Oct 16, 2025 / 14:02 pm
O cantor Gilberto Gil e sua família entraram com uma ação judicial contra o padre Danilo César de Sousa Bezerra, da diocese de Campina Grande (PB) por incitação ao racismo e intolerância religiosa.
Na missa celebrada no dia 27 de julho, uma semana depois da morte de Preta Gil, filha do cantor, o padre fez referência às crenças da artista, ligadas a religiões afro-brasileiras.
Preta Gil morreu no domingo, 20 de julho, em Nova York (EUA), onde fazia um tratamento experimental contra um câncer no intestino. Uma semana depois, na missa na paróquia São José, em Areial (PB), o padre comentou que muitos fiéis dizem: “Ah padre, eu peço saúde, mas não alcanço saúde. Porque Deus sabe o que faz, meu filho. Se for para você morrer, vai morrer, e Deus sabe que a morte é o melhor para você. É difícil a gente entender isso”.
Depois, ele mencionou diretamente a morte da cantora: “Qual é o nome do pai de Preta Gil? Gilberto Gil fez uma oração aos orixás, cadê o poder dos orixás que não ressuscitou a Preta Gil. Está lá, já enterraram”.
“E tem gente católica que pede a essas forças ocultas. Eu só queria que o diabo viesse e levasse”, continuou. “No dia que ele levar e no dia que você acordar lá, já com o calor do inferno, você não sabe o que vai fazer. Tem gente que não vai aqui, mas vai em Puxinanã, vai em Pocinhos, e eu fico só sabendo”.
“Vá... não deixe essa vidazinha não para você ver o que vai acontecer com você. A conta que a besta fera cobra é bem baratinha, é bem baratinha a conta que ela cobra, viu”, alertou ironicamente o padre.
A missa foi transmitida ao vivo pelo canal da paróquia no YouTube, mas o vídeo foi retirado do ar depois da denúncia e abertura de inquérito.
Segundo o portal G1, o processo contra o pároco e a Mitra Diocesana de Campina Grande foi protocolado na Justiça do Rio de Janeiro na terça-feira (14). A família Gil pede uma indenização de R$ 370 mil por danos morais.
“No caso concreto, entendo que não há infração criminal”, disse o jurista Maurício Colonna Romano à ACI Digital. “O intuito do sacerdote, me parece, foi esclarecer sobre a necessidade de o católico se submeter mansamente ao desígnio de Deus, centrando o discurso na crença católica e em suas consequências. A menção a outras religiões teria sido comparativa, ele faz um contraste entre suas práticas”.
“Nesse sentido, não haveria a intenção de ‘atacar’ o culto alheio, que caracterizaria a incitação ao racismo, mas sim a de promover um proselitismo religioso, o que é protegido constitucionalmente”, disse.
Romano também disse que “o Direito Criminal exige a demonstração da intenção de um indivíduo de incitar a discriminação contra certa religião”, o que não é o caso da fala do padre, pois ele trata “da doutrina espiritual católica de que o fiel deve se submeter aos desígnios de Deus – inclusive em relação à morte”.
“O sacerdote aponta que há incoerência com a fé quando um católico busca influenciar o desígnio divino por meio de outros agentes espirituais estranhos ao Deus católico, o que denomina de ‘forças ocultas’”, disse o jurista.
Segundo Romano, “a fala em questão vem sendo veiculada de forma parcial. No contexto original, a homilia trata da doutrina espiritual católica de que o fiel deve se submeter aos desígnios de Deus – inclusive em relação à morte”.
Romano disse ainda que “o arroubo retórico do sacerdote, ao nominar uma pessoa, pode levar a responsabilização civil por abuso de direito – em outras palavras, o sacerdote poderia ter feito o mesmo argumento sem citar expressamente uma pessoa”.
“Todavia, deve ser considerado que se tratava de figuras públicas, que, ao expor a sua religião, influenciam os fiéis – no caso, a família Gil publicamente buscava ritos de duas religiões – é natural que um sacerdote, de qualquer religião, utilize esses exemplos para fins de instruir o público quanto à respectiva fé”.
Procurada por ACI Digital para se manifestar sobre o processo contra o padre, a diocese de Campina Grande, chefiada pelo bispo Dulcênio Fontes de Matos, não se pronunciou.
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