Nov 3, 2025 / 16:03 pm
O papa Leão XIV proclamou são João Henrique Newman (1801-1890) doutor da Igreja no último sábado (1), reconhecendo as profundas contribuições teológicas, espirituais e pastorais de Newman. A decisão, que eleva o número de doutores da Igreja para 38, é o ponto principal de um processo iniciado logo depois da canonização do santo inglês em 2019.
O padre George Bowen, postulador da causa de canonização de são João Henrique Newman e que promoveu a proclamação dele como Doutor da Igreja, disse à EWTN News que "tudo começou imediatamente depois da canonização", quando muitas pessoas expressaram o desejo de que Newman fosse declarado Doutor da Igreja.
“Na canonização, as pessoas vinham até mim dizendo: padre George, Newman deveria agora ser um Doutor da Igreja. E foi aí que pensei: precisamos começar a trabalhar nisso, entender o processo e ver como poderíamos iniciá-lo”, diz ele.
Um processo que uniu toda a Igreja
O padre entrou em contato com o Dicastério para as Causas dos Santos no início de 2020 para se informar sobre os passos necessários. Na época, o oratório de Birmingham, fundado pelo cardeal Newman em 1848, lançou uma iniciativa mundial junto à Conferência Episcopal Católica da Inglaterra e do País de Gales para obter o apoio do episcopado católico. "Escrevemos para todas as conferências episcopais do mundo, perguntando se estariam dispostas a apoiar o Santo Padre caso ele decidisse nomear Newman Doutor da Igreja", diz Bowen, dizendo que também receberam respostas da América Latina.
Especificamente, do Peru, do Equador e do Chile, mas também dos EUA, dos países escandinavos e da Europa oriental. "Foi uma resposta global positiva", diz o padre.
A carta enviada aos bispos tinha citações de papas — de são Pio X a Francisco — que elogiaram a doutrina de são Newman. Esse corpus de apoio serviu de base para a positio, documento teológico e biográfico que justifica o título de doutor da Igreja de são Newman.
20 especialistas internacionais
O padre Bowen diz que, para ser Doutor da Igreja, um santo deve ter uma doutrina eminente e universal. “Ser Doutor da Igreja significa que o ensinamento de alguém se destaca: que se eleva acima do comum, que tem uma qualidade atemporal e um apelo universal”, diz ele. “Não pode ser relevante só para um país ou uma época, mas para toda a Igreja e todos os tempos”.
Para preparar o documento, o oratório de Birmingham convocou vinte especialistas internacionais em Newman, que elaboraram estudos sobre sua vida, escritos que também tinham a avaliação dos papas.
O padre Bowen diz que a mensagem de são Newman tem particular relevância no mundo contemporâneo, marcado pela confusão moral e por uma crise de significado.
“Newman disse que a verdade não é imposta: ela é descoberta”, disse Bowen. “Vivemos rodeados por vozes que se apresentam como verdadeiras, mas ele nos convida a ir além das aparências, ex umbris et imaginibus in veritatem — das sombras e fantasmas à verdade”.
O papa Leão XIV também quis nomear Newman co-patrono da educação católica, enfatizando o papel do pensamento do santo inglês na formação integral da pessoa. "Para Newman, a educação não se resumia a moldar o intelecto", diz Bowen. "Tratava-se também de moldar o coração, a consciência, as virtudes. Ele dizia que uma universidade deveria educar pessoas morais, não só mentes brilhantes. Num mundo em que a educação é medida só por resultados acadêmicos, a voz dele é profética".
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“A santidade dele reside na confiança de que Cristo ainda está agindo”
O holandês Hendro Munsterman, especialista em teologia mariana e ecumenismo, vê na figura de são Newman um modelo de santidade que não “simplesmente repete a doutrina”, mas “a aprofunda, mesmo quando tem dificuldades com certos aspectos da tradição”.
“Sua santidade reside na confiança de que Cristo continua a agir”, disse ele à ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI. O exemplo mais claro foi a reação dele ao dogma da infalibilidade papal no Concílio Vaticano I (1870). “Ele foi convidado, mas não quis ir”, disse Munsterman. “Tinha medo do dogma; não estava contente com ele. Mas quando foi promulgado, ele o defendeu por fidelidade”.
