Dec 16, 2025 / 13:04 pm
O último grande evento do Jubileu da Esperança foi dedicado a detentos de todo o mundo, que, ao longo do último fim de semana, estiveram perto do papa Leão XIV.
Víctor Aguado, diretor do ministério penitenciário de Valência, Espanha, acompanhou um grupo de presos a Roma, muitos dos quais estão presos há mais de 12 anos.
Uma autorização especial
O grupo era composto por 13 pessoas da cidade de Valência, entre elas presos, voluntários e o capelão. Seis deles estavam detidos na segunda e terceira etapas do sistema prisional — regimes que combinam confinamento com liberdade supervisionada — e, por isso, tiveram que obter uma série de autorizações da Junta de Tratamento, da Secretaria Geral e das Instituições de Supervisão. “Foi um longo processo burocrático, mas não tivemos nenhum problema”, disse Aguado.
Ele diz que escolheram presos que conhecem há muito tempo. Os que estão na terceira etapa do sistema prisional estão num regime de semiliberdade e vivem em casas de acolhimento, enquanto os da segunda etapa geralmente participam de oficinas e colaboram com tudo o que a equipe pastoral propõe. "São pessoas de fé que frequentam a missa, e sabíamos que, dada a sua situação e atitude, eles precisavam disso e não recusariam", diz ela.
“Eles queriam estar muito bem preparados, livres de fardos, e participar da missa de domingo completamente purificados e em paz consigo mesmos”, diz Aguado, que falou sobre a passagem pela porta santa como um dos momentos mais comoventes do Jubileu. “Com a peregrinação, os detentos assumiram uma nova responsabilidade e um novo caminho, uma nova vida, e a sensação de que agora precisam fazer as coisas direito”.
A esperança que derruba muros
Aguado falou sobre a alegria deles ao ver o papa, já que para eles “ele é a representação do Senhor na Terra”. Ele disse que a missa de domingo com o papa foi “muito simples e, embora tenha sido em italiano, foi perfeitamente compreensível”.
“A esperança transcende tudo, derruba as barreiras de qualquer lugar, e a dignidade das pessoas é inabalável, e foi isso que elas nos transmitiram nos três dias que passamos em Roma”, disse ele. “Foram sentimentos muito íntimos, e elas dividiram sua alegria conosco; todos tinham um semblante de paz”.
Para Aguado — que trabalha com detentos há 14 anos — o fato de esse evento ter encerrado o Jubileu não é mera coincidência. “O mundo das prisões é invisível, e precisamos começar a considerar que as pessoas que foram julgadas são libertadas e precisam se reintegrar à vida normal, e isso depende da sociedade”, diz ele.
“Sabemos que o Senhor perdoa tudo, então quem somos nós para não perdoar essas pessoas e estigmatizá-las?”, diz Aguado. “Elas são chamadas de ex-presidiários, mas não são nada mais do que pessoas, com toda a sua dignidade e liberdade”.
Embora tenha dito que o Senhor “sempre os acompanha e caminha com eles”, ele falou sobre a urgência de ver os prisioneiros como membros vivos da Igreja e apelou para a responsabilidade de cada cristão:
“Às vezes, consideramos as obras de misericórdia como garantidas, mas nem sempre as colocamos em prática. O Senhor nos desafia: Eu estive na prisão, e a pergunta permanece a mesma: Vocês vieram me visitar?”
Há muitas vidas que precisam ser resgatadas
O padre italiano Raffaele Grimaldi, que deixou a capelania na prisão de Secondigliano, em Nápoles, Itália — onde serviu a detentos por 23 anos — para coordenar 230 padres que cuidam dos cerca de 62 mil detentos em toda a Itália, também participou do Jubileu.
Ele disse à ACI Prensa que esse evento “é um forte lembrete de que a Igreja deseja levar o amor e a misericórdia de Deus às prisões, indo em busca do que está perdido”.
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Segundo o padre Grimaldi, o Jubileu “trouxe à luz as situações mais difíceis que vivemos em nossas prisões e o drama dos presos: superlotação, falta de recursos, suicídios, a pobreza que se alastra em nossas prisões, abandono, falta de trabalho e, sobretudo, a falta de aceitação por parte da sociedade”.
O padre levou vários detentos de diferentes prisões italianas, especialmente jovens e um detento que cumpria pena de prisão perpétua, diante do papa Leão XIV. "Foi um momento de grande alegria para eles", disse ele.
“Todo prisioneiro precisa ouvir continuamente uma palavra de misericórdia: pessoas que não julgam, que não apontam o dedo, que não condenam, mas que acolhem”, diz Grimaldi.
O padre diz que esse Jubileu não foi um evento isolado, pois ao longo do ano houve preparação espiritual nos centros penitenciários, onde "anunciar a esperança é uma grande palavra que ressoa profundamente no coração de todos".
O padre Grimaldi diz que essas pessoas “cometeram erros” e estão cumprindo pena por isso, mas, ele exorta os fiéis a “estender a mão a elas para que possam retomar suas vidas e mudá-las”, com uma justiça acompanhada de misericórdia, “para que a própria justiça não se torne vingança”.
Em seus anos de serviço em prisões, ele diz ter conhecido muitas pessoas que trilharam um belo caminho espiritual, “como um jovem albanês que, precisamente no dia 12 de dezembro, recebeu o sacramento do Batismo”.
“Isso nos faz entender que em nossas prisões existem muitas vidas que precisam ser resgatadas e ajudadas, porque se essas possibilidades não existirem, o prisioneiro morre por dentro, e nós também matamos a esperança que existe em seu coração”, diz o padre italiano.
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