5 de dezembro de 2025 Doar
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Santa Sé e outras bibliotecas católicas digitalizam coleções para torna-las acessíveis

Salão Sistino da Biblioteca Apostólica do Vaticano. | Courtney Mares/CNA

Muito antes dos servidores em nuvem e dos computadores, monges católicos medievais preservaram a herança intelectual do mundo antigo copiando manuscritos gregos e latinos. Séculos depois, a Biblioteca do Vaticano e outras instituições católicas em Roma estão recorrendo a novas tecnologias, como digitalização, robótica e inteligência artificial (IA), para garantir que o patrimônio continue acessível. 

A Biblioteca Apostólica do Vaticano, fundada formalmente no século XV, está digitalizando cerca de 80 mil manuscritos, parte de uma coleção que também tem 2 milhões de livros, 100 mil documentos de arquivo e centenas de milhares de moedas, medalhas e gráficos. 

“As pessoas costumam pensar na Biblioteca do Vaticano como um lugar velho e empoeirado, mas, na verdade, ela tende a ser uma espécie de vanguarda”, disse Timothy Janz, ex-vice-prefeito da biblioteca e agora “Scriptor Graecus”, à CNA, agência em inglês da EWTN.

Para reforçar seu ponto de vista, Janz apontou para um dos muitos afrescos renascentistas nas paredes do Salão Sistino da Biblioteca do Vaticano, retratando livros armazenados na vertical em prateleiras abertas — novidade numa época em que os volumes geralmente eram colocados na horizontal.

“Ser uma biblioteca pública era algo incomum no século XVI”, disse ele. O papa Nicolau V descreveu pela primeira vez numa carta em 1451 seu desejo de ter uma biblioteca “para a conveniência comum dos estudiosos”, conta Janz.

 

 

 

A missão da Biblioteca do Vaticano, disse ele, sempre foi dupla: "pôr à disposição obras aos leitores e também mantê-las para futuros leitores". Assim, a digitalização é "uma nova maneira de fazer o que o fundador realmente queria que a biblioteca fizesse: pôr essas obras à disposição".

Os esforços de digitalização da Santa Sé estão focados em sua coleção única de manuscritos históricos, assim como em alguns de seus livros mais antigos, os incunábulos impressos no período mais antigo da tipografia, antes de 1500.

Um dos manuscritos mais antigos da coleção da Santa Sé é o Papiro de Hanna, do século III d.C., que já foi digitalizado, assim como o Codex Vaticanus, do século IV, o mais antigo manuscrito quase completo da Bíblia em grego. O projeto de digitalização começou em 2012 e, até o momento, já pôs à disposição cerca de 30 mil manuscritos online.

A visão é “ter uma biblioteca digital real que seja realmente utilizável e fácil de usar”, disse Janz.

Em outras partes de Roma, outras instituições católicas históricas estão adotando tecnologias ainda mais avançadas. 

No Centro de Digitalização de Alexandria, no centro histórico de Roma, um scanner robótico folheia as frágeis páginas de livros centenários do acervo da biblioteca da Pontifícia Universidade Gregoriana a uma velocidade de até 2,5 mil páginas por hora. Em minutos, os textos — alguns dos quais só eram acessíveis a acadêmicos que viajavam a Roma — podem ser pesquisados.

A iniciativa é liderada por Matthew Sanders, diretor executivo de uma empresa de tecnologia católica chamada Longbeard, que está usando robótica e IA para digitalizar coleções católicas em algumas das universidades e institutos pontifícios históricos de Roma.

O projeto começou quando o reitor do Pontifício Instituto Oriental perguntou se sua biblioteca de 200 mil volumes sobre tradições católicas e ortodoxas orientais poderia ser colocada à disposição para acadêmicos do Oriente Médio, da África e da Índia sem a necessidade de viajar a Roma. O pedido era simples: digitalizar os livros, torná-los legíveis em qualquer dispositivo e permitir que fossem traduzidos instantaneamente.

Desde então, a carga de trabalho do Centro de Digitalização de Alexandria aumentou. Longbeard está atualmente trabalhando na digitalização dos acervos históricos da Pontifícia Universidade Salesiana e da Pontifícia Universidade Gregoriana e planeja trabalhar com a Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino e o Venerável Colégio Inglês, assim como com várias ordens religiosas, para digitalizar parte ou a totalidade de seus acervos.

