Em uma carta aberta publicada em 2 de setembro, o Bispo de Ratisbona (Alemanha), Dom Rudolf Voderholzer, criticou o esboço sobre o papel das mulheres elaborado no polêmico processo sinodal realizado pela Igreja no país, e especificou que o texto "carece de qualquer nível teológico."

O processo sinodal é uma iniciativa polêmica que reúne leigos e bispos na Alemanha para debater quatro temas gerais: a forma como o poder é exercido na Igreja, a moral sexual, o sacerdócio e o papel das mulheres.

A CNA Deutsch, agência em alemão do Grupo ACI, informou que a crítica do Bispo de Ratisbona se refere ao texto elaborado pelo grupo de trabalho "A participação das mulheres na liderança nas atuais condições do direito canônico" que faz parte do Fórum III “Mulheres e ministérios”. O Prelado, especialista em dogmática, expressou preocupação com as referências aos sacramentos.

“Minha surpresa foi ainda maior quando li no texto: 'Jesus tem discípulos, não consagra ninguém'. Qual é o sentido desta declaração? Portanto, também se teria que dizer a este nível: ‘Jesus não nomeia ninguém, nem vá à Missa aos domingos, etc.’" O fato de os sacramentos pertencerem à Igreja posterior à Páscoa está obscurecido. Ignora-se o fato de que há uma reflexão muito diferenciada na teologia sobre a questão da instituição dos sacramentos”, escreveu o Bispo.

Dom Voderholzer disse que o esboço representa uma ruptura com o "procedimento acordado". Além disso, protestou que apesar de ser membro do Fórum III, por "razões de tempo" não pôde comentar essa parte do texto, depois que o grupo editorial introduziu as alterações. "Eu protesto contra este procedimento", expressou.

O Prelado questionou se o texto “tenta usar uma teologia falsificada da Bíblia para guiar os participantes nas conferências regionais em uma determinada direção”.

"Tenho de admitir que tal conduta me decepcionaria muito", acrescentou. “Que espírito teria por trás disso? Não queremos ser todos colaboradores da verdade, especialmente nas deliberações do processo sinodal?”, perguntou.

Quando os bispos alemães anunciaram a realização do processo sinodal, inicialmente disseram que as conclusões seriam vinculantes, o que teve como consequência a intervenção do Vaticano.

Em junho de 2019, o Papa Francisco enviou uma extensa carta aos católicos na Alemanha, pedindo que se centrassem na evangelização diante da "crescente erosão e deterioração da fé". Apesar disso, nenhum dos fóruns do processo sinodal trata do tema da nova evangelização.

Dom Georg Bätzing, novo presidente do Episcopado, discutiu o processo sinodal com o Papa Francisco em uma audiência privada em 27 de junho. Depois do encontro, o Prelado disse que se sentiu “fortalecido pelo intenso intercâmbio com o Santo Padre para continuar o caminho que percorremos. O Papa aprecia este projeto, que associa intimamente ao conceito de ‘sinodalidade’ que ele ressalta”.

A audiência aconteceu um dia depois que a Igreja na Alemanha revelou uma queda recorde no número de membros em 2019.

No entanto, a Igreja na Alemanha recebeu mais dinheiro em impostos do que em 2018.

Em sua carta aos católicos da Alemanha, o Papa Francisco escreveu: “Cada vez que uma comunidade eclesial tentou resolver seus problemas sozinha, confiando apenas em suas próprias forças, métodos e inteligência, sua vontade ou prestígio, terminou multiplicando e alimentando os males que desejava superar”.

Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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