Uma pesquisa recente revelou que no Uruguai apenas 38% da população se considera católica, uma porcentagem que contrasta com o resto dos países da América, onde a maioria afirma que professa o catolicismo.

O estudo, publicado em janeiro, foi realizado pela Opção Consultores do Uruguai. O Monitor Telefônico de Opinião Pública pegou uma amostra de 798 pessoas com 18 anos em nível nacional, com uma "margem de erro máxima de 3,5% para mais ou para menos com um nível de confiança de 95%".

Segundo o monitor, realizado entre novembro e dezembro de 2018, 38% da população afirma ser católica, 10% seguem outra confissão cristã, 9% professam outras religiões, 21% são ateus ou agnósticos, e 17% se percebem "crentes", mas sem seguir nenhuma religião.

Além disso, assinala que a religiosidade aumenta com a idade. 50% das pessoas com 60 anos ou mais afirmam ser católicas, mas esse número diminui para 28% na população entre 18 e 34 anos.

Da mesma forma, 38% dos católicos consideram a religião "muito importante". O percentual aumenta em cristãos não católicos (61%) e naqueles que praticam uma religião que não seja cristã (73%).

Segundo a pesquisa, 10% dos católicos frequentam a igreja semanalmente, a porcentagem aumenta para 43% nos fiéis de outras denominações cristãs, e para 55% nos fiéis de outras religiões.

Em declarações ao Grupo ACI, o diretor do Instituto de Sociedade e Religião da Universidade Católica do Uruguai, Néstor Da Costa, assinala que os resultados mostram que "estamos em um país atípico na América Latina em termos de religião".

Nesse sentido, a baixa porcentagem de fiéis pode ser devido ao "projeto político" que ocorreu no país há cem anos que separou a Igreja do Estado, mas com o objetivo de "erradicar a religião do cenário público por ser vista como obscurantista".

Essa mudança política implicou, por exemplo, que até hoje o Uruguai não celebra oficialmente o Natal, mas o "Dia da Família"; o dia 6 de janeiro não é a Festa dos Reis, mas "Dia das Crianças"; e a Semana Santa é a "Semana do Turismo".

"Houve também uma mudança de nome em várias cidades, cerca de 30 cidades passaram de nomes de santos a nomes seculares", acrescentou o sociólogo.

Da Costa, especializado em sociologia da religião, destacou que, desde o início do século XX, "estabeleceu-se uma cultura ‘laica’ muito forte, porém, a atitude frente ao religioso vem mudando e são poucos os setores que ainda querem que o religioso não apareça”.

Segundo o sociólogo, o principal desafio da Igreja Católica no Uruguai é "encontrar o lugar de onde dialogar".

Do ponto de vista legal, Da Costa sustentou que o sistema uruguaio "é muito protetor da confissão religiosa, então nada impede que um católico seja católico... o limite é mais cultural, onde costumavam ser ‘mal vistos’".

"Acredito que a Igreja Católica no Uruguai tenha a oportunidade de dialogar com uma sociedade precocemente secularizada. A chave é saber como se posicionar diante desta secularização que não tem retorno e que é a tendência em todo o mundo”, concluiu.

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