5 de dezembro de 2025 Doar
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Como a conversa sobre a missa tradicional em latim mudou sob Leão XIV

O papa Leão XIV celebra a missa em 29 de junho de 2025, na solenidade dos santos Pedro e Paulo. | Mario Tomassetti / Vatican Media

Em seus primeiros três meses como papa, Leão XIV não fez nenhuma mudança significativa no status da missa tradicional em latim. O motu proprio Traditionis custodes, publicado pelo papa Francisco em 2021,  que restringe o uso da liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II continua em vigor sem alterações.

Mas algo mudou em relação à missa tradicional com o papa Leão XIV: a conversa.

Desde que o novo papa assumiu o cargo em 8 de maio, vários bispos que antes se mantinham em silêncio sob o papa Francisco se manifestaram em defesa da liturgia tradicional. Alguns desses líderes da Igreja, entre eles cardeais de alto escalão, pediram a Leão XIV para que reconsiderasse as restrições impostas à liturgia tradicional. Outros criticaram algumas das razões alegadas para a limitação do uso dela.

O mais recente é o bispo de Columbus, Ohio, EUA, Earl Fernandes, que pareceu desafiar a justificativa dada para restringir a missa tradicional em latim ao falar com o site Catholic World Report em 25 de agosto.

Embora o papa Francisco tenha escrito numa carta que acompanhava o Traditionis Custodes que a liturgia pré-conciliar havia sido instrumentalizada por quem rejeita o Concílio Vaticano II, o bispo Fernandes disse que "não havia nada de ideológico" em sua própria experiência de celebrar a missa tradicional em latim, começando em 2007.

“Queríamos oferecer a missa para atender à necessidade pastoral do povo”, disse ele. “É uma bela parte da tradição da Igreja”.

No início do mês, o prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos, cardeal suíço Kurt Koch,  comentou sobre a missa tradicional em latim de uma maneira diferente, dizendo ao site católico alemão Kath.net que esperava que o papa Leão XIV seguisse o exemplo do papa Bento XVI com o motu proprio  Summorum pontificum  de 2007 e ampliasse o acesso a ela. O Traditionis custodes, do papa Francisco, efetivamente reverteu o curso.

“O papa Francisco, nesse sentido, escolheu um caminho muito restritivo”, disse o cardeal suíço. “Seria certamente desejável reabrir um pouco mais a porta agora fechada”.

O arcebispo de Singapura, William Goh, que aplicou minimamente o Traditionis Custodes em sua arquidiocese, mas não a havia criticado publicamente anteriormente, disse em 22 de maio  que "não há motivo para desencorajar as pessoas que preferem a missa tridentina", pois elas "não estão fazendo nada de errado ou pecaminoso".

E o bispo auxiliar de Boston, EUA, Paul Reed, tornou público seu apreço pela missa tradicional em latim quando disse numa publicação nas redes sociais em 2 de julho que "chorou" ao celebrar a liturgia antiga pela primeira vez.

Embora alguns líderes da Igreja, como o cardeal Raymond Burke e o cardeal Gerhard Müller, tenham há muito tempo criticado Traditionis custodes em público — e continuem a fazer isso— eles já eram conhecidos como críticos ferrenhos do pontificado de Francisco.

Em contraste, o apoio público à missa tradicional em latim por parte de figuras mais moderadas, como o cardeal Goh, o cardeal Koch e o bispo Fernandes, é uma novidade pós-Francisco.

Então, o que, se é que algo, pode ser feito a partir dessa aparente mudança de conversa na hierarquia da Igreja?

Uma teoria é que a recente defesa pública da missa tradicional em latim  por parte de bispos moderados é um indício de que o próprio papa Leão XIV é a favor da flexibilização das restrições. Afinal, o novo papa demonstrou um domínio impressionante do latim na liturgia, usou vestes mais tradicionais e enfatizou a necessidade de recuperar um senso de mistério e reverência no culto. Talvez os bispos pró-missa tradicional em latim estejam mais dispostos a se manifestar agora porque sabem que o papa Leão XIV está do lado deles.

