A diocese do Crato (CE) distribui nesta quinta-feira, 21 de outubro, na igreja de Santana do Cariri (CE), relíquias de terceiro grau de Benigna Cardoso da Silva, que teve o martírio reconhecido pela Santa Sé em 2019 e agora aguarda apenas a data para a cerimônia de beatificação. “A relíquia na Igreja tem peso significativo, pois a própria Igreja ensina que onde está a relíquia está a presença do santo”, disse padre Tiago Henrique Medeiros, responsável pelo processo de preparação das relíquias.

Benigna Cardoso da Silva é também conhecida como a “heroína da castidade”, por ter sido assassinada aos 13 anos, defendendo a sua virgindade.  Nasceu em 15 de outubro de 1928, em Santana do Cariri (CE). Era muito religiosa e temente a Deus. A menina era assediada por um colega de escola, mas rejeitou as propostas dele. Então, em uma tarde de sexta-feira, Raul Alves, sabendo que ela costumava buscar água perto de casa, escondeu-se atrás do mato e a abordou, tentando abusar dela. Como Benigna resistiu e dizia “não” com veemência, o rapaz a golpeou com um facão e a matou.

Na época do assassinato, padre Cristiano Coelho Rodrigues, que foi mentor espiritual da menina, escreveu a seguinte nota ao lado do seu registro de batismo: “Morreu martirizada, às 4 horas da tarde, no dia 24 de outubro de 1941, no sitio Oiti. Heroína da Castidade, que sua santa alma converta a freguesia e sirva de proteção às crianças e às famílias da Paróquia. São os votos que faço à nossa santinha”.

O martírio de Benigna foi reconhecido pelo papa Francisco em outubro de 2019. Inicialmente sua beatificação havia sido marcada para 21 de outubro de 2020, mas foi adiada por causa das medidas impostas para o combate à pandemia de covid-19. Ainda não há uma data prevista para a beatificação da menina que se tornará a primeira beata cearense.

“Com o arrefecimento da pandemia, retomamos com as equipes os trabalhos de preparação dessa cerimônia [de beatificação]. Estamos com a firme esperança de que será realizada em 2022. Mas, carecemos da confirmação da Santa Sé. Estamos aguardando a manifestação da Congregação para as Causas dos Santos”, disse o administrador diocesano do Crato, padre José Vicente Pinto, durante coletiva de imprensa na quarta-feira, 20 de outubro.

A coletiva foi realizada para apresentação das relíquias de terceiro grau de Benigna Cardoso que serão entregues hoje às 19h na igreja de Santana do Cariri. A distribuição das relíquias acontecerá no marco da 18ª romaria em honra à menina Benigna, que teve início em 15 de outubro e segue até o próximo dia 24. A data escolhida para este ato, 21 de outubro, recorda o dia do batismo da futura beata. Padre Tiago Henrique, responsável pelo processo de preparação das relíquias, explicou que relíquias de primeiro grau são “partes do corpo do candidato à santidade”; as de segundo grau “são roupas, pertences, objetos pessoas do candidato”; e as de terceiro grau “são os tecidos que tocaram o corpo ou mesmo os ossos do candidato a santidade”. A relíquia de terceiro grau é para veneração privada e, portanto, “não pode ser colocada para veneração pública em uma Igreja”, disse o padre. “As relíquias para exposição pública, são somente as de primeiro grau”, que só podem ser entregues às igrejas “após a cerimônia de beatificação”.

Padre Tiago Henrique disse durante a coletiva de imprensa que as relíquias de Benigna Cardoso são partes de um tecido que envolveu os ossos dela. Em janeiro, o padre esteve na diocese junto com o então bispo, dom Gilberto Pastana, que em junho foi transferido para a arquidiocese de São Luís do Maranhão, para preparar o material. “Fizemos todo o tratamento químico necessário, limpeza dos ossos para conservação. Após o tratamento, envolvemos os ossos com tecido, isso é uma prática da Igreja para que este tecido, após todo procedimento pelas normas da Igreja, seja submetido a uma bênção e depois cortado e entregue em santinhos, medalhas ou quadros para todos os fiéis que desejam ter a relíquia de terceiro grau”.

Segundo o padre, todas as pessoas podem ter a relíquia, por isso será feita a distribuição. “É um ato muito importante e que faz parte da prática da Igreja, dos sacramentais, onde se pede a bênção de Deus por onde esta relíquia está ou mesmo passa”, afirmou.

Foram foram preparados 18 mil santinhos com as relíquias de terceiro grau. “Mas, posteriormente, conforme a necessidade, serão feitas outras”, disse o padre. “O procedimento de envolver os ossos foi feito uma única vez. Nesse procedimento, preparamos bastante tecido que se tornou relíquia, porque, abrir novamente a urna com os restos mortais, só poderá ser feito com autorização do bispo diocesano ou do administrador, por uma necessidade, ou para a cerimônia de canonização”, afirmou.

Cada pessoa que participará da celebração em Santana do Cariri hoje receberá um santinho com a relíquia. Pessoas de outras localidades que queiram a relíquia poderão solicitar à diocese do Crato e o envio será feito pelos Correios. “Somente a diocese do Crato tem autorização e autoridade para distribuir e entregar as relíquias de Benigna”, declarou padre Tiago Henrique. Apesar de as relíquias serem gratuitas, poderá ser solicitada uma ajuda financeira para o envio.

“Consagramos muitos tecidos. Vamos continuar fazendo essas relíquias”, disse o pároco de Santana do Cariri, padre Paulo Lemos. Segundo ele, o “propósito é fazer com que cada vez mais se propague a devoção a Benigna através das relíquias”.

Durante a celebração nesta quinta-feira, também será realizada a sessão de lacracão do relicário oficial que será utilizado na cerimônia de beatificação de Benigna Cardoso da Silva. Padre Tiago Henrique contou que as duas primeiras igrejas que receberão as relíquias de primeiro grau de Benigna após a beatificação serão “o local onde Benigna viveu, Santana do Cariri, onde o relicário oficial da beatificação irá permanecer”, e “a igreja mãe da diocese, a Catedral”. Depois, as demais paróquias da diocese do Crato irão receber “fragmento dos ossos e vestido que Benigna usava”.

Em seguida, disse padre Tiago Henrique, paróquias do Brasil e do mundo poderão fazer “um pedido oficial assinado pelo padre, pelo bispo da diocese solicitando a relíquia e dizendo onde vai estar, porque solicita, qual é o objetivo e a finalidade”. “A relíquia de primeiro grau de Benigna só será destinada para veneração pública dos fiéis em uma igreja ou para a dedicação de um altar, porque é tradição da igreja colocar relíquia dos mártires para o altar ser dedicado”, disse.

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