31 de dezembro de 2025 Doar
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O que o ano de 2026 reserva para a Igreja na Venezuela

Bandeira da Venezuela. Imagem referencial. | Aboodi vesakaran/Unsplash

O ano de 2025 termina na Venezuela com uma atmosfera de ambivalência: tristezas e alegrias, tensões e consolações, e mais perguntas do que certezas. O trabalho da Igreja está inserido na turbulenta realidade do país, uma tarefa ainda mais desafiadora devido à "deriva autocrática da política nacional", como disse a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) no início deste ano.

Este mês, na mensagem de Natal para 2026, a CEV disse que a “experiência jubilosa” do nascimento de Jesus Cristo está “ofuscada” pela turbulenta situação nacional. Assim, o cotidiano dos venezuelanos segue em meio a uma avalanche de notícias, boatos e dificuldades.

O colapso da economia e dos serviços básicos parece não ter solução. A ameaça latente de uma ação militar americana em solo nacional, devido à escalada das tensões entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro; a crescente perseguição política e ideológica pelo regime chavista, que até hoje mantém centenas de prisioneiros — homens e mulheres, inclusive menores de idade — em condições deploráveis. Tudo isso paira sobre o novo ano e sobre a Igreja, que viveu pessoalmente o pior da atual situação da Venezuela.

Então, o que o próximo ano reserva para o catolicismo na Venezuela? A ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, conversou com analistas e especialistas para fazer uma projeção dos próximos meses.

Nicarágua, um modelo a seguir?

Em fevereiro, a ACI Prensa perguntou ao arcebispo de Valência, Venezuela, Jesús González de Zárate, presidente da Conferência Episcopal Venezuelana, se a CEV considerava que o país estava caminhando para uma realidade de perseguição contra a fé católica, semelhante à vivida na Nicarágua por vários anos, sob o regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo.

O arcebispo González respondeu que eles oram e trabalham para evitar que a Igreja passe por uma situação semelhante. O presidente da CEV disse que seu objetivo é que todos na Venezuela possam “viver em harmonia e paz” e que o país tenha “as condições de liberdade, trabalho e expressão religiosa pluralista” às quais a maioria aspira.

Hoje, depois de meses de assédio e abuso sistemático sofridos pelos bispos venezuelanos a ponto de serem humilhados, essa realidade parece uma utopia.

Victor Maldonado, cientista político venezuelano, disse à ACI Prensa que a relação entre o chavismo e a Igreja é claramente “muito ruim”, apesar de a Conferência Episcopal Venezuelana ter tentado manter uma posição caracterizada por “certa moderação e autocensura para não cair numa situação em que perca tudo”.

“Eles são alvo de desprezo e insultos sempre que se manifestam em grupo”, disse Maldonado, razão pela qual existe atualmente uma “defesa de espaços” para tentar evitar “a brutal perseguição que vem ocorrendo na Nicarágua”.

Apesar da prudência da CEV, nos últimos meses deste ano, ela foi violentamente perseguida pelo chavismo, que estava cada vez mais ameaçado e encurralado internacionalmente. O arcebispo emérito de Caracas, cardeal Baltazar Porras, foi talvez a voz eclesiástica mais proeminente a denunciar a situação venezuelana, o que lhe valeu uma particular inimizade com o regime de Maduro.

“Sua essência é totalitária e ateísta. A Nicarágua é o campo de testes para medidas radicais. E uma grande demonstração do que eles são capazes de fazer. Nesse sentido, a Nicarágua serviu como vitrine para a intimidação”, disse Maldonado, falando sobre o chamado Socialismo do Século XXI, que ganhou destaque mundial sob a liderança de Hugo Chávez, que morreu em 2013.

Uma Igreja perseguida também na Venezuela.

Martha Patricia Molina é uma advogada e pesquisadora nicaraguense, autora do relatório Nicarágua: Uma Igreja Perseguida, que documenta a proibição de cerca de 16, 5 mil procissões e atos de devoção, assim como cerca de mil ataques do regime local contra a Igreja. O relatório foi entregue ao papa Leão XIV em outubro.