Mas outros desenvolvimentos sugerem que essa conclusão é um exagero; a saber, o fato de que as restrições da missa tradicional em latim em conformidade com o Traditionis custodes continuaram em vigor no pontificado de Leão XIV.

O arcebispo de Detroit, EUA, Edward Weisenburger, deu continuidade ao seu plano de restringir a missa tradicional em latim em sua arquidiocese,  restringindo a liturgia  a quatro locais que não são paróquias a partir de 1º de julho. Do mesmo modo, embora isso tenha sido adiado devido a reação pública, o bispo de Charlotte, Carolina do Norte, Michael Martin, está prosseguindo com os planos de limitar o acesso à missa tradicional em latim em sua diocese a uma única capela dedicada até 2 de outubro.

Se o papa Leão XIV era conhecido na hierarquia por ser a favor de aliviar as restrições do Traditionis custodes, parece improvável que vários bispos estivessem ansiosos para antecipar-se a ele — especialmente considerando que a diocese de Charlotte está investindo US$ 700 mil (cerca de R$ 129 mil) em sua capela para a missa tradicional em latim.

E, de fato, o cardeal Koch disse em seu apelo por maior acesso à missa tradicional em latim que não queria “criar falsas esperanças”, já que não havia discutido o assunto com o papa Leão XIV.

Mas, embora as conversas mais abertas em torno da missa tradicional em latim possam não ser sinais claros de que Leão XIV tenha visões litúrgicas diferentes do papa Francisco, elas sugerem que ele é diferente num aspecto crucial: seu estilo de liderança.

Leão XIV é, como disse o jornalista católico George Weigel, "um bom ouvinte". Ele é considerado paciente, amplamente consultivo e aberto à persuasão.

“Esse será o seu modus operandi”, disse à agência de notícias Reuters o padre agostiniano Anthony Pizzo, que estudou na Universidade Villanova, nos EUA, com o futuro papa Leão XIV.

Isso marca um distanciamento do estilo de liderança mais controlador de Francisco, que cerceava comentários públicos da hierarquia sobre certos tópicos.

De fato, logo depois da eleição de Leão XIV, o cardeal Michael Czerny disse que o estilo do novo papa "poderia ser ainda mais inclusivo ou acessível do que o de Francisco". Essas observações foram ainda mais marcantes vindas do cardeal Czerny, que foi nomeado prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral por Francisco e era jesuíta como o papa argentino.

É esse sentido de abertura do papa que provavelmente está por trás do novo status quo da missa tradicional em latim. Bispos mais moderados, como o cardeal Koch e o cardeal Goh, estão dispostos a reagir contra Traditionis custodes com menos medo de represálias, ao mesmo tempo em que o arcebispo Weisenburger e o bispo Martin sentem-se com carta branca para prosseguir suas restrições.

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Mas o estilo paciente de escuta do papa Leão XIV não significa que ele não tomará novas decisões sobre o acesso à missa tradicional em latim. E, dado seu desejo de promover a unidade da Igreja, o novo papa provavelmente levará a sério novas evidências e pontos de vista ao discernir seus próximos passos.

Por exemplo, Leão XIV poderia revisitar uma pesquisa feita pelo papa Francisco sobre as opiniões da hierarquia sobre a missa tradicional em latim, especialmente se, como indicam documentos vazados recentemente, os bispos fossem mais favoráveis ​​do que Francisco pareceu sugerir quando emitiu Traditionis custodes.

O papa Leão XIV também poderia buscar conversas diretamente com defensores da missa tradicional em latim que foram marginalizados pelo papado de Francisco — talvez o que ele tenha feito com o cardeal Burke na audiência privada no Vaticano em 25 de agosto.

O que parece claro é que Leão XIV inaugurou um clima novo e mais aberto na hierarquia da Igreja, permitindo maior liberdade de expressão em tópicos antes tabu, como o acesso à missa tradicional em latim.

Isso pode não significar que os defensores da liturgia pré-conciliar obterão exatamente o que desejam. Mas provavelmente indica que pelo menos serão ouvidos.


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