O bispo de Orihuela-Alicante, na Espanha, dom José Ignacio Munilla, considerou "desnecessária" a referência à Agenda 2030 no site da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que acontece de 1º a 6 de agosto, em Lisboa, Portugal. Não ir a Lisboa, porém, é um erro, porque gera uma "ferida na comunhão", disse o bispo.

Na edição de hoje (30) do programa Sexto Continente, de dom Munilla na Rádio María Espanha, o bispo respondeu às "muitas" perguntas que lhe foram dirigidas por causa da inclusão de referências à Agenda 2030 no site da JMJ Lisboa 2023.

Há uma seção sobre sustentabilidade na qual está incluída uma carta de compromisso. “É nossa missão construir a JMJ Lisboa 2023 tendo presentes os objetivos de sustentabilidade abraçados mundialmente, os Laudato Si’ Goals apresentados pelo Vaticano e a Agenda 2030 das Nações Unidas (ODS)”, diz a carta.

Abaixo da carta, havia os logotipos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

“Como houve muitas reclamações, depois foi suavizado” disse dom Munilla. “Os logotipos foram retirados e disseram que aderimos à Agenda 2030, 'tal como é interpretada segundo a Igreja Católica', algo assim”.

Foi incluída no texto a afirmação: “seguindo as orientações da Santa Sé”. A expressão está vinculada a uma nota assinada em 2016 pelo então núncio apostólico e observador permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas, dom Bernardito Auza.

A nota faz precisões e suavizações que aprofundam o valor e o significado que a Santa Sé confere à Agenda 2030, tanto no que diz respeito aos seus objetivos como no esclarecimento de conceitos essenciais dos métodos de aplicação dos objetivos propostos.

Uma “reclamação justa” diante de um “erro”

Para dom Munilla, a referência à Agenda 2030 “gerou polêmica”.

“O que faz o site da JMJ com essa referência? Que necessidade havia de fazer essa referência?”, disse ele.

“O fato de ter ido pouco a pouco – agora tiro os logos, agora digo que é segundo a Igreja Católica – é uma espécie retificar sem terminar de retificar tudo, o que deixa claro que foi cometido um erro”, declarou.

Ferida na comunhão da Igreja

O bispo de Orihuela-Alicante também respondeu à pergunta se, diante da confusão gerada, é oportuno ir ao encontro com o papa em Lisboa no próximo verão europeu.

Para dom Munilla, “é um erro que haja movimentos católicos e escolas que tenham decidido não ir à JMJ em Lisboa pelo simples fato de ter sido feita essa inclusão”.

Para o bispo, “estão se privando de um bem muito grande”. Além disso, afirmou, “o não comparecimento gera uma ferida na comunhão da Igreja, da pastoral juvenil”.

Dom Munilla considerou que a suavização “seguindo as orientações da Santa Sé” acrescentada à polêmica carta de compromisso, “salva substancialmente, embora não expliquem totalmente por que não se elimina e ponto final”.

“É um erro ter colocado essa menção no site, mas também é um erro anunciar que não vão. É uma pena que isso aconteça e que tal coisa seja motivo de perplexidade”, disse.

Afirmação suavizada, mas desnecessária

Como parte final de seu comentário, dom Munilla fez referência à conferência proferida pelo núncio apostólico na Espanha, dom Bernardito Auza, na sexta-feira (27), na qual detalhou a posição da Santa Sé em relação à Agenda 2030, desde sua gênese até sua aplicação.

Dom Munilla destacou o que foi dito por dom Auza sobre a política de doações no âmbito da Agenda 2030. O bispo espanhol considerou que “o mais delicado é que, na hora de implementá-la, quem doa manda em qual programa se aplica” .

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Dessa forma, “estabelece-se uma ligação direta entre a aprovação de ajudas e a adoção de ideologias”. Assim, exemplificou, para receber uma ajuda contra a fome, é exigida a implantação de políticas anticoncepcionais.

Para o bispo, trata-se de um “modelo envenenado”, que implica “um risco de paternalismo que, no fundo, acaba sando um instrumento ideológico”.

Dom Munilla também destacou o risco do “nominalismo declaracionista” expresso pelo papa Francisco na Assembleia Geral das Nações Unidas, que supõe que na Agenda 2030 “há palavras superbonitas que são utópicas”.

Como resumo sobre a polêmica referência à Agenda 2030 no site da Jornada Mundial da Juventude em Lisboa, o bispo de Orihuela-Alicante afirmou: "Retificou-se uma afirmação que, em sua literalidade, ao ter introduzido essa suavização, já não se pode dizer que seja incorreta. Mas, obviamente, é desnecessária”.

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