O arcebispo-mor da Igreja Greco-Católica Ucraniana, Sua Beatitude Sviatoslav Shevchuk, assegurou que seu país, atualmente em meio a tensões militares com a Rússia, "aguarda a visita do Papa Francisco".

“Do mesmo modo que visitou recentemente o Iraque, assim como visitará outros países do mundo mesmo nas difíceis condições marcadas pela covid, a Ucrânia aguarda a visita do Santo Padre”, disse o líder greco-católico em uma recente entrevista com a fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).

A Igreja Greco-Católica Ucraniana é uma igreja de rito bizantino, como a Igreja Ortodoxa da Ucrânia, porém em plena comunhão com o papa.

“Lembro que recentemente uma idosa se aproximou de mim e me disse: Sabe, quando o Santo Padre vier e pisar o solo ucraniano, a guerra acabará”, disse Shevchuk.

Nas últimas semanas, a tensão militar aumentou na fronteira entre a Rússia e o leste da Ucrânia, onde um conflito com as regiões ucranianas separatistas e pró-russas de Donetsk e Lugansk, uma área conhecida como Donbass, se arrasta desde 2014.

O primeiro-ministro ucraniano, Denys Shmyhal, durante sua visita ao Vaticano no final de março, fez um convite ao papa Francisco para visitar a Ucrânia.

Essa visita “foi um sinal claro de que as relações entre o Estado ucraniano e a Santa Sé oferecerão uma boa oportunidade para evitar qualquer escalada do conflito na Ucrânia, também para aprender como promover o diálogo e a reconciliação”, disse o arcebispo.

Dom Shevchuk também agradeceu a Francisco “por seu constante apoio, por sua oração e por sua solidariedade para com a Ucrânia e o povo ucraniano”.

Em relação à tensão bélica, Shevchuk acredita que não pode haver uma solução militar, mas apenas diplomática. “Aposto no diálogo, porque com o diálogo podemos curar as feridas e a paz pode superar a guerra”, afirmou.

“Nossa maior preocupação é o perigo de um aumento da violência na fronteira oriental de nosso país”, confessou.

Recentemente, a Rússia chegou a concentrar cerca de 100 mil soldados na fronteira. Moscou disse que foram manobras, mas observadores ucranianos e internacionais viram uma provocação deliberada, disse o arcebispo.

Dom Shevchuk, que dirige o Conselho de Igrejas e Organizações Religiosas da Ucrânia, pediu novamente um cessar-fogo no leste da Ucrânia durante a Páscoa das igrejas orientais, que ocorreu no dia 2 de maio.

“Rezamos para que os alegres cantos litúrgicos prevaleçam sobre o barulho das armas e dos canhões. Rezamos pela paz. Nosso grande anseio é que Cristo, como rei da paz, traga com a sua ressurreição um alívio da violência e do medo de ser atacados novamente”, acrescentou.

O arcebispo greco-latino lembrou ainda que a situação se agravou desde o início da pandemia do coronavírus, já que a população está "isolada e esquecida" e "não pode obter medicamentos".

“A única salvação deles são os padres e as paróquias, é a única forma de obter apoio ou ajuda. Por isso decidimos ficar com o povo. Nossos padres estão fazendo um trabalho extraordinário lá”, relatou.

Início do conflito Rússia-Ucrânia

O conflito começou em novembro de 2013, após uma série de manifestações na capital ucraniana, Kiev, que obrigaram o então presidente Yanukovych, próximo à Rússia, a renunciar e abandonar o país.

A Rússia considerou que a população de língua russa da Ucrânia estava ameaçada e interveio anexando a península da Crimeia em 2014. Ao mesmo tempo, no Donbass, as regiões de Donetsk e Lugansk proclamaram sua independência, apoiadas pela Rússia.

Desta forma, iniciou-se um longo e sangrento conflito que continua até hoje com mais de 14 mil mortes.

Em 2015, com a intermediação da Alemanha e da França, a Rússia e a Ucrânia assinaram os Acordos de Minsk que permitiram a declaração de cessar-fogo. No entanto, ambos os lados violaram os acordos de cessar-fogo e incidentes ocorrem todas as semanas na zona de conflito.

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Há poucas semanas, a situação piorou após um incidente no qual vários militares ucranianos morreram. A Rússia começou então a concentração de tropas perto da Ucrânia, com quase 100 mil militares no momento.

Em resposta, a Ucrânia solicitou o seu ingresso na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), organização militar ocidental fundada durante a Guerra e liderada pelos Estados Unidos. A Rússia respondeu advertindo que uma incorporação da Ucrânia à OTAN pioraria a situação.

O secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, negou que neste momento haja a possibilidade de a Ucrânia aderir à OTAN, mas afirmou que a organização apoiará a Ucrânia se houver uma invasão do seu território, apoio também expresso pelos Estados Unidos.

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