados do Brasil. O levantamento questionava: “Você concorda com a definição de família como núcleo formado a partir da união entre homem e mulher, prevista no projeto que cria o Estatuto da Família?”. O Presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, afirmou que irá apurar a denúncia e publicar o resultado da investigação.

A enquete, criada em 11 de fevereiro de 2014 e que já foi encerrada, foi a de maior participação popular no site até o presente. O resultado final indica que dos 10.282.070 votos, 51,62% responderam “não” e 48,09%, “sim”.

Entretanto, Diego Garcia, católico engajado na política e que está em seu primeiro mandato, desconfia deste resultado. O deputado assumiu este ano a relatoria da Comissão Especial que analisa o projeto de lei 6583/13, o Estatuto da Família, de autoria do deputado Anderson Ferreira (PR-PE) e notou algumas incongruências. Segundo o assessor do parlamentar paranaense, Francisco Augusto, analisando a questão, a equipe percebeu que no mês de julho houve uma mudança na tendência da votação, quando o “não” superou o “sim”. Por isso, decidiram solicitar ao Centro de Informática (Cenin) da Câmara os dados da enquete, os quais foram apresentados pelo parlamentar no plenário.

De acordo com as informações do Cenin, de fato, houve expressiva votação individual. Mas, conforme afirmou Garcia, mais de 3 milhões de votos são de apenas 66 computadores, sendo que mais de 1,6 milhões vieram de um único IP. Além disso, 122 mil votos foram computados em um único dia, para uma única opção, na cidade de Garanhuns (PE), que possui apenas 112 mil habitantes.

O deputado citou ainda a constatação de 60 mil votos foram realizados em um dia, para uma única opção (“não”), em uma cidade de Nova Jersey, nos Estados Unidos, a qual possui uma população de 8.500 pessoas.

Segundo o assessor Francisco Augusto, essas informações chamaram atenção pelos altos valores numéricos. “Nós trabalhamos om algumas segmentações, como de até 100 votos realizados pelo mesmo IP, o que poderia corresponder a uma família ou pequena empresa. Há ainda o segmente de até mil votos no mesmo IP, que poderiam ser das grandes empresas – aqui na Câmara, por exemplo, todos que votassem apareceriam com o mesmo registro. Mas, com os altos números que encontramos, parece que algo foi manipulado”, declarou.

Francisco Augusto, porém, ressaltou que com essa denúncia o deputado não está acusando a Câmara dos Deputados de uma ação criminosa. “Alguém externo pode ter se utilizado da enquete”, disse.

Na sessão plenária, o Deputado Garcia solicitou que a Câmara divulgue uma nota esclarecendo a origem e os dados relativos aos votos.

“Como relator peço que publique uma nota no portal da Câmara, passando as informações corretas para a população brasileira e que seja considerado na enquete um voto por computador. Se isso acontecer, nós estaremos falando de um resultado de 67% para ‘sim’ e 33% para ‘não’”, destacou o parlamentar.

O presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) disse que a presidência vai determinar as providências legais para verificar a denúncia, mesmo que seja por estabelecimento de sindicância e que o resultado dela será disponibilizado de forma pública.

De acordo com o assessor do deputado Garcia, a nota explicativa da Câmara serviria para relativizar o resultado divulgado da enquete, uma vez que apresentaria as informações completas.

“A enquete da Câmara não é científica, ela apenas expressa um sentimento da população e nos dá uma dica do que as pessoas pensam. Uma enquete como essa, com mais de 10 milhões de votos, poderia gerar um sentimento errado na população”, advertiu Francisco Augusto, ao sublinhar o receio de que os “resultados enviesados” sejam utilizados como informações verdadeiras pelos meios de comunicação e por grupos específicos.

Ele citou a grande repercussão nas mídias sociais do vídeo do pronunciamento de Garcia, o que, para ele, “mostra que a sociedade está atenta” e que há uma “indignação do povo”.

O assessor sublinhou que, da parte do deputado Diego Garcia, a indignação se dá em “pensar que, se alguém faz manipulação de uma enquete”, recordando que a mesma não determina aprovação de leis, “imagina o que mais fazem?”.