Num comunicado oficial, o Patriarca Latino de Jerusalém, dom Pierbattista Pizzaballa, disse que a violência que ocorre nestes dias em Jerusalém atenta contra a “santidade do povo”, e chamou a tomar medidas urgentes para restaurar a paz.

No comunicado, dom Pierbattista Pizzaballa disse que “todos os responsáveis ​​pelas igrejas estamos 'profundamente consternados e preocupados com os recentes episódios de violência em Jerusalém Oriental, tanto na Mesquita de al-Aqsa quanto em Sheikh Jarrah, já que violam a santidade do povo de Jerusalém e a de Jerusalém como Cidade da Paz’”.

Desde 7 de maio, a Cidade Velha de Jerusalém, em particular o bairro árabe, vem sofrendo com confrontos violentos entre manifestantes palestinos e as forças de segurança de Israel, que resultou em mortos e feridos entre palestinos e israelenses.

O controle de Jerusalém, especialmente da Cidade Velha, é um dos motivos da disputa entre israelenses, judeus em sua maioria, e palestinos, árabes majoritariamente muçulmanos.

Os confrontos ocorreram depois que a Suprema Corte de Israel decidiu despejar dezenas de famílias palestinas do distrito de Sheikh Jarrah, um bairro predominantemente árabe localizado em Jerusalém Oriental, a cerca de dois quilômetros da Cidade Velha.

Diante dos protestos, a polícia israelense fechou as vias de acesso a Jerusalém, impedindo a entrada dos ônibus que transportavam muçulmanos até a mesquita de Al Aqsa, o terceiro lugar sagrado do mundo islâmico, localizado na Esplanada das Mesquitas.

Também chamado de Monte do Templo, o local é o mais sagrado para os judeus por abrigar as ruínas do templo judaico.

A tensão foi exacerbada porque os confrontos começaram na última sexta-feira do Ramadã -mês sagrado do Islã-, dia 7 de maio e, no domingo, 9 de maio, Israel celebrou o Dia de Jerusalém, feriado que comemora a conquista de Jerusalém Leste – e com isso a Cidade Velha – por Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967.

Houve confrontos também em Haifa, ao norte de Israel, e Ramala, na Cisjordânia.

Em relação à decisão da Suprema Corte, dom Pizzaballa disse que "o despejo forçado de palestinos de suas casas em Sheikh Jarrah é outra violação inaceitável dos direitos humanos básicos e do direito a uma casa".

“Para os habitantes da cidade é uma questão de justiça viver, rezar e trabalhar, cada um segundo a sua dignidade”, disse. “Dignidade concedida à humanidade pelo próprio Deus”.

Para o bispo, o conflito atual não tem a ver com “uma disputa entre particulares em torno a uma propriedade”, objeto da decisão da Suprema Corte de Israel. “Trata-se de mais uma tentativa inspirada em uma ideologia extremista que nega o direito de existir àqueles que vivem em suas próprias casas”, pensa o patriarca.

O patriarca citou o “Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que afirmou que o Estado de Direito 'aplica-se de forma intrinsecamente discriminatória’” em Israel. Isso “se converteu em um dos pontos mais críticos das crescentes tensões em Jerusalém em geral”, disse Pizzaballa.

O bispo também criticou o fechamento do acesso a al-Aqsa. “A violência usada contra os fiéis mina sua segurança e seu direito de acesso aos locais sagrados e de rezar em liberdade”, disse.

Segundo o patrirca “o direito de acesso aos lugares sagrados também tem um significado particular”, já que abril é uma das épocas mais sagradas do ano para os muçulmanos. "Os fiéis palestinos tiveram o acesso negado à mesquita de al Aqsa durante este mês de Ramadã", enfatizou.

Nesse sentido, afirmou que “estas manifestações de força ferem o espírito e a alma da Cidade Santa, cuja vocação é ser aberta e acolhedora, ser uma casa para todos os fiéis, com igualdade de direitos, dignidade e deveres”.

O Patriarca Latino de Jerusalém reafirmou que, historicamente, as Igrejas de Jerusalém têm uma “postura clara quanto à denúncia de qualquer tentativa de fazer de Jerusalém uma cidade exclusiva para alguns”.

Ele explicou que “trata-se de uma cidade sagrada para as três religiões monoteístas e, com base no direito internacional e nas resoluções pertinentes das Nações Unidas, é também uma cidade na qual o povo palestino, formado por cristãos e muçulmanos, tem o mesmo direito de construir um futuro baseado na liberdade, igualdade e paz”.

Por isso, exortou as autoridades a proteger a Cidade Santa e os direitos de todas as pessoas que nela habitam. "Pedimos que se respeite plenamente o status quo de todos os lugares sagrados, incluindo o complexo da mesquita de al-Aqsa”, disse.

“A autoridade que controla a cidade deve proteger o caráter especial de Jerusalém, chamada a ser o coração dos credos que derivam de Abraão, um lugar de oração e reunião, aberto a todos e onde todos os crentes e cidadãos, de todas as crenças e denominações, podem se sentir 'em casa', protegidos e seguros”, acrescentou.

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A Igreja Católica é clara ao afirmar que "para a paz é necessária justiça"m disse o patriarca. Por isso, alertou que “enquanto os direitos de todos - israelenses e palestinos - não forem defendidos e respeitados, não haverá justiça e, portanto, não haverá paz na cidade”.

“É nosso dever não ignorar a injustiça ou qualquer agressão à dignidade humana, independentemente de quem as cometa”, afirmou.

Por fim, pediu a intervenção da comunidade internacional, das Igrejas e de todas as pessoas de boa vontade para "pôr fim a essas provocações" e exortou os fiéis a continuar rezando junto com o papa Francisco pela paz em Jerusalém.

“Unimo-nos em oração à intenção do Santo Padre Francisco, que espera que “a identidade multirreligiosa e multicultural da Cidade Santa seja respeitada e que a fraternidade possa prevalecer”, concluiu.

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