A ordenação do primeiro padre cego no Quênia ajudará a mostrar às pessoas que "a deficiência não é incapacidade", disse o arcebispo de Nyeri, dom Anthony Muheria.

Em uma mensagem enviada à ACI África, agência do Grupo ACI para o continente africano, o arcebispo de Nyeri refletiu sobre a ordenação sacerdotal do padre Michael Mithamo King'ori, que perdeu a visão enquanto servia como diácono.

“Este novo sacerdote, padre Michael, nos ajudará a apreciar, de uma maneira muito nova, a capacidade, a 'faculdade' de pessoas que podem ter alguma deficiência devido a [suas] situações”, disse dom Muheria um dia depois de celebrar a ordenação sacerdotal.

O arcebispo afirmou que a ordenação sacerdotal do padre Mithamo King'ori "é motivo de grande alegria porque, apesar da sua limitação, apesar dos obstáculos que teve de enfrentar, veio testemunhar que a deficiência não é um obstáculo para responder ao chamado de Deus, que a deficiência não é incapacidade".

O arcebispo disse que a ordenação do primeiro padre cego do Quênia "é um grande chamado de atenção" para que todos possam dar oportunidades às pessoas com deficiência.

"Muitas pessoas que podem não ter as habilidades normais que valorizamos são altamente dotadas de muitas outras formas que as tornam muito eficazes no ministério, na evangelização e no cumprimento do chamado que receberam. Claro, é nosso dever garantir que estão bem preparadas", disse.

Padre Mithamo King'ori foi ordenado sacerdote com outros cinco diáconos durante missa celebrada no terreno da Escola Primária St. John Bosco, em Kiamuiru, na presença do arcebispo emérito de Nyeri, dom Peter Kairu, membros do clero que exercem seu ministério na arquidiocese, religiosos e leigos.

Em uma mensagem de áudio de 15 de janeiro, dom Muheria disse que a histórica ordenação sacerdotal na nação da África Oriental “é também um momento para aceitar que as deficiências são dons que Deus dá para que essas pessoas possam desenvolver outros novos dons e enriquecer nossa sociedade”.

“Quando Nosso Senhor caminhava pelas ruas de Jerusalém, da Galileia, de Nazaré, onde falava às multidões, tinha sempre um olhar especial para os necessitados”, afirmou.

O membro do Opus Dei, que iniciou seu ministério episcopal em janeiro de 2004 como bispo da diocese queniana de Embu, disse considerar lamentável que um setor de pessoas com deficiência seja discriminado.

O arcebispo também questionou a condição das instalações de muitas instituições dedicadas ao atendimento de deficientes.

“Muitas das nossas crianças naqueles lugares, nas escolas, não recebem a dignidade que lhes corresponde. Os banheiros estão mal feitas, os cuidadores são poucos, os professores enviados para lá são muito poucos”, disse dom Muheria, acrescentando que existem muitos obstáculos que limitam a supervisão de escolas e instituições especiais.

“As famílias das crianças com deficiência foram esquecidas, mas precisam de apoio social e econômico”, disse.

“Vamos, pelo menos, visitar regularmente as casas das famílias com deficiências e as escolas das crianças com deficiências para ajudar, não só dando comida, mas para melhorar a infraestrutura, para caminhar com eles, para limpar”, disse. Mons Muheria.

E continuou: "Vamos dar mais atenção às pessoas com deficiência, então veremos o rosto de Cristo nelas. Aproxime-se dos marginalizados como pude; não passe ao largo. Estejamos presentes porque Cristo nos chama a estender a mão para nossos irmãos e irmãs”.

Em entrevista à Kenya Television Network (KTN) News, postada no YouTube na segunda-feira (16), padre Mithamo King'ori atribuiu sua vocação ao sacerdócio à graça de Deus e expressou sua gratidão a dom Muheria por lhe dar a esperança que ele precisava para seguir centrado na vocação dos seus sonhos.

"Não posso esquecer o arcebispo Anthony Muheria, que realmente caminhou comigo", disse à KTN News, após celebrar sua primeira missa no domingo (15).

O arcebispo “realmente me encorajou; nos momentos em que adoeci e desabei como se minha vocação, minha vida, tivesse chegado ao fim, não me abandonou”, disse.

"Ainda lembro que ele me apoiou muito bem com seu amor de pai, suas palavras de incentivo e até se atreveu a me dar um trabalho porque acreditava que eu tinha algo a oferecer”.

“Foi o Espírito de Deus quem realmente me manteve no discernimento da minha vocação, porque acredito que ter perdido meus olhos não significa que tenha perdido o sonho”, disse.

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“Através da oração, convenci-me de que existe uma diferença entre o problema que estou enfrentando e a vocação que está dentro de mim, aquilo a que Deus me chama a servir”, disse. “Fui convencido pela oração de que perder a visão não significa perder a vocação”.

O novo padre incentivou aqueles que convivem com algum tipo de deficiência a terem sempre a certeza da presença de Deus em suas vidas.

“Para as pessoas que podem ter algum tipo de deficiência, isso não significa o fim da vida. É importante, é imperativo saber que Deus já está ciente disso, e isso basta”, afirmou.

"Para os deficientes, para os deficientes físicos, para meus queridos irmãos e irmãs, nem tudo está perdido; concentre-se nos pontos fortes que vocês têm", acrescentou.

O novo sacerdote disse que, “se não têm mão, têm perna: andem; se não têm perna, têm mão: trabalhem. Se não têm ou se perderam a visão, têm um cérebro: usem-no ao máximo”.

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