Obras digitalizadas podem ser incorporadas a um crescente conjunto de dados católicos, treinando os sistemas de IA da Longbeard, como o Magisterium AI e um futuro modelo de linguagem específico para o catolicismo, o Ephrem. As instituições podem optar por tornar seus textos públicos ou privados. Os acadêmicos podem pesquisar em coleções, gerar resumos ou rastrear uma resposta gerada por IA até sua fonte.

O sistema também permite a tradução por meio da Vulgata AI. Sanders disse que se deparou com um documento papal não traduzido sobre são Tomás Moro: “Eu nunca soube que isso existia. Estava em latim. Não havia sido traduzido. Nós o assimilamos por meio da Vulgata e, de repente, consegui lê-lo”.

“Quando você realmente vai ao centro (hub) e vê um livro sendo digitalizado, e uma hora depois esse trabalho está disponível para qualquer pessoa no mundo consultar em qualquer idioma — é aí que você percebe o que isso realmente significa”, disse ele.

Por enquanto, a Biblioteca do Vaticano está adotando uma abordagem mais cautelosa em relação à inteligência artificial e à robótica. Janz disse por que acredita que os manuscritos, em particular, exigem um toque humano em vez de automação.

Para os acadêmicos, disse ele, "a razão pela qual esse manuscrito é interessante é porque, nesse ponto específico, ele contém uma palavra diferente de outros manuscritos — talvez seja só uma letra que a transforma de uma palavra em outra", disse Janz. "É essa pequena diferença que torna este livro tão valioso". Esse tipo de trabalho exige 100% de precisão, disse também Janz. Mesmo que a transcrição automatizada por IA atinja "99,9% de precisão... é basicamente inútil".

Sanders disse que concorda "de todo o coração" que, para "o trabalho profundo e meticuloso da crítica textual, o manuscrito original é a autoridade máxima, e um especialista humano é insubstituível", mas disse também que "limitar o papel da IA ​​à mera transcrição é perder seu potencial revolucionário".

“A IA, mesmo com uma taxa de precisão de 99,9%, transforma essas coleções silenciosas num banco de dados dinâmico e consultável de conhecimento humano”, disse ele. “Ela permite que um pesquisador peça: Mostre-me todos os manuscritos do século XV que discutem o comércio com o império otomano e obtenha resultados instantâneos de coleções em todo o mundo. Ela pode identificar padrões e conexões conceituais que antes eram indetectáveis. A IA encontra as agulhas no palheiro; o acadêmico fica então livre para fazer a análise rigorosa dos originais inestimáveis”.

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Para a Biblioteca do Vaticano, o esforço de digitalização também foi integrado aos seus esforços de conservação desses textos históricos. "Cada manuscrito que vai para os scanners passa primeiro pela nossa oficina de conservação e é examinado minuciosamente para garantir que... resista ao esforço da digitalização", disse Janz. "Quando a digitalização é concluída, ele volta à oficina de conservação, que verifica se houve alguma alteração".

“Descobrimos muitos manuscritos que precisavam ser corrigidos, precisavam de trabalho de conservação, como resultado da análise e análise de cada um deles”, disse ele.

Ainda assim, a Biblioteca do Vaticano não está ignorando a IA completamente. Ela está desenvolvendo um projeto para catalogar ilustrações de manuscritos medievais, tornando as imagens pesquisáveis ​​por tema. Em parceria com pesquisadores japoneses, também está treinando modelos de aprendizado de máquina para transcrever a escrita grega medieval. "Ela cometerá erros e nós lhe diremos quais são os erros... talvez, eventualmente, ela chegue a um ponto em que possa fazer as coisas de modod confiável", disse Janz.

No futuro, Janz disse que gostaria de ver a tecnologia tornar possível que transcrições de todos os seus manuscritos nos idiomas históricos estivessem disponíveis para acadêmicos.

Quanto à IA, ele permanece cauteloso. "Acho que estamos bastante abertos a isso”, diz Janz. “Acho que temos as mesmas preocupações sobre IA que todos os outros têm".

Dentro do Salão Sistino da Biblioteca do Vaticano, uma série ornamentada de afrescos traça a longa história das bibliotecas e do aprendizado: Moisés recebendo a Lei, a biblioteca de Alexandria, os apóstolos registrando os Evangelhos. Sanders vê seu projeto de IA como uma continuação da missão de garantir que a sabedoria do passado seja "divulgada do modo mais amplo possível".

“Se quisermos progredir como civilização, precisamos aprender com aqueles que nos antecederam”, disse ele. “Parte desse projeto é garantir que suas reflexões e percepções estejam disponíveis hoje”.

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