“Deixamo-nos mover principalmente pelo Espírito Santo ou pelo espírito do mundo? O Espírito Santo ou a paixão do momento? Esta é uma pergunta que todos nós devemos fazer, especialmente nós, os consagrados”, disse o papa Francisco na missa celebrada hoje, 2 de fevereiro, por ocasião da Festa da Apresentação do Senhor e do Dia Mundial da Vida Consagrada.

“Enquanto o Espírito leva a reconhecer Deus na pequenez e fragilidade de uma criança, nós às vezes corremos o risco de conceber nossa consagração em termos de resultados, de metas e de sucesso. Movemo-nos em busca de espaços, notoriedade, números. O Espírito, por outro lado, não nos pede isso”, afirmou o papa.

“Às vezes, mesmo por trás da aparência de boas obras, podem ocultar-se o vírus do narcisismo ou a obsessão pelo protagonismo. Em outros casos, mesmo quando realizamos tantas atividades, parece que nossas comunidades religiosas se movem mais por repetição mecânica, fazer as coisas por costume, só por fazê-las, do que pelo entusiasmo de entrar em comunhão com o Espírito Santo. Examinemos nossas motivações interiores, discirnamos as moções espirituais, porque a renovação da vida consagrada passa primariamente por aqui”, disse o papa.

“Perguntemo-nos quais são as motivações que movem o nosso coração e a nossa ação, qual é a visão renovada que estamos chamados a cultivar e, sobretudo, estreitemos Jesus com os nossos braços”, convidou.

Ao refletir sobre a passagem evangélica que narra a apresentação do Senhor no templo, o papa destacou que "mesmo quando experimentemos dificuldades e cansaços, sejamos como Simeão e Ana, que esperam pacientemente a fidelidade do Senhor e não se deixam roubar a alegria do encontro com Ele. Coloquemos no centro novamente a Ele e sigamos adiante com alegria”.

Em seguida, o papa destacou a fidelidade de Simeão e Ana, que “vão ao templo todos os dias, todos os dias esperam e rezam, mesmo que o tempo passe e pareça que nada acontece. Esperam a vida inteira, sem desanimar nem reclamar, mantendo-se fiéis a cada dia e alimentando a chama da esperança que o Espírito acendeu em seus corações”.

Para o papa, “em muitos encontros com Jesus nos Evangelhos, a fé nasce do olhar compassivo com que Deus nos olha, quebrando a dureza do nosso coração, curando as suas feridas e dando-nos um novo olhar para ver a nós mesmos e ao mundo”.

Francisco convidou a ter “um olhar novo para nós mesmos, para os demais, para todas as situações que vivemos, inclusive as mais dolorosas”.

“Não se trata de um olhar ingênuo, que foge da realidade ou finge não ver os problemas, mas um olhar que sabe 'ver dentro' e 'ver além'; que não fica nas aparências, mas também sabe entrar nas fissuras da fragilidade e do fracasso em descobrir nelas a presença de Deus”.

O papa perguntou: “Temos o olhar posto no passado, nostálgicos do que já não existe ou somos capazes de um olhar mais clarividente, projetado para o interior e para além?”

“O Senhor não deixa de nos dar sinais para nos convidar a cultivar uma visão renovada da vida consagrada. Não podemos fingir que não os vemos e continuar como se nada tivesse acontecido, repetindo as coisas de sempre, arrastando-nos pela inércia nos caminhos do passado, paralisados pelo medo da mudança. Abramos os olhos: o Espírito Santo nos convida a renovar nossa vida e nossas comunidades”, afirmou.

Por fim, o papa Francisco exortou-nos a recordar sempre que "Jesus é o essencial, é o centro da fé" para não correr "o risco de nos perdermos e dispersarmos em mil coisas, de nos concentrarmos nos aspectos secundários ou nos nossos assuntos, esquecendo que o centro de tudo é Cristo, a quem devemos acolher como Senhor da nossa vida”.

“Se acolhemos Cristo de braços abertos, acolheremos também os outros com confiança e humildade. Assim, os conflitos não exasperam, as distâncias não dividem e desaparece a tentação de intimidar e ferir a dignidade de qualquer irmã ou irmão. Abramos, portanto, os braços a Cristo e aos nossos irmãos e irmãs”, disse o papa.

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