REDAÇÃO CENTRAL, 15 de jun de 2022 às 13:35

A Igreja celebra nesta quinta-feira (16) a solenidade de Corpus Christi. Uma tradição em todo o Brasil para esta data é a confecção de tapetes que enfeitam as ruas de diversas cidades e sobre os quais passa a procissão com o Santíssimo Sacramento. “É uma rica tradição, carregada de fé e de grande desejo de agradar a Jesus Cristo Eucarístico”, disse o padre Edmar da Silva, pároco da paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Ouro Preto (MG), à ACI Digital. “Ao lado dos tapetes, as pessoas enfeitam também as janelas das suas casas com toalhas e outros ornamentos, desejosos de enfeitar as ruas para a passagem do próprio Jesus Cristo, vivo na Eucaristia”.

A solenidade de Corpus Christi teve origem no século XIII, na Bélgica, quando a freira santa Juliana de Liège teve visões místicas em que Jesus pedia uma festa dedicada à Eucaristia, o que chegou ao conhecimento das autoridades eclesiásticas locais. “Foi precisamente o bispo de Liège, dom Roberto de Thourotte que, após hesitações iniciais, aceitou a proposta de Juliana e das suas companheiras, e instituiu pela primeira vez a solenidade do Corpus Christi na sua diocese”, disse Bento XVI em uma catequese sobre a santa em novembro de 2010.

O papa emérito contou também que “pela boa causa da festa do Corpus Christi foi conquistado também Tiago Pantaleão de Troyes, que conhecera a santa durante o seu ministério de arquidiácono em Liège. Foi precisamente ele que, tendo se tornado papa com o nome de Urbano IV, em 1264, instituiu a solenidade do Corpus Christi como festa de preceito para a Igreja universal, na quinta-feira sucessiva ao Pentecostes”, com a bula Transiturus de hoc mundo, de 1264.

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Foi também Urbano IV que vivenciou outra experiência importante para a festa de Corpus Christi, o milagre eucarístico de Orvieto. Em 1263, um ano antes da publicação da bula Transiturus de hoc mundo, um padre alemão chamado Pedro de Praga tinha dificuldades em acreditar na presença real de Cristo na hóstia consagrada. Após uma peregrinação a Roma, parou na cidade de Bolsena onde, ao celebrar a missa sobre o túmulo de santa Cristina, a hóstia sagrada sangrou e gotas de sangue caíram sobre o corporal.

Ao saber do ocorrido, Urbano IV, que estava em Orvieto, ordenou que o corporal com as manchas de sangue fosse levado até ele. Isso foi feito em procissão e, quando o papa encontrou na entrada da cidade, pronunciou diante da relíquia eucarística as palavras: “Corpus Christi”. O corporal ainda está conservado na catedral de Orvieto.

Em sua catequese de 2010, Bento XVI recordou que, “embora depois da morte de Urbano IV a celebração da festa do Corpus Christi tenha sido limitada a algumas regiões da França, da Alemanha, da Hungria e da Itália setentrional, foi ainda um pontífice, João XXII, que em 1317 a estabeleceu para toda a Igreja. Dessa época em diante, a festa conheceu um desenvolvimento maravilhoso, e ainda agora é muito sentida pelo povo cristão”. A celebração dessa solenidade consta de missa, procissão e adoração ao Santíssimo Sacramento.

No Brasil, com a chegada dos colonizadores portugueses veio também a tradição de confeccionar tapetes com temática relacionada à fé católica, sobretudo a Eucaristia, para a passagem da procissão de Corpus Christi.

Segundo o pároco de Nossa Senhora da Conceição, Ouro Preto “sempre nutriu um grande amor à Eucaristia”. Como “prova disso”, citou “o famoso triunfo eucarístico” de 1733, quando a cidade ainda era Vila Rica. O episódio “marcou a trasladação do Santíssimo Sacramento da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos para a Matriz de Nossa Senhora do Pilar que tinha passado por obras de ampliação. Foi uma majestosa expressão popular de fé na Sagrada Eucaristia. Existem vários relatos históricos a respeito da beleza e da pompa daquela procissão Eucarística”, contou padre Edmar da Silva.

Atualmente, na cidade, “os moradores, juntamente com estudantes universitários, artistas e turistas se reúnem” na noite de quarta para quinta-feira “reúnem para a confecção dos tapetes com grande alegria e entusiasmo”. Para o sacerdote, “o que sustenta uma tradição como esta é primordialmente a fé do povo católico e o amor a Jesus sacramentado”.

A programação da solenidade de Corpus Christi em Ouro Preto contará com missa às 7h na basílica de Nossa senhora do Pilar, seguida de procissão eucarística até a igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões, onde haverá a bênção em frente à igreja e missa.

Os tapetes de Corpus Christi são confeccionados com os mais diversos materiais, como serragem e pedras coloridas, pó de café, flores, areia. Em São Gonçalo (RJ), onde a produção dos tapetes também é tradicional, é produzido o que a prefeitura local classifica como o maior tapete de sal da América Latina. Ao todo, são 240 painéis confeccionados ao longo de dois quilômetros de extensão. Em 2005, a procissão pelo dia de Corpus Christi e a confecção do tapete foram instituidas por lei como patrimônio público cultural e religioso de São Gonçalo.

O pároco da paróquia de São Gonçalo do Amarante, padre André Luís Siqueira, contou à ACI Digital que, na cidade, as paróquias passaram a se reunir para fazer o tapete de Corpus Christi a partir de 1995. Antes, cada paróquia fazia separadamente em suas igrejas. O sacerdote ressaltou a importância dessa celebração conjunta. “A proposta é que possamos testemunhar publicamente nossa fé na presença real de Jesus Cristo na Eucaristia, por isso a importância do fiel, se possível, participar das celebrações campais ou abertas das dioceses, com todo o povo”, disse.

Para ele, “como testemunhamos publicamente nossa fé e fazemos isso com caridade, respeito, zelo, automaticamente isso evangeliza, porque quem atrai o coração das pessoas não somos nós, mas Deus”. Além disso, disse que “algo que também atrai as pessoas” é o fato de “ver a simplicidade do povo em cada tapete”. “Não são artistas, são adolescentes, crianças, adultos, idosos, pessoas de fé tentando expressar a sua fé no tapete que está confeccionando”.

Segundo a prefeitura de São Gonçalo, participarão da produção dos tapetes 27 paróquias da cidade, sete escolas municipais e seis mil voluntários. A confecção dos tapetes começará às 6h30 e, às 10h, tem início a visitação aos tapetes elaborados. Às 7h, será feita a exposição do Santíssimo Sacramento na igreja de São Gonçalo e, das 8h às 11h, haverá atividades no palco, com louvores com a banda Angelus, contação de história com o tema “A vida de São Gonçalo” e a história da evangelização na cidade. Às 15h, o palco volta a receber bandas com louvores. Às 16h, começa a missa, seguida da procissão.

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