O papa Francisco disse que assinou uma carta de renúncia para o caso de ficar impedido de governar a Igreja por doença grave. São Paulo VI, que foi papa de 1963 a 1978, assinou duas cartas semelhantes.

Em entrevista publicada pelo jornal espanhol ABC em 18 de dezembro, o papa Francisco disse ter assinado sua carta de renúncia em 2013. A carta teria sido entregue ao então secretário de Estado da Santa Sé, o cardeal italiano Tarcisio Bertone.

O diretor editorial da Santa Sé, Andrea Tornielli, escreveu em um artigo do Vatican News, que, em 2018, as cartas de renúncia de são Paulo VI foram divulgadas no livro "La barca di Paolo" (A barca de Paulo, em tradução livre), de monsenhor Leonardo Sapienza.

Uma carta de 2 de maio de 1965, dois anos após sua eleição, diz: "Nós, Paulo VI... declaramos, no caso de enfermidade, que se presume incurável, ou de longa duração... ou no caso de qualquer outro impedimento grave e prolongado... renunciar" "ao nosso ofício".

A segunda carta, também datada de 2 de maio de 1965, contém a renúncia propriamente dita, com alguns detalhes:

“Nós, Paulo VI, pela Divina Providência Bispo de Roma e Pontífice da Igreja universal, na presença da Santíssima Trindade Pai, Filho e Espírito Santo, - invocado o nome de Jesus Cristo, nosso Mestre, nosso Senhor e nosso Salvador (...) declaramos: no caso de enfermidade, que se presuma incurável, ou de longa duração, e que nos impeça de exercer suficientemente as funções de nosso ministério apostólico; ou no caso de outro grave e prolongado impedimento e que por isso seja igualmente um obstáculo, renunciar a nosso sacro e canônico ofício, seja como Bispo de Roma, seja como Chefe da mesma Santa Igreja Católica, nas mãos do Senhor Cardeal Decano... deixando a ele, juntamente com os Cardeais encarregados dos Dicastérios da Cúria Romana e nosso Cardeal Vigário para a cidade de Roma... a faculdade de aceitar e pôr em prática esta nossa renúncia, que só o bem superior da Santa Igreja nos sugere".

No livro de monsenhor Sapienza também foi publicado o seguinte comentário de Francisco: “Li com admiração estas cartas de Paulo VI que me parecem um testemunho humilde e profético de amor a Cristo e à sua Igreja; e uma prova adicional da santidade deste grande papa”.

“O que importa a ele são as necessidades da Igreja e do mundo. E um papa impedido por uma doença grave não poderia exercer seu ministério apostólico com suficiente eficácia”, afirmou Francisco.

As cartas de renúncia foram como a de Bento XVI?

Tornielli dá informações adicionais sobre um detalhe das cartas de são Paulo VI.

A precisão do "impedimento grave e prolongado", não relacionado com a saúde, teria a ver com o fato de, anos atrás, o papa Pio XII já ter estabelecido a sua renúncia caso fosse sequestrado pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.

Com isso, os cardeais teriam autorização para se reunir em conclave e eleger o sucessor do papa que salvou centenas de milhares de judeus das garras dos nazistas.

As cartas de Paulo VI e Francisco são preventivas ou condicionais aos impedimentos que possam surgir para o cumprimento do seu ministério petrino.

Não são como a de Bento XVI, que efetivamente renunciou ao pontificado em 11 de fevereiro de 2013.

A renúncia de Bento XVI, como ele mesmo estabeleceu, entrou em vigor em 28 de fevereiro, após a qual os cardeais elegeram o papa Francisco no conclave de 13 de março de 2013.

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