Molina disse que quando regimes como os de Ortega e Maduro identificam um poder de fato que não favorece seu projeto, “eles começam a atacá-lo até que ele desapareça”. Quando na Venezuela, assim como na Nicarágua, todos os espaços cívicos de resistência desaparecem, então o chavismo “focalizará sua fúria e poder punitivo contra os bispos”.

“É importante que os venezuelanos comecem a estudar e identificar os padrões de repressão que têm sido usados ​​na Nicarágua para atacar a liberdade religiosa”, disse Molina, enfatizando a urgência de “incutir nos leigos e no clero a importância da denúncia cidadã”.

Maldonado disse que o regime de Nicolás Maduro tem incorporado gradualmente “doses de deslegitimação da religião católica”, especialmente com a promoção da santería e do protestantismo, para “demonstrar que eles, com o uso arbitrário de recursos e força, podem determinar a hegemonia religiosa num dado momento”.

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O cientista político denuncia que o chavismo usou “certos padres abertamente revolucionários” para promover sua agenda política. Talvez o caso mais representativo seja o do jesuíta Numa Molina, que “se comporta como um ativista engajado, independentemente dos interesses e posições da Igreja”.

“Acredito que a conferência episcopal ainda seja uma voz respeitada, com uma tradição de assumir o papel profético que corresponde à Igreja. Como todos os venezuelanos, está sujeita às mesmas ameaças de perseguição e repressão”, disse Maldonado, embora tenha dito que, neste momento, “não é uma voz unificada” e que “a proximidade de alguns pastores com aqueles que violam direitos e perseguem com tanta ferocidade” causa escândalo entre os fiéis.

“Essa luta posicional enfraquece sua força moral, e os fiéis provavelmente não se sentem totalmente amparados em seu sofrimento e angústia”, disse Maldonado.

Molina diz que a CEV tem estado "em uníssono e em pé de igualdade com as pessoas desprotegidas e perseguidas".

“É claro que haverá casos, que também precisam ser identificados, de padres colaboracionistas”, disse ele. “Na Nicarágua, identificamos todos eles, bispos e padres (alguns) que chegaram ao ponto de dizer que não há perseguição religiosa na Nicarágua”.

O autocrata versus o líder religioso

Marcela Szymanski — especialista em liberdade religiosa da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) — disse à ACI Prensa que um autocrata “é um homem ávido por poder que busca por todos os meios, especialmente com armas e dinheiro, aumentar sua riqueza e controle territorial”.

Szymanski disse que o líder religioso é a figura mais temida pelo autocrata, que tentará cooptá-lo por todos os meios necessários. Se isso falhar, “o autocrata o eliminará, junto com sua comunidade, usando métodos violentos e não violentos”. Na América Latina, especificamente, regimes autocráticos de inspiração marxista frequentemente se aliam “ao crime organizado para eliminar seus oponentes”.

“Em países onde o Estado de Direito está em declínio e as violações dos direitos humanos estão aumentando, essa aliança da ideologia marxista com organizações criminosas tornou-se mais evidente”, disse ela.

Na Nicarágua, disse Szymanski, o regime de Ortega “não se importa com a opinião mundial”, mas só com a sua própria sobrevivência. É por isso que avançou decisivamente na perseguição à Igreja. Na Venezuela, por outro lado, “onde a aliança entre partidos de esquerda e o crime organizado é evidente, a reputação internacional ainda é valorizada, mas cada vez menos”.

“A vítima, nesse caso a Igreja na Nicarágua e na Venezuela, não pode ser culpada por ter a religião errada, nem por ser pouco inteligente por não obedecer ao autocrata”, disse ela. Sua situação é precária porque “não tem armas nem dinheiro e, portanto, não pode se igualar ao autocrata”.

“Os homens e mulheres que compõem a Igreja devem perseverar na fé, porque a razão não encontra justificativa diante de tamanha agressão aberta”, disse Szymanski. “Resiliência, esperança e uma vida de oração são o que ninguém pode tirar dos fiéis, mesmo que fechem igrejas e escolas e tirem hospitais e lares de idosos das suas instalações”.

“Os padres e freiras que perseveram ao lado deles são os pilares dessa Igreja sofredora”, concluiu ela.

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