A Santa Sé publicou hoje o documento que guiará a próxima fase do Sínodo da Sinodalidade convocado pelo papa Francisco. O documento de 44 páginas oficialmente denominado Documento para o Estágio Continental pede “uma Igreja capaz de inclusão radical”.

“A questão do papel da mulher, o acolhimento de pessoas LGBTQ, o escândalo dos abusos, os desafios do racismo e do tribalismo, o drama das guerras e da violência, a defesa da vida frágil são centrais” no documento apresentado, diz Vatican News, serviço de informação da Santa Sé

O documento faze um sumário dos relatórios enviados à Santa Sé pelas conferências episcopais, congregações religiosas, departamentos da Cúria Romana, movimentos leigos e outros grupos e indivíduos nas fases anteriores do Sínodo, processo programado para durar três anos.

O documento pretende ser “o instrumento privilegiado através do qual o diálogo das igrejas locais consigo mesmas e com a Igreja universal possa ter lugar na fase continental”.

O texto observa diferentes desafios que a Igreja enfrenta no mundo todo, como a secularização, as conversões forçadas e a perseguição religiosa, a falta de estruturas para pessoas com deficiências e o clericalismo.

Ele identifica a celebração da missa, seja segundo o missal anterior ao Concílio Vaticano II seja na liturgia posterior, e o acesso à eucaristia como “nós de conflito” na Igreja e fala de uma grande “diversidade de opinião” quanto à ordenação de mulheres, com alguns relatórios pedindo que seja aceita e outros considerando “um assunto encerrado”.

A intenção do documento é dar a partida ao diálogo e provocar respostas sobre o que deveria ser prioridade para discussão na primeira sessão do Sínodo dos Bispos em outubro de 2023 no Vaticano.

O texto vai funcionar como programa para a próxima fase do sínodo, as assembleias continentais, a serem realizadas nos diferentes continentes entre janeiro e março de 2023.

Para isso, o documento apresenta três questões para reflexão que as assembleias continentais precisarão responder depois de ler o conteúdo e orar:

Que intuições ressoam mais fortemente com a experiência vivida e as realidades da Igreja em seu continente? Que novas experiências são novas e iluminadoras para você?

Que tensões substanciais ou divergências aparecem como particularmente importantes na perspectiva de seu continente? Consequentemente, quais são as questões ou assuntos que deveriam ser debatidos e considerados nas próximas fases do processo?

Olhando para o que emerge das primeiras duas questões, quais são as prioridades, os temas recorrentes, e as convocações para agir que podem ser compartilhados com outras igrejas locais ao redor do mundo e discutidas durante a primeira sessão da assembleia sinodal em outubro de 2023?

Todas as dioceses católicas devem dar subsídios para essas reflexões. As respostas das dioceses serão coletadas e sintetizadas pelas conferências episcopais, que compartilharão as respostas com a assembleia continental.

O documento determina que as assembleias continentais deverão ser compostas por representantes de todo o “povo de Deus”, com particular atenção dada a garantir a participação de mulheres, jovens, pessoas vivendo em pobreza, representantes de outras religiões, e pessoas sem afiliação religiosa.

Pede-se que cada assembleia continental entregue um documento final de não mais de 20 páginas, com as respostas da região às três questões para reflexão até 31 de março de 2023.

“A tarefa será preparar uma lista de prioridades, em cima da qual a primeira sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que terá lugar de 4 a 29 de outubro de 2023, fará seu discernimento”, diz o documento.

Pede-se também aos bispos que se reúnam para “reler colegialmente” a experiência do sínodo e validar e aprovar o documento final produzido pela assembleia continental para assegurar que é o “fruto de uma jornada autenticamente sinodal”.

A liderança do sínodo, um comitê consultivo e cerca de 30 pessoas especialmente selecionadas redigiram o documento de trabalho em setembro numa casa de retiros.

A fase continental do Sínodo da Sinodalidade segue-se à fase local, na qual paróquias e dioceses realizaram sessões de escuta e pediram contribuições aos católicos sobre o futuro da Igreja. O documento traz citações diretas dos relatórios enviados pelas conferências episcopais ao redor do mundo que sumariaram a fase diocesana do Sínodo da Sinodalidade.

Da Conferência Sul-africana de Bispos Católicos, por exemplo, foi citado: “A África do Sul também sofre o impacto das tendências internacionais de secularização, individualização e relativismo. Assuntos como a doutrina da Igreja sobre o aborto, contracepção, ordenação de mulheres, clero casado, celibato, divórcio e recasamento, Santa Comunhão, homossexualidade, LGBTQIA+ foram levantados nas dioceses tanto rurais quanto urbanas. Há, é claro, visões divergentes sobre eles e não é possível dar uma posição definitiva da comunidade em qualquer desses assuntos.”

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O papa Francisco decidiu estender o Sínodo da Sinodalidade até 2024. Depois da fase continental, o Sínodo dos Bispos se reunirá em Roma em outubro de 2023 e outubro de 2024.

O material produzido pelas sete assembleias continentais será usado como base para um outro documento, o instrumentum laboris, “documento de trabalho” em latim, que será publicado em junho de 2023 para guiar a discussão do sínodo dos bispos.

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