Irmã Dulce dos Pobres, que será canonizada em 13 de outubro, tinha uma relação especial com o futebol, um time do coração e até um jogador preferido, como revelou recentemente o Arcebispo de Salvador, Dom Murilo Krieger.

Em um artigo intitulado “Irmã Dulce e o Ypiranga”, o Arcebispo Primaz do Brasil contou que a proximidade da canonização tem revelado “histórias interessantes” sobre a religiosa e uma delas é a sua torcida pelo time de futebol baiano Ypiranga, fundado em 1906, o qual “foi um os primeiros times do Brasil a aceitar a inclusão de jogadores negros”.

“O que emerge dessas histórias são aspectos humanos dessa figura encantadora que a cidade de Salvador e o estado da Bahia já conheciam, e que o Brasil mais e mais passa a conhecer e admirar”.

Conforme relata o Prelado, “a partir dos 13 anos”, a então pequena Maria Rita (seu nome de batismo), “ia aos domingos, em companhia de seu pai e irmãos, ao Campo da Graça, torcer pelo Ypiranga”.

A menina “não escondia sua preferência pelo jogador Popó (Apolinário Santana), conhecido como “o craque do povo”, “o Terrível”. Provavelmente se unia à torcida, que cantava: ‘Não há fogueira sem brasa, não há mato sem cipó, não há partida animada, quando não joga Popó’”.

O passar do tempo, o ingresso na vida religiosa, nada “diminuiu o interesse de Irmã Dulce pelo futebol”, assinala o Arcebispo.

“Já na década de oitenta, ao dar um testemunho a respeito de Popó”, ela afirmou: “Popó era o meu preferido. Era um escuro com as pernas tornas. Se ele estivesse vivo hoje, ele seria Pelé. Ele era danado na bola!”. “Sem dúvida – observa Dom Murilo –, exageros de uma santa”.

Por sua vez, o Ypiranga fez história e ficou conhecido como “o mais querido” ou “aurinegro” (pela cor amarela e preta de seu uniforme). “Era o time de maior torcida em Salvador, na primeira metade do século passado, tendo conseguido dez títulos estaduais (o último, em 1951)”, mas, “sua última participação na primeira divisão foi em 1999”.

Quanto a Popó, conta, “mesmo tendo sido o maior craque baiano nas décadas de 20 e 30, e o maior ídolo da história do clube, morreu pobre. O futebol da época dava fama que encantava até os santos, mas não dinheiro”.

Narrada esta história, Dom Murilo Krieger assinala que “aspectos como esse da vida de Irmã Dulce dos Pobres servem para nos mostrar que os santos têm como característica estarem sempre com os olhos voltados para o céu, mas com os pés sempre bem firmes na terra em que pisam”.

Nesse sentido, “longe de serem alienados”, os santos “também sentem, sofrem, alegram-se e reagem como qualquer um de nós. A diferença está nas motivações que os dirigem, no equilíbrio que os mantêm em qualquer situação e na intensidade de seu amor por Deus e pelo próximo. Afinal, o mesmo futebol que alegra e diverte pode se tornar uma paixão doentia – essa, sim, inútil, alienante, cara e prejudicial”.

“Quanto ao Ypiranga: quem sabe agora tenha um novo e celestial impulso!”, conclui.

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