O papa Francisco disse estar preocupado com “uma reação contra o moderno”, ou o que chama de “indietrismo”, palavra que inventou a partir do italiano, que pode ser traduzido como “paratrasismo” em português. É por isso que restringiu, com o motu próprio Traditionis custodes, de 2021, a celebração da missa tradicional anterior à reforma do Concílio Vaticano II, disse ele aos jesuítas com que se reuniu em 29 de abril durante sua viagem à Hungria.

Francisco sempre mantém um encontro privado com jesuítas em todos os países que visita. Depois, a revista jesuíta La Civiltà Cattolica publica uma edição da conversa. O texto da reunião foi publicado na terça (9) pela revista.

Os comentários de Francisco sobre a celebração da missa em latim foram motivados por uma questão sobre a reconciliação entre a Igreja e o mundo moderno, conforme discutido no Concílio Vaticano II.

“Eu não saberia responder isso teoricamente, mas certamente sei que o concílio ainda está sendo aplicado. Dizem que demora um século para um concílio ser assimilado”, disse o papa. “E eu sei que a resistência aos seus decretos é terrível. Há um apoio incrível para o restauracionismo, o que eu chamo de 'paratrasismo'. Como diz a Carta aos Hebreus (10,39): 'Mas nós não pertencemos aos que retrocedem' ”.

“O fluxo da história e da graça vai das raízes para cima como a seiva de uma árvore que dá frutos. Mas sem esse fluxo você continua uma múmia. Andar para trás não preserva a vida, nunca”, disse.

“É preciso mudar, como escreveu São Vicente de Lérins em seu Comonitório ao observar que também o dogma da religião cristã progride, consolidando-se ao longo dos anos, desenvolvendo-se com o tempo, aprofundando-se com a idade”, disse Francisco.

Para o papa, as permissões concedidas por são João Paulo II e Bento XVI estavam “sendo usadas de modo ideológico”.

O “paratrasismo” é “uma doença nostálgica”, disse o papa.

Para combatê-la, ele ordenou que padres ordenados após 16 de julho de 2021, data de publicação da Traditionis custodes, precisem da autorização de seus bispos e da Santa Sé para celebrar a missa segundo os livros litúrgicos publicados antes de 1962.

“Após todas as consultas necessárias, tomei essa decisão porque vi que as boas medidas pastorais adotadas por João Paulo II e Bento XVI estavam sendo usadas de forma ideológica, para voltar para trás. Era necessário deter esse ‘paratrasismo’, que não estava na visão pastoral de meus antecessores”, disse o papa a um grupo de 32 jesuítas na Hungria.

Bento XVI, com a carta apostólica Summorum Pontificum em 2007, dava direito a todos os sacerdotes de rezar a missa usando o missal romano de 1962.

 

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