“Essa é a santidade dele, fidelidade à Igreja, mas uma fidelidade que acredita que a Igreja pode se desenvolver, pode compreender melhor a verdade”, diz o holandês.
Ele disse que a fé católica não se identifica com um único modo cultural
Depois de sua conversão, Newman manteve uma postura crítica em relação à assimilação cultural católica na Inglaterra: “Muitos católicos ingleses acreditavam que, para ser verdadeiramente católico, era preciso se assemelhar aos italianos, com suas procissões, devoções e folclore popular. Newman defendia que era possível ser completamente católico e completamente britânico”, diz Munsterman.
“Ele disse que a fé católica não se identifica com um único modo cultural”, diz o holandês. “É uma Igreja de diversidade e de unidade nessa diversidade. Essa ideia de inculturação antecipa o que entendemos hoje como catolicismo autêntico”.
O precursor invisível do Concílio Vaticano II
Para Munsterman, Newman foi também o precursor invisível do Concílio Vaticano II e, de certo modo, da renovação sinodal empreendida pelo papa Francisco.
Em 1859, o santo inglês escreveu um artigo intitulado Sobre a Consulta aos Fiéis em Matéria de Doutrina, no qual disse que o consenso universal dos leigos, o chamado consensus fidelium, guiado pelo Espírito Santo, é um testemunho vital da Tradição Apostólica e tem um papel essencial na preservação e no desenvolvimento da doutrina cristã.
“Ele dizia que a Igreja também deveria ouvir os fiéis leigos em questões doutrinárias. Isso é precisamente a sinodalidade, um século antes do Concílio Vaticano II. É por isso que o chamamos de teólogo invisível do Concílio Vaticano II. Ele não estava fisicamente presente, mas as ideias dele prepararam isso”, diz Munsterman, que diz que esse aspecto deriva em parte da herança protestante de são Newman.
“Newman compreendeu que, através do batismo, todos os cristãos recebem o Espírito Santo”, diz o holandês. “Não só padres ou bispos. E esse Espírito permite que cada crente entre em contato com a realidade viva de Cristo. Os leigos muitas vezes compreendem aspectos da fé que a Igreja como um todo precisa descobrir”.
Portanto, diz Munsterman, Newman foi incompreendido em sua época: “Na Igreja clerical do século XIX, essas ideias eram inaceitáveis. Muitos padres e bispos o rejeitaram”. No entanto, diz ele, o papa Leão XIII “reconheceu sua grandeza, nomeou-o cardeal no fim de sua vida e o chamou de Il mio cardinale) (meu cardeal)”.
“Newman é um símbolo de união”
Para o teólogo holandês, correspondente da Santa Sé para o jornal Nederlands Dagblad, a recente proclamação de são João Henrique Newman como Doutor da Igreja é muito mais do que um reconhecimento acadêmico: é um sinal de comunhão e inspiração para um tempo eclesial marcado pelo discernimento e pelo diálogo.
“Newman é um símbolo de unidade”, diz Munsterman. “O interessante é que ele é uma figura que cativa todos os lados da Igreja — aqueles que poderíamos chamar de conservadores e progressistas, embora não gostemos desses rótulos — todos apreciam Newman. Há sempre algo a descobrir sobre Newman, de ambas as perspectivas”.
Segundo o teólogo, a figura do cardeal inglês — que se converteu do anglicanismo ao catolicismo em 1845 — transcende as categorias eclesiais usuais. “Newman tem a capacidade de falar a todos: aos que amam a tradição e aos que buscam o desenvolvimento doutrinal; aos que desejam clareza dogmática e aos que se sentem chamados ao diálogo. Nele, esses polos não se opõem, mas se enriquecem mutuamente”.
“Neste tempo de sinodalidade, o mais belo seria se nos escutássemos mutuamente sobre o que cada um de nós aprecia em Newman. Isso seria profundamente newmaniano”, diz ele. E conclui: “Newman nos ensina que a verdade se desdobra na história através do diálogo entre fidelidade e renovação. Não há desenvolvimento sem continuidade, mas também não há continuidade sem crescimento. A vida dele é um testemunho de uma busca honesta pela verdade em comunhão com a Igreja”